Margaret Vinci Heldt ficou conhecida mundialmente por ser a "criadora" do cabelo beehive,
ou penteado bolo de noiva na nossa tradução. A americana que tinha
origem italiana desde cedo mostrou habilidade com os fios. Em 1954,
venceria o concurso National Coiffure Championship em Michigan. O prêmio
traria renome ao trabalho da cabeleireira e de seu salão, o Margaret Vinci Coiffures, localizado em Chicago.
Artigo escrito por Lauren Scheffel
Edição Sana Skull
Com
evidência no mercado de beleza, anos depois, surgiria o convite da
revista Modern Beauty Shop - hoje, Modern Saloon - pedindo que a hair
designer criasse o novo look da década. "Nada aconteceu desde o twist francês, o pageboy e o flip. Eles me disseram: "você precisa vir com algo diferente", revelou ao jornal Chicago Tribune. E assim, em Fevereiro de 1960, estreava na publicação o cabelo beehive.
Ícone contemporâneo, Amy Winehouse ostenta seu famoso beehive.
A inspiração do penteado veio de um pequeno chapéu preto de veludo, um modelo fez,
que tinha uma fita vermelha e duas decorações nas bordas que pareciam
abelhas. O cabelo seria criado numa noite enquanto a família dormia.
Margaret desceu as escadas de sua casa, colocou uma música e começou a
trabalhar no manequim. No dia que apresentou oficialmente para revista, a
cabeleireira deu um toque final colocando um broche no cabelo da
modelo. Quando um dos repórteres viu o resultado, falou: "Isso simplesmente se parece com uma colmeia (beehive). Você se importa se nós o chamarmos de colmeia?". Pronto, estava batizado o penteado!
Margaret Vinci Heldt segura a foto de sua criação.
O
beehive consiste em envolver a cabeça em torno do movimento da coroa,
rolando suavemente a "franja" na direção das orelhas. Seu formato é
cônico e com uma leve ponta, literalmente uma colmeia, por isso a
associação. É necessário muito laquê para segurá-lo firme. Margaret brincava dizendo que avisava as suas clientes que não se importava o que
o marido fizesse do pescoço para baixo, contando que não as tocassem do
pescoço para cima. O penteado era feito para durar uma semana, um lenço
era enrolado em torno ao dormir para não bagunçar os fios.
A modelo Bonnie Strange, fotografada por Johannes Graf na 74 Magazine de 2012:
variação moderna do beehive.
No
Brasil, o modelo ficou conhecido como bolo de noiva. Mesmo com o
costume de se ver o penteado em festas, na época era usado no dia a dia
também. Dizem que quando as mulheres iam ao cinema, sofriam retaliações
de espectadores pois o penteado atrapalhava a visão de quem sentava
atrás, com pedidos mal educados de que se retirassem do local.
Apesar
de Margaret ser conhecida como a inventora, a verdade é que o estilo
já era visto no final dos anos 1950. Com a cabeleireira ele teria
ganhado o tamanho e a forma como conhecemos. O status chique foi coroado
quando Audrey Hepburn aparece no filme "Breakfast at Tiffany", ou
"Bonequinha de Luxo" (1961).
Estas versões bufantes do cabelo, acabaram se tornando uma versão mais simples e rápida do penteado.
Brigitte Bardot
Barbra Streisand, Mari Wilson.
Garotas na rua, foto de Ed van der Elsken.
Priscilla Presley também é muito lembrada por seus cabelos naquela década.
Na
própria década o cabelo já seria incorporado pelas jovens,
provavelmente influenciado pelas bandas de garotas sessentistas:
The Velvelettes
Mary Weiss da The Shangri-Las
The Marvelettes e Connie Francis
Diana Ross (The Supremes) e Aretha Franklin 
e as cantoras Mary Wells,
Dusty Springfield, Dolly Parton e Mari Wilson.
Conhecido pela maioria com o nome de beehive,
alguns também o denominam de B-52, pois o penteado lembra o nariz do
jato. Nos anos 1980, seria visto em diversas cores pela cantora Cindy
Wilson do grupo homônimo. Na mesma fase, a personagem Elvira mostrava a cara dark do aplique, que tinha como referência as The Ronettes.
Do
formato cônico em colmeia, o penteado sofre várias modificações, a mais
comum delas é ter o cabelo penteado erguido para cima e para trás,
versão simplificada do modelo original.
Quem não lembra dos penteados de Kate Pierson e Cindy Wilson do grupo B52´s?
... as musas inspiradoras The Ronettes
Antes de ser pioneira da cena punk, Debbie Harry usou beehive ainda adolescente e posteriormente como atriz, no filme Hairspray (1988, John Waters).
O cabelo de Kelly Osbourne se aproxima do colmeia original e
Katy Perry usa uma versão mais quadrada.
A punk Jordan em 1976 e Emily McGregor são exemplos do penteado sendo usado nas subculturas.
Desde a sua existência, o sucesso do penteado permanece ora no alternativo, ora no mainstream. Nos últimos anos, adquiriu status cult devido à Amy Winehouse. Naquele período o beehive aparecia muito no estilo clássico, à la
Audrey Hepburn. Quando Amy surge com o visual, a cantora se encontrava
numa fase super influenciada pelas girls bands dos anos 1960, citando
constantemente as garotas The Shangri-Las, apesar do estilo que usava
remeter mais às The Ronettes. Além do cabelo, o olho delineado de
gatinho e batom vermelho já vinha de tal década.
O
look virou marca registrada e como aquele estilo não era visto há muito
tempo pela mídia, ficou no imaginário que o visual dela era único, mas
na cena alternativa de Londres o cabelo sempre existiu para as que se
identificavam com a moda retrô, a diferença é que não ficaram famosas
como a cantora.
Amy revelaria: "Eu sou uma
pessoa muito insegura. Sou muito insegura em como pareço. Sabe, eu sou
música, não modelo. Quanto mais insegura me sinto, mais bebo. (...) E ao
Tracy Trash, que faz meu cabelo, digo: 'Maior, maior!' - quanto mais
insegura fico, maior tem que ser meu cabelo".
Quanto mais insegura, maior o beehive.
Em
entrevista para extinta Fashion TV, a blogueira Tavi Gevinson, ainda
adolescente, descobre que Margaret não gostava nada da versão
exagerada que Amy adotou do cabelo. A cabeleireira viveria até os 98
anos num asilo em Chicago, falecendo no dia 10 de Junho de 2016. Quantas
estórias um penteado pode contar, não?