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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Vestido Feminino da Era Império (molde)

Há uns dois anos atrás disponibilizei em meu blog sobre Moda Alternativa o molde de um vestido da era Império e vou repostá-lo aqui porque o Picnic Vitoriano SP divulgou seu calendário de eventos para 2014 e o único evento com dresscode mais restrito que eles fazem é Chá das Cinco que acontece no fim do ano. O Chá terá como tema o período do Império Napoleônico
Durante todo este ano postarei sobre a moda desta época para auxiliar os que querem participar do evento.
A moda feminina da Era Império é bastante adequada ao nosso clima e os vestidos são bem simples (post sobre a época). Eles eram muito finos, leves e as mulheres usavam nos pés sapatilha ao estilo bailarina. Sombrinhas, longas luvas, leques e bonnets eram os acessórios.
  • Estes são dois exemplos de vestidos femininos da época:

Abaixo, uma scan da página de um livro que apresenta um molde muito semelhante aos dos vestidos acima.
* Fico devendo o nome do livro, eu peguei a imagem no google books há algum tempo e esqueci de salvar o nome. Mas assim que eu identificar atualizo aqui.

Eu gosto deste molde, porque tem as medidas junto aos desenhos. Fiz umas anotações em roxo indicando de que parte da roupa é cada molde.
Podem observar que é muito simples. As roupas desta época são das mais fáceis de se fazer. Se vocês não sabem modelar, levarem a imagem pra uma modelista ou uma boa costureira, ela provavelmente vai saber reproduzir no seu tamanho. As medidas estão em inches, tudo o que vocês precisam fazer é converter inches para centímetro. Cada inche equivale a 2,54cm. Assim, onde diz 6" (inches): 6x2,54= 15,24cm.
Se você quer tentar fazer a modelagem, não esqueça que depois pode ser necessário fazer pequenos ajustes nas medidas (adequando à seu corpo).

 




quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Historicismo na Moda: Século XVIII e Século XIX (Parte 1)

Costumamos dizer que em moda tudo volta. As tendências aparecem e desaparecem com uma velocidade cada vez maior, fazendo com que o criador de moda busque fazer releituras do que foi usado em séculos passados. Heranças estéticas de diferentes épocas são misturadas às modas atuais; mas nem sempre foi assim. 
O historicismo entrou em voga apenas no final do século XVIII e teve seu auge no século XIX, especialmente nos trajes femininos. Durante todo o século XIX, vimos muitas releituras de trajes de outras épocas.

Antiguidade Clássica: 
No final do século XVIII, já havia uma admiração pela antiguidade clássica, visivelmente manifestada no Neoclassicismo. Por volta de 1795, houve uma maior influência na moda: as mulheres começaram a vestir-se com vestidos fluidos, em tons pastel, semelhantes às túnicas gregas e romanas. Veja mais detalhes no post Moda na Era Diretório, Império e Regência.

Os vestidos usados entre aproximadamente 1804 a 1815 tinham cintura alta (posteriormente denominadas "cintura império"), pequenas mangas bufantes e o vestido caía leve, imitando o caimento das túnicas gregas.
 

Vestidos de 1805 e 1810:



Gótico:
A partir de 1810, uma "Idade Média mania" varreu a sociedade na chamada "Era Romântica". É possivel que esse nome derive do fato de arte, literatura e música focarem em emoções e sentimentos ao invés da racionalidade. O início dessa onda romântica foi devido à uma apresentação de uma peça de Alexandre Dumas chamada “Henrique III e sua Corte”. Nasceu aí, uma febre historicista na população, a moda queria reviver a era medieval e o estilo Elizabetano. Elementos do estilo "gótico" começaram a entrar em voga, especialmente no traje feminino. 
Você pode ler mais detalhes sobre isso no post da Moda na Era Romântica.

Vale esclarecer que quando falamos na referência "gótica" do período romântico, abrangemos os séculos XII ao XVII mesmo sabendo que a moda gótica vai até o fim do Late Medieval (século XV). Então, tenham em mente que não é errado - no caso deste período do começo do século XIX - englobar todas as referências de moda do século XII ao XVII num só termo: "gótico".

A maioria dos elementos estéticos da era "gótica" emprestados aos trajes do começo do século XIX são dos séculos XVI e XVII, na verdade Eras Renascença e Barroca. Esta era a percepção que o público em geral fazia da Idade Média na época: mangas bufantes e saias que se abriam na barra.

A imagem abaixo compara a moda romântica com o retrato de Leonora di Garzia di Toledo de 1555. Reparem na similaridade das mangas, no corte pontudo do corpete e no formato da saia.


A cintura era um pouco mais acima da cintura original. Os vestidos se abriam levemente na barra como os vestidos das eras Tudor e Elisabetana.  Mangas bufantes tinham recortes e enchimentos que lembravam mangas renascentistas. Saias volumosas, decoradas e armadas com diversas anáguas. Na terceira imagem abaixo, notamos inclusive o uso de um rufo.


Um fato curioso são vestidos desta época feitos com tecidos do século XVIII. Estes tecidos eram caros e as mulheres faziam ou alteravam seus vestidos com eles, buscando tentar reviver o poder e a grandeza da França da época da Casa Bourbon, de Louis XV.

Vestido feito em 1827 mas com tecido dos anos 1770-1780.


Bertha Collar: 
A gola "Bertha" é uma gola ampla, caída sobre os ombros, e geralmente emoldurando um decote profundo. Entrou em voga a partir da segunda metade da década de 1830. Foi assim nomeada em homenagem a Bertha de Laon, mãe de Carlos Magno. Golas similares à esta também foram usadas na Era Barroca e nos anos 40 do século XX.

Bertha de Laon, rainha francos (reparem na gola "caída" próximo à mão) 
e um vestido de 1842.

Gola Bertha em vestidos do começo do século XIX:
 


Gola "Van Dyke":
Este é o nome dado (posteriormente) às golas das pinturas das obras de Van Dyck.
Este estilo de gola forma entradas profundas e pontas decoradas. 


 Vestido de 1860 e retrato da Rainha Henrietta Maria da França,
ambos com a gola "Van Dyck".

O formato da gola lembra a estampa deste vestido de 1865.


Rococó: 
Na segunda metade do século XIX,  características do estilo rococó foram adicionados aos vestidos da época. Mangas e corpete suavemente justos, rendas, decotes quadrados, sobre saia aberta sobre outra saia ou anáguas decoradas, babados na saia, laços...
Leia mais sobre a Moda na Era Rococó.

Vestido de 1880 e retrato da Marquesa Madame de Pompadour de 1759:
semelhanças aparentes.

Vestido de 1878 e um de 1880: mangas ajustadas, muitas rendas, babados e saia que "se abre" revelando a saia de baixo.
 

A prega Watteau (nas costas), no vestido original de 1770 conhecido como sack dress ou robe à la Française e em um vestido de 1890 do estilista Charles F. Worth:


Vestido Artístico: 
Uma nova onda de popularidade do historicismo se deu com a arte dos pré-rafaelitas. Os artistas dessa tendência na pintura Inglesa, iniciada em 1848, tinham admiração pelos modelos clássicos da Alta Renascença. Admiravam a arte dos mestres florentinos do Renascimento, artistas como Raphael e Michelangelo. Os Pré-Rafaelitas criaram um novo tipo de beleza nas artes visuais - uma imagem medieval do ideal de feminilidade: descontraído, calmo, misterioso. As mulheres em suas telas estavam sempre em vestidos esvoaçantes.

Arte pré-rafaelita do século XIX:

Os Primeiros vestidos artísticos, criados sob a influência das pinturas pré-rafaelitas apareceram em 1850. O termo "vestido artístico" foi cunhado pelos próprios artistas: eles chamavam assim os vestidos do século XIX de inspiração medieval. O vestido Artístico dá destaque à mangas longas e principalmente à silhueta livre, muitas vezes, sem espartilho. Porém, estes vestidos ganharam maior popularidade somente a partir da década de 1870.

Os vestidos ilustrados abaixo não eram a alta moda da época, e sim, eram populares entre as meninas boêmias, ou seja, meninas despreocupadas com as normas gerais da sociedade, com os ideais burgueses e com os bens materiais.

O primeiro vestido é de 1894 e lembra muito a silhueta medieval; o do meio é de 1891, reparem a cintura e o caimento leve e esvoaçante da saia. Já o terceiro vestido tem as mangas soltas e largas como as mangas medievais e a saia igualmente esvoaçante. Todos tem a cintura menos rígida que as cinturas da alta moda da época. 

 

Como eu já havia postado no Facebook sobre o quadro abaixo, aí vai a resposta para as meninas que participaram:
No quadro é possível notar duas garotas juntas à esquerda - uma de amarelo e outra de verde - e uma terceira de verde de costas, elas são garotas boêmias que usam vestidos artísticos. Há também uma garota à direita - de vestido rosa, usando um vestidos artístico com prega Watteau nas costas. As garotas do meio do quadro (sentadas e duas em pé à direita, uma de branco e outra de azul) usam a moda burguesa tradicional da época (1883).

A maior influencia da moda boêmia na moda dominante talvez tenha sido o rompimento com o hábito de se usar corsets. A partir disto, começaram a aparecer vestidos fluidos, com motivos medievais e que não exigiam o uso do espartilho amarrado de forma mais rígida. Estes vestidos costumam ser chamados de "vestidos de chá", e eram usados ​​em casa, com a família ou para receber amigos próximos.

Vestidos de Chá: "herança" da influência boêmia na moda: 
cinturas mais soltas, saias fluidas e motivos que lembram a era medieval



Diretório/Directoire: 
A moda inspirada na Era Directoire (1795-1799) entrou em voga no final de 1880, em resposta à exigência da moda por uma silhueta mais natural. Veja mais detalhes no post Moda na Era Diretório, Império e Regência.

Vestido de 1790 e vestido de 1888.


Mangas Gigot (gigot sleeves): 
Após a Exposição Universal de Paris em 1889, tornou-se evidente que o moderno estava tomando o lugar do historicismo na arte. Sob a influência de uma nova estética, aparece  um novo ideal da figura feminina, no lugar das saias drapeadas estreitas, surgem saias ajustadas em cima e largas embaixo. O historicismo neste momento aparece em enormes mangas bufantes nos ombros e braços, chamadas de "Gigot", inspiradas obviamente na moda Renascentista e que já haviam tido seu momento no começo do século, na moda romântica.

Obra de Bartolomeo Veneto de 1510 e vestidos de 1894 e 1895:
 

 As mangas gigot também tiveram seu momento na Era Romântica:

Gola Alta:
Em 1890 também voltou a moda da gola alta ou "em pé", mesmo nos trajes de verão onde elas eram feitas com renda. Inspiradas, é claro, nas golas e rufos do século XVI.

Retrato da Infanta Catalina Micaela da Áustria de 1585 e traje de 1890 com gola rufo:

O mais comum nos trajes do dia a dia era a gola alta enfeitada com renda.
 Trajes de 1897 e 1899:

Este assunto continua ...


Fontes e referências:
Este artigo foi traduzido, adaptado e acrescentado textos e imagens das seguintes fontes:
grupo Costume History do livejoural; Artistic and aesthetic dress in the context of the visual arts in England the second half of the XIX century; Innovation of Youth Science: Abstracts of the Scientific Conference of Young Scientists. St. Petersburg., 2011. 
Nineteenth Century Fashion in Detail, de Lucy Johnston.

terça-feira, 28 de maio de 2013

A Moda e o Tempo: A Revolução Romântica na Moda

Vocês já devem ter lido o post "A Lei de Laver - A Moda e o Tempo" que falava como fatores econômicos e sociais influenciam o gosto e as escolhas de moda dos indivíduos. Nesta postagem volto a abordar a relação entre Moda e Tempo, mas sob outro ângulo.
Embora os indivíduos tenham sido censurados por se vestirem como jovens ou velhos demais, às vezes a própria moda cometeu o mesmo crime. Em determinados períodos da historia, toda uma geração de carneiros - sem mencionar alguns lobos - usou roupas de cordeiro. Em algumas épocas, os estilos que prevaleceram para homens e mulheres sugeriam maturidade avançada, dando aos jovens uma aparência de meia-idade. 
Essas mudanças na moda não são arbitrárias e extravagantes e sim, o sinal externo e visível de profundas alterações sociais e culturais. A adoção de estilos juvenis nunca envolve a roupa isolada. Invenção, experimentação, novidade e acima de tudo juventude, entram na moda e a própria moda começa a imitar as roupas de crianças. Às vezes os estilos copiados são contemporâneos, com frequência são aqueles que a última geração de adultos usou quando era jovem. Ao vestir estes estilos, os indivíduos comunicam graficamente que se recusam a se colocar no lugar de seus pais ou a se parecer com eles de alguma maneira.

Veja as outras partes desta sequência:
A Moda e o Tempo Parte 1: A Revolução Romântica na Moda
A Moda e o Tempo Parte 2: Os Primeiros Vitorianos
A Moda e o Tempo Parte 3: O Homem Vitoriano e sua Barba
A Moda e o Tempo Parte 4: Mulheres Vitorianas

 
A Revolução Romântica na Moda 

No século XVIII as roupas eram - e foram durante muito tempo - extremamente formais, rígidas e elaboradas. As pessoas ricas dos dois sexos vestiam trajes com enchimentos, barbatanas, fitas, enfeites e bordados. Os pés eram apertados em sapatos de salto e bico fino. As cabeças dos homens recebiam o peso das perucas e cacheadas; as das mulheres, construções complicadas de cabelo verdadeiro e falso que podiam levar horas para serem realizadas e às vezes atingiam alturas surpreendentes (são vistas nos retratos de Maria Antônieta e das mulheres de sua corte). 

A moda extravagante feminina tinha trajes com armação lateral nas saias, enfeites e penteados elaborados. Os homens, igualmente enfeitados com babados, bordados e grandes perucas.



Alguns homens foram longe, com o estilo "macaroni", originado por volta de 1770 por jovens ingleses que viajavam para a Italia. Em suas cabeças um penteado pompadour extravagante.





1880: traje feminino mais simples

A mudança para estilos mais infantis e simples ocorreu na época das revoluções francesa e americana, e foi uma manifestação da mudança politica, social e cultural. Mesmo antes de 1776, o movimento romântico, com ênfase no simples e natural, começou a se refletir no modo de se vestir.

Foi especialmente evidente na Inglaterra, onde franzidos e rendados para homens e enormes armações laterais de saias para as mulheres começaram a desaparecer na década de 1770. A moda americana obedeceu a inglesa embora à certa distância como acontece nas províncias. 

Na França, a extravagância e o excesso de adornos continuaram até a véspera da Revolução quando o Terceiro Estado aboliu a distinção de classes na maneira de vestir* e aristocratas aterrorizados abandonaram suas armações e jóias. Em uma crise, as pessoas tem menos tempo de comprar ou desenhar novas roupas. Uma vez passada a crise, foram introduzidos estilos mais simples, primeiro imitando os já existentes na Inglaterra, depois levados ao extremo.

Por volta de 1800, mulheres e homens usavam o tipo de roupa que deviam ter vestido em crianças: vestidos de musselina branca, decotados, de cintura alta para as mulheres; casacos simples, sem adornos, calças brancas e marrom claras para os homens. As perucas e penteados elaborados cederam lugar a um cabelo mais curto, de aparência mais natural. As saias ergueram-se do chão, revelando tornozelos cobertos por meias brancas infantis e sapatilhas sem salto para os dois sexos. Os poemas de Blake Wordsworth proclamavam a virtude e a nobreza naturais da infância. Estes trajes tinham a energia, espontaneidade e sensibilidade romântica infantil daqueles que os vestiam (continua...).

De fins do século XVIII a começo do século XIX, os homens abandoram os adornos por um estilo mais simples, inclusive nos cabelos: 



As mulheres passaram a usar roupas com aparência infantil: longos vestidos de musselina com a cintura alta e sem os corsets que delimitavam a cintura (meninas crianças ainda não tem cintura), o que dava à elas uma aparência juvenil, pareciam ser mais jovens que suas idades verdadeiras.



* Diferente de hoje que temos uma moda mais democrática e acessível, antigamente as roupas diferenciavam claramente as classes sociais.


O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
Fonte: livro A Linguagem das Roupas
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.

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