Destaques

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Era Barroca: A mulher e a Moda Feminina

Na Era Barroca, embora as mulheres se tornassem mais liberais, ainda não podiam participar ativamente da vida política e comercial, mas foram encorajadas a expressar livremente suas ideias com a introdução no século XVII, do "salão", que era uma reunião de um grupo de pessoas com ideias semelhantes num ambiente doméstico.
Escritores, jornalistas e outras pessoas fofocavam, trocavam ideias e promoviam suas carreiras. Estes espaços eram criados, em geral, por mulheres ricas como Lady Caroline Holland e as Madames de Stael, de Chevreuse e de Sévigné. 

Retrato de Madame Sévigné: seu vestido simples reflete o novo estilo barroco: 
mais natural, sóbrio e elegante que as extravagâncias renascentistas. 

As opiniões das mulheres começaram a ter mais importância, filósofos como René Descartes e Poullain de la Barre introduziram novas teorias sobre gênero. Descartes acreditava que o corpo e a alma eram separadas, já de la Barre acreditava que a alma não tinha gênero, assim, se as mulheres recebessem a mesma educação que os homens,os "vicios femininos" seriam reduzidos. Esses debates em salões e na corte não chegavam a todas as camadas da sociedade. Se as mulheres trabalhassem, elas ganhavam menos que os homens, casais lésbicos viviam como homem e mulher onde uma delas se vestia de homem. Casamento e criação dos filhos eram a principal função da mulher barroca. As mulheres ricas já tinham acesso à cirurgiões na hora do parto; a melhor alimentação garantia o desenvolvimento dos filhos e já se fazia controle de natalidade.

O aumento da classe media acelerou a moda. A partir de 1650 a moda francesa dominou a europa substituindo a influência espanhola, os vestuário começou a ser feito mais como um terno ou um conjunto, chamados de en suite: o corpete, a anágua e o vestido eram do mesmo tecido e usados juntos. A forma da França espalhar sua moda foi através de manequins em tamanho humano que eram apresentados aos monarcas de vários países. O vestuário feminino e masculino também passam a se diferenciar de forma mais marcada assim como houve a volta da sazonalidade: tecidos leves no verão e os pesados  no inverno.

Entre 1672 e 1674 o formato e ornamentação das mangas mudou pelo menos sete vezes. Assim como na arte, a moda barroca era fluida com silheuta mais natural e sóbria com joias simples. O conforto passou a ser considerado e começava a refletir características individuais, a opinião do cliente importava na confecção do vestuário.

O decote profundo era chamado de décolletage, era aberto e amplo e exibia um busto elevado que podia ser coberto com uma gola de renda. Essa liberdade maior no corpo refletia também uma descoberta feita em 1628 por Willian Harvey: da circulação sanguínea, assim, haviam debates sobre o uso do espartilho muito justo visando descobrir se ele era o causador de dores e sensações desagradáveis nas mulheres. Acaba que são abandonados todos os fixadores de madeira que eram usados dentro das roupas femininas. E o espartilho também se torna mais curto e menos engomado. Os quadris continuam acolchoados e com uso de saias como anáguas de volume. 


Casacos de seda curtos e acinturados e mangas no antebraço com rendas no punho.

 

A transição visual entre o corpete e a saia da mulher era bem menos dramática que na era renascentista.

Em 1670 introduziu-se o robe de chambre, um substituto casual do vestido formal também conhecido como mantua. Tinham mangas e punhos na altura dos cotovelos e ficou pelo menos um século na moda. Depois vem o vestido sacque ou robe à volante aberto na frente e levemente cilhado na cintura. Em versaillhes as mulheres suavam três saias, sendo que a última tinha uma cauda longa que era carrega da por um pajem.

Havia grande demanda por pérolas que eram usadas em todo lugar: cabelos, mangas, roupas, e em brincos simples em formato de gota.
 
 
 

Na época acreditava-se que a água era nociva à pele, por isso elas esfregavam suas peles em toalhas para diminuir os odores e trocavam a roupa de baixo, branca, com frequência. O perfume era o substituto do banho, disfarçava odores e era carregado em caixinhas presas à cintos ou correntes no pescoço ou em sachês em tafetá com pós perfumado. Inclusive os ambientes eram aromatizados. Tudo era perfumando! Dos dentes limpos com pastilhas aromáticas à lenços e cachorros de estimação.

Luvas também eram perfumadas

Lábios vermelhos, sobrancelhas escuras e delineadas e olhos claros eram o ideal de beleza. Nos cabelos, o ideal eram pretos ou castanhos com cachos até os ombros ou nas laterais do rosto. Os calçados femininos e masculinos eram semelhantes, sendo pras mulheres mules e tamancos em seda ou cetim.
O vestuário feminino barroco variava de cada país, por exemplo na Inglaterra manteve traços renascentistas por um bom tempo e na Holanda era mais austero com cores escuras e golas fechadas em rendas.



domingo, 9 de agosto de 2015

As Sufragistas e a Moda como ferramenta política

No post anterior, falamos sobre a “Moda Alternativa” usada por mulheres que rompiam padrões sociais no século XIX. E tanto essas mulheres quanto a roupa que elas usavam foram precursoras do que viria a ser um novo comportamento feminino frente à sociedade no século seguinte. O acesso ao trabalho quanto a educação deram à elas a necessidade de se sentirem representadas politicamente e o voto era o meio delas conseguirem essa representação. Uma luta que se travou por quase um século, através de movimentos feministas que foram, no fim do século XIX, chamados de Movimento das Sufragistas.
Tem sido dito que a forma como você se veste diz muito sobre o que você acredita. Os exemplos a seguir mostram a Moda como poderosa ferramenta política que interage com questões importantes da sociedade.


As Sufragistas

A luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres sempre existiu, pelo menos desde a antiguidade clássica. Mas as mulheres sempre foram de alguma forma caladas, queimadas ou decapitadas. No começo do século XIX, à medida que mais mulheres eram alfabetizadas e frequentavam universidades, passaram querer intervir na esfera pública.

A lei dizia que "pessoas do sexo masculino" podiam votar, o que excluía mulheres de sua cidadania. Muitas delas já tinham cursos superiores e a educação as fazia conscientes de um desejo de lutar por seus direitos políticos e sociais, assim, em 1848, foi criado em Nova Iorque o National Woman Suffrage Association (NWSA), primeiro movimento feminista organizado pelo direito ao voto feminino. A consciência "feminista" sobre cidadania política plena para as mulheres, tinha uma de suas raízes na Reivindicação dos Direitos da Mulher, de Mary Wollstonecraft, publicado em 1792. 




Os homens que eram contra o direito da mulher ao voto, diziam que o lugar delas era em casa, que elas eram ignorantes e não saberiam votar ou que a presença delas no parlamento seria a ruína da nação, já que elas não eram capazes de entender sobre política.
Em 1906, o jornal Daily Mail, cunha o termo “suffragette” como uma maneira depreciativa de descrever as mulheres mais militantes.
Como citamos no
post anterior, as mulheres queriam o direito de usar calças, tinham o desejo de trabalhar fora, e a ideia masculina de que feministas eram mulheres feias ou solteironas, são observados nos cartoons abaixo, como uma forma de zombar das Sufragistas.

"Ninguém me ama, acho que serei uma suffragette" - a garotinha veste calças.
"O lugar da mulher é na casa dela" - aponta um rapaz à garota.
"Origem e desenvolvimento de uma Suffragette. Aos 15 uma mimadinha; aos 20 uma coquete; aos 40 ainda não se casou! E aos 50, uma suffragette."


"O que eu faria com as sufragistas" - uma mulher presa na cadeira
"A mulher masculina" - critica a moda alternativa da época, que era o uso de camisa e paletó.
A sufragista no palanque é desenhada como uma mulher muito feia.
Abaixo, um homem se torna "mãe"; "Todo mundo trabalha menos a mãe: ela é uma suffragette. Quero votar mas minha esposa não deixa." e por fim, um cartoon escrito: "Dia da eleição" - a mulher sai de casa e o homem cuida de duas crianças ao mesmo tempo.

Sufragistas nas ruas panfletando ou fazendo campanha pelo voto feminino, elas acreditavam que a política precisava levar em conta os direitos das mulheres na sociedade.

A Moda como ferramenta política
Durante todo o século XIX, as feministas lutaram por roupas mais práticas, leves e funcionais. Por terem ousado vestir calças, eram agredidas na rua, chamadas de lésbicas e feias. Mas chegou um ponto que a geração feminista seguinte percebeu que eram julgadas demais pelo visual. Assim, resolveram mudar as regras do jogo: iriam vestir roupas elegantes justamente pra chocar e mostrar que elas não eram nada do que eles diziam e eram sim, também, mulheres muito bem vestidas!

Cansadas de não serem levadas à serio, as feministas dão um golpe (de estilo), passam a usar roupas elegantes pra bater de frente com os críticos que diziam que elas eram mulheres feias e mal vestidas.


Mas a roupa delas não era como a roupa das outras mulheres, elas fizeram escolhas deliberadas. A frase/slogan “Give Women Votes” (dê às mulheres o voto), foi a referência. Elas usaram as iniciais da frase associadas com cores: G (green), W (white) e V (violet). Assim, verde, branco e violeta seriam as cores da luta!

Roxo além de uma cor real, “o sangue real que corre nas veias de cada sufragista” era liberdade e dignidade; branco era a pureza na vida privada e pública; e verde, a esperança.
Usavam broches com estas cores ou jóias com pedras preciosas como ametista, pedra da lua ou esmeralda. A faixa que elas ostentavam no corpo também era tricolor. Assim, uma mulher reconhecia a outra na rua como parceira quando ambas ostentassem acessórios nos tons especificados.
As cores escuras nos trajes, quando usados, era pra simbolizar a sua seriedade de seus propósitos.



Exemplos de broches e jóias com as cores da luta pelo sufrágio.

Lojas de departamentos
Com seus trajes “alternativos” de luta, que identificavam umas às outras na rua, as sufragistas precisavam de um lugar para conversar sobre feminismo e debater suas ideias sobre seus direitos políticos. É aqui que entram as lojas de departamento.

Gordon Selfridge, proprietário da Selfridges, fundou sua loja em 1909 quando o movimento sufragista estava se tornando sucesso em Londres e o metrô trazia senhoras respeitáveis à cidade. Fazer compras era uma das poucas atividades que as mulheres podiam fazer fora de casa, percebendo isso, Selfridges abriu um café no topo do prédio da loja e instalou banheiros. Assim, as mulheres podiam passar o dia reunidas lá, conversando (e comprando).

O Sr. Selfridge era um importante apoiador do movimento feminista. Ele sabia que mulheres independentes seriam suas melhores clientes! As sufragistas se reuniam na loja e esta oferecia à elas as roupas necessárias para luta. Tudo a preços moderados.


Anúncios: "Selfridges apóia as Suffragettes". No texto é dito que já está à venda "o mais poderoso símbolo da emancipação feminina: o batom vermelho!"
À direita: "Itens interessantes de várias sessões e algumas nas Cores do Movimento."

O ano de 1912 foi o momento de virada para as Sufragistas britânicas: elas adotaram práticas mais violentas como se acorrentarem em grades, quebrarem vidraças de lojas que não apoiavam a causa, colocarem fogo em caixas de correio e até mesmo detonar bombas. O governo as espionava. Muitas foram presas. Na cadeia, algumas chegaram a fazer greve de fome.

Clique para aumentar a imagem.

"Mulheres trazem eleitores ao mundo. Deixem-nas votarem"

"Pedir liberdade para as mulheres não é um crime. 
Prisioneiras sufragistas não devem ser tratadas como criminosas"

 Sufragistas elegantemente vestidas

Organizadas por Alice Paul, em 1913, mais de 5 mil sufragistas marcharam em apoio ao voto feminino na capital americana. A marcha foi liderada por Inez Milholland Boissevain montada num cavalo branco. Grupos anti-feministas, irritados, tentaram perturbar o desfile em vários lugares.

Multidão hostil querendo parar o desfile. Mais de mil sufragistas foram hospitalizadas. Isso deu muita mídia e o governo precisou repensar a questão dos direitos femininos.



As marchas feministas continuaram mensalmente em cidades dos EUA e no Reino Unido nos anos seguintes.

Quando a Primeira Guerra Mundial estourou em 1914, o movimento do sufrágio diminuiu e a guerra acabou sendo uma grande oportunidade para que as mulheres assumissem empregos masculinos tradicionais nas mais diversas áreas.
Num protesto em 1918, Alice Paul foi presa, fez greve de fome e foi alimentada na cadeia de forma forçada com ovos enfiados pelo seu nariz até ela vomitar sangue. Ela foi colocada no sanatório e queriam declará-la como insana. Seu médico declarou: “Coragem nas mulheres é constantemente confundida com insanidade”.


Panfleto faz alusão ao que Alice Paul (à direita) passou na cadeia

Após esse acontecimento com Alice Paul, ao fim da guerra, ainda em 1918, as mulheres ganharam os mesmos direitos políticos que os homens na Inglaterra e as americanas conseguiram o direito em 1920.

Em 1916, uma sufragista americana usa calças super justas e saia com fenda num dos desfiles de protesto.

No mesmo ano, Lady Florence Norman, anda na sua scooter.

Mas é importante lembrar que, após mais de um século de luta para garantir direitos políticos, as Sufragistas também lutavam pelo direito ao divórcio, ao direito à educação e à ter empregos que eram “masculinos” como o exercício da Medicina e Direito. O voto é de importância vital para alcançar amplos direitos das mulheres na esfera social.


Devido à violência racial e de gênero, haviam muitos linchamentos de pessoas negras. Assim, sufragistas como Ida Wells-Barnett (à esquerda), eram uma das feministas que acreditava que o direito ao voto era uma forma de lutar por uma representação política dos negros.

Acho que podemos aprender muito com as sufragistas e quem sabe a partir de agora, olharmos o voto, a política com outros olhos, pois diz respeito também à nossa posição como mulheres na sociedade. A luta delas não foi à toa, afinal, abriram tantas portas para nós no século XX...


Mais sobre:
Para saber sobre as sufragistas no Brasil, recomendo [este artigo].

Filme a ser lançado:
Sufragette. Com Carey Mulligan, Meryl Streep e Helena Bonham Carter.
"Não queremos ser infratoras das leis. Nós queremos fazer as leis!"



Em 2014, o filme Mary Poppins fez 50 anos! E não é que a mãe das crianças era uma suffragette? 





Artigo postado originalmente no site Moda de Subculturas

© .História da Moda. – Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in