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quinta-feira, 20 de junho de 2024

História da Moda e Feminismo (dicas de livros!)

Há algum tempo, pesquisadores de História da Moda tem estudado a indumentária sob uma perspectiva feminista. Pensando nisto, selecionei alguns livros que li sobre o tema podem auxiliar na construção de pensamento a respeito dessa temática.

Segue minha seleção, alguns contém a sinopse das editoras. Em alguns coloquei uma opinião breve, em outros não (demandariam mais tempo para desenvolver minhas observações sobre eles), apenas pontuei de forma bem objetiva.

Não vou conseguir colocar a capa de todos por falta de tempo, mas cliquem no link/nome do livro e serão redirecionados para a Amazon e lá tem a capa e o resumo!



A Criação do Patriarcado [link] e  A Criação da Consciência Feminista [link]

Acho ambas as obras fundamentais para entender a origem da opressão das mulheres e história das mulheres mas "A criação do patriarcado" tem linguagem acadêmica e pode não ser fácil manter a leitura por muito tempo para quem não está acostumada é um livro com muita fonte histórica. "A criação da consciência feminista" possui leitura mais aprazível.

O Cálice e a Espada [link]
Essa é minha sugestão pra quem quer iniciar uma leitura da origem da opressão das mulheres com linguagem simples e acessível. Eu adoro esse livro!

Pornland [link] 
Pesquisa pesada e que faz entender como chegamos nessa sociedade pornificada. 

Arqueofeminismo [link] 
Não sei se gosto do título (mas acho a capa linda) e sei que o livro foi escrito por um homem mas é muito bom no sentido de que trás os textos originais do século XVIII dos primórdios do feminismo. 

O Mito da Beleza [link] 
Um ensaio que possui suas críticas, mas não há o que negar que Naomi Wolf deu o primeiro passo para falar de como a exigência de beleza e feminilidade afeta as mulheres até hoje. Embora tenha um viés liberal, é fácil de associar com a vida real e pode colocar muitas mulheres no caminho do questionamento.


A Mística Feminina [link]
Esse é um livro de 1963, é uma pesquisa sobre mulheres brancas de classe média americanas. Qual é a importância disso? Foi a primeira vez que o problema da opressão das mulheres foi nomeado. É um clássico! A capa já dá uma ideia do conteúdo. Se você curte aquela ideia de pin-up, anos 50, retrô... aqui dá uma ideia de como as mulheres daquela época viviam.



O Ponto Zero da Revolução [link]
Para quem quer entender a divisão sexual do trabalho e o trabalho doméstico feminino.

Filósofas: O legado das mulheres na história do pensamento mundial [link]
Achei desnecessário o prefácio ter sido escrito por um homem. Esse é um livro escrito por uma mulher e sobre mulheres filósofas ao longo da história, não tinha uma filósofA pra prefaciar? Ficou parecendo necessidade de validação. Mas gosto muito desse livro, tem linguagem acessível e lembra as mulheres filósofas da antiguidade até atualmente.

O Contrato Sexual [link] 
Se você é estudante de direito ou já é advogada, juíza etc, você precisa ler esse livro. A autora mostra "que os teóricos do contrato social dos séculos XVV e XVIII calaram-se sobre o contrato sexual que estabelece o patriarcado moderno e a dominação dos homens sobre as mulheres". Ela destrincha tudo que os filósofos do contrato escreveram, mostrando como "se esqueceram" (de propósito) dos direitos mulheres.

Amar para Sobreviver [link] 
Esse é o livro que toda mulher heterossexual deve ler e dar de presente para as amigas e emprestar para as mulheres que conhece. Você não vai enxergar suas relações amorosas com homens da mesma forma depois de ler esse livro.

Contra Nossa Vontade [link] 
Capa lindíssima para falar de um tema espinhoso: um estudo profundo sobre estupro e como foi o processo de tornar isso crime nos EUA. Se você quer entender porque esse assunto é tão abafado: invista nessa leitura!

Material Girls [link]
Um livro que foi polêmico em seu lançamento pois fala sobre como a identidade de gênero se contrapõe aos direitos das mulheres e das lésbicas. Se você quer entender as questões que envolvem transativismo x feministas, esse é o livro que trás as explicações da diferença dos dois pensamentos. A descrição do livro no Amazon é ruim pois não dá a dimensão dos tópicos que o livro aborda, como por exemplo, a origem histórica das ideias, os conceitos e as contradições. Vale ver no Amazon as 4 imagens do sumário pra conhecer os tópicos. Acho a capa super legal.



Gênero, Patriarcado, Violência [link]
Livro excelente que destrincha conceitos citados. Recomendo pra quem já tem uma base teórica dos assuntos abordados pois é bem detalhista no debate conceitual. Nada impede que quem não tem base dos conceitos queira ler se se está disposta a dedicar um tempo a aprender.


Irmã outsider: Ensaios e conferências - Audre Lorde [link]
Difícil alguém ler e não se apaixonar por Lorde! Pode ser um divisor de águas na sua vida.

Por um feminismo afro-latino-americano [link]
Lélia Gonzalez foi uma das mais importantes intelectuais brasileiras do século XX, com atuação decisiva na luta contra o racismo e na articulação das relações entre sexo e raça no Brasil. E estes são textos produzidos de 1979 a 1994. Eu li esse livro em um dia, só para vocês terem uma ideia! (e a capa é linda!)

O perigo de uma história única [link]
Já pode chamar de "clássico"? Chimamanda  é maravilhosa em tudo que escreve. "Nosso conhecimento é construído pelas histórias que escutamos, e quanto maior for o número de narrativas diversas, mais completa será nossa compreensão sobre determinado assunto."

Cartas Lésbicas - Nicole Brossard [link]
Nicole coloca a lésbica como símbolo e materialização da liberdade feminina, este livro é composto de ensaios escritos entre as décadas de 1960 e 1980 seguindo a linha de pensamento feminista franco-anglófono. Não é só para lésbicas é para todas as mulheres interessadas em usos da linguagem.

Download Gratuito 

Zines QG Feminista (feminilidade, direitos reprodutivos, lesbianidade etc) [link]
Compensa MUITO baixar: de graça, linguagem facinha, dá pra imprimir e dar pras meninas da família. É permitido imprimir e distribuir e compartilhar link.

Marilyn Frye - Políticas da Realidade Ensaios sobre teoria feminista [link drive]
Lésbicas brasileiras traduziram esse livro com autorização da autora e nenhuma editora brasileira quis publicar. Lesbofeminismo é silenciado no Brasil, está aí um exemplo. Não é só para lésbicas é para todas as mulheres interessadas sobre teoria feminista. Compartilhem o link!


Se você já leu algum e quer contar o que achou, use os comentários!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Vestuário Alternativo Feminino no século XIX

O vestuário feminino usado no século XX, deriva dos estilos das mulheres da classe média e operária cujo comportamento não correspondia ao ideal feminino da elite vitoriana.

A industrialização retirou as mulheres de classe média e alta da participação ativa na economia, o ócio aristocrático era considerado a atividade apropriada para elas.
Embora sejamos bombardeados das lindas imagens dos trajes da elite vitoriana, um outro estilo, "alternativo", coexistiu  e foi largamente adotado, mas pouco falado. Ele incorporava ítens do vestuário masculino esportivo inglês como gravatas, chapéus (cartola, coco, palha, fedoras), paletós, coletes e camisas, isoladamente ou combinados entre si, mas sempre usados juntos com peças femininas da moda.

 Não encontrei fotos do vestuário alternativo na web, então escaneei algumas do livro
A Moda e Seu Papel Social: a senhora vestida de preto usa a roupa da moda dominante. As moças com camisa branca, gravata e chapéu, usam a "moda alternativa".

Ao contrario dos estilos propostos pelos reformadores do vestuário, o estilo alternativo possui registros em fotos, mas costuma ser ignorado nos livros de moda, talvez porque era usado por mulheres que trabalhavam fora de casa, algumas vezes sendo solteiras, todas consideradas à margem socialmente.

Dentre britânicas, francesas e americanas, estas últimas eram as mais avançadas em relação à esta estética. Durante a guerra civil americana, as mulheres usavam paletó escuro, saia mais curta e blusa simples, pois assumiram papéis dos homens que foram pra guerra, o que acabou apressando a emancipação feminina naquele pais, bem antes dos países da Europa.


Estes trajes, permitiam a mulher se locomover mais livremente; quando as francesas o adotaram, o chamaram de tailler que significa "conjunto sob medida". A classe média os usava para viajar e a classe operária os usava em escritórios e lojas. 

Na segunda metade do século, o paletó acabou sendo absorvido pelas altas classes como peça para uso no campo ou no litoral e o elemento final do traje da  mulher independente apareceu nos EUA em 1870, a chamada chemisier, uma camisa masculina adaptada, ornamentada com uma pequena gravata borboleta de cor preta.
O traje alternativo só virou moda dominante na decada de 1890 sendo muito reconhecido através dos trajes das gibson girls.

O fato de uma mulher usar gravata, chemisier, colete, paletó e chapéu era um manifesto pessoal muito forte! O estilo alternativo não era defendido por nenhum grupo em particular. Já as reformadoras do vestuário, muitas eram feministas e centravam suas propostas no uso de calças.


O uso de calças no século XIX
Este foi um tema muito controverso naquele século. A ideologia da época estipulava identidades de gênero fixas e diferenças grandes entre homens e mulheres.
O traje apresentado por Amelia Bloomer em 1850, enfrentou muita resistência pois subvertia a diferença entre os gêneros.

O traje era composto de uma saia curta sobre uma calça turca volumosa. Amelia e outras mulheres, usavam-no por ser confortável prático e seguro - sem a intenção de lançar moda. Mas a peça chamava muita atenção, atraia multidões de homens agressivos e elas eram muito assediadas. Tamanho era o assédio, que elas precisaram parar de usar a roupa poucos meses depois pra evitar mais violência. Mas o traje continuou sendo defendido por feministas e outras mulheres que alegavam que ele promovia a independência e aumentava a capacidade das mulheres executarem movimentos. O bloomer prefigura o terninho do final do século XX.

"Proibidas" de usarem nas ruas, estas mulheres então, usavam bloomers em seus lares.

 Mulheres graduadas, doutoras, acadêmicas, tinham preferência por usar o traje, mesmo que em ambientes mais restritos.

As trabalhadoras rurais usavam calças diariamente, só usavam vestidos aos domingos. São mulheres que romperam padrões estéticos da época. Em alguns locais, chegaram a ser proibidas de trabalhar em algumas áreas pois suas calças chocavam os governantes e visitantes das áreas urbanas.

Os movimentos feministas americanos continuaram até o fim do século lutando para uma reforma no vestuário tentando uma adoção de roupas mais simples. Essas ideias eram radicais demais para as moças de classe média que eram as mulheres que mais interessavam que ingressassem no movimento, pois elas eram as mulheres que fariam a diferença em opinião.
Na França, uma reforma do vestuário não existiu até 1887, quando surgiu uma sociedade defendendo a eliminação do espartilho. Calças eram proibidas naquele país, para usá-las as mulheres precisavam de uma autorização da policia.

Onde o traje era aceito?
Tanto o traje alternativo quanto as calças (knickerbockers/bloomers) eram aceitas como uniforme para a prática de exercícios nas escolas, faculdades e sanatórios. Locais que as mulheres podiam praticar "esportes masculinos" sem serem vistas. Pois mulheres que praticassem "esportes masculinos" em público eram consideradas vulgares e imorais.

Time de basquete feminino (Topeka High School girls´)
Bloomer e knickerbockers eram usados também como trajes de banho.
À medida que o século passou, os esportes foram ficando mais aceitos e um número maior de mulheres começou a praticá-los. E aí chegamos na bicicleta...

A importância do ciclismo na emancipação feminina
Mas o que impactou mesmo a vida das mulheres do fim do século XIX, foi a popularização do ciclismo, na década de 1890. Era um esporte completamento novo e não visto como atividade masculina. 


Para não serem hostilizadas na rua por usarem o traje (saia-calça, knickerbockers e bloomers), as ciclistas de classe média/alta eram levadas até os parques de carruagem e lá se isolavam para dar as pedaladas. 


Afinal, era impossível praticar o ciclismo com as roupas elegantes da época e foi justamente por causa das ciclistas que elite que, com o tempo, o traje acabou sendo aceito como símbolo de emancipação que mudou em definitivo a forma como as roupas eram vistas, dando liberdade ao corpo feminino.

Trajes com "calças" aceitos para andar de bicicleta

Mulheres usam bloomers, saias-calças e saias mais curtas (tornozelo) junto com elementos do vestuário masculino (origem no vestuário alternativo).
Enquanto que atividades e esportes eram inacessíveis à mulheres de classes operárias, isso era contrabalançado com o fato de que elas usavam calças em outros espaço públicos.

O traje alternativo feminino do século XIX nos mostra que a roupa que usamos hoje, deriva mais dele do que das roupas da elite vitoriana. E que os discursos de gênero são mantidos na comunicação não verbal. Mudanças de atitude geraram mudanças estruturais na sociedade.
As calças eram um desafio simbólico muito forte ao sistema - e a maioria das mulheres não estava preparada para fazer isso - pois era considerado desobediência à ordem social. As calças eram associadas aos homens e ao usá-las, as mulheres enfrentavam a autoridade masculina. No século XX, as calças femininas foram plenamente aceitas somente a partir da década de 1970 e acabou se tornando um símbolo da independência feminina na moda.


Fonte: A Moda e Seu Papel Social - Classe, Gênero e Identidade das Roupas de Diana Crane.

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