Este é um guest post, escrito por minha amiga Lauren Scheffel, espero que gostem!
A história da loja Biba
se inicia junto à rebeldia de Londres nos anos 60. Seguindo o ritmo da
contracultura, a marca abraçou os jovens que viviam intensamente suas
excentricidades e que procuravam uma moda menos careta e mais informal.
Seu conceito para a época foi visionário, poucas lojas até hoje conseguem se encaixar e sobreviver nesse padrão. Precursora do fast fashion,
alavancou o formato de departamento chegando a vender de tudo, até
fralda roxa de bebê! Conseguiu sair da cena alternativa e penetrar no
mainstream.
Tudo começou com Barbara Hulanicki
e seu falecido marido Stephen Fitz-Simon. Ela, uma polonesa radicada na
Inglaterra, estreou na carreira como ilustradora de moda em grandes
jornais e revistas, a exemplos British Vogue e Women’s Wear Daily.
O
começo da marca veio por sugestão de Simon, quando lhe propôs desenhar
peças de roupa e vendê-las por correspondência. Assim nasceu a Biba’s Postal Boutique. Um negócio pequeno mas que ganhou destaque em colunas de moda como a do jornal Daily Mirror.
Abaixo anúncio procurando funcionárias e anúncio no jornal.
Depois
de algumas tentativas, o primeiro sucesso viria num vestido com estampa
vichy cor de rosa e um lenço de cabeça combinando. Venderia como água e
a renda obtida permitiria a abertura da butique na Abingdon Park em
1964. Dali em diante, seu crescimento comercial e midiático seria
estrondoso.
Barbara Hulanicki na Biba:
A loja no início:
Para
suportar o volume, necessitou mudar de lugar algumas vezes. A última e
mais impressionante foi na Kensington High Street, onde se transformou
em loja de departamento e chamada de Big Biba. Tinha cinco
andares, decoração Art Dèco, sofás de veludo, paredes pintadas de preto e
rock n’ roll tocando bem alto. Infelizmente, a expansão trouxe
problemas sérios, e o resultado foi o seu fechamento em 1976.
A Big Biba:
A marca criou jornal
próprio em 1973. O primeiro exemplar (abaixo) teve 17 páginas com textos de David
Smith e fotos de Rolph Gobbits.
Além do comércio de roupas e cosméticos, havia também a de alimentos,
como restaurante e vendas de sorvete. Repare que a imagem tinha um quê de
Carmem Miranda.
Logotipos no estilo Art Noveau
Alguns fatores para a Biba ter alcançado notoriedade:
-
O local caiu no gosto de nomes famosos, o que fez com que se tornasse
ponto de encontro de grandes artistas daquela geração. Começando por
Cathy McGowan, uma inglesa que ganhou fama ao apresentar o programa
Ready Steady Go!.
A
influência e fama de Cathy eram tamanhas, que ganhou o título de Rainha
dos Mods e virou ícone de Twiggy, nas palavras da própria modelo. Além
das citadas, Mick Jagger, Yoko Ono, Brigitte Bardot, Jean Shrimpton, Mia
Farrow, entre outras personalidades, também frequentavam a loja.
Cilla Black (com o manequim na mão) e atrás Cathy McGowan
-
O preço das peças serem baixos facilitava a acessibilidade de
diferentes camadas sociais como consumidoras. Imagine você poder comprar
no mesmo local que Mick Jagger? Era o que ocorria. Barbara chegaria a
comentar o fato: “Todas as
classes se misturavam sob o rangido do telhado (da loja). Não havia
distinção social. Seu denominador comum foi a juventude e a rebeldia
contra o establishment.”
-
Apesar de ter começado com roupas, criou fama também com os cosméticos
que chegaram a ser vendidos para 33 países, incluindo o Brasil. A marca
foi à pioneira ao introduzir batons em cores incomuns, como marrom,
preto, verde e o Metallic Grandma, uma mistura de azul marinho com
brilhos de prata. Aliás, foi o primeiro local a permitir o teste de
produto antes de se comprar.
- A Biba tinha seu estilo de maquiar, conhecido como “The Biba Look” ou “Dudu Look”, inspirado nos anos 20 e 30.
Twiggy e um anúncio demonstrando como se ter o olhar "Dudu"
Curiosidades finais:
-Sabem quem trabalhou por lá? Anna Wintour! Foi seu primeiro
emprego como assistente de loja, tinha apenas 15 anos e foi arranjado
por seu pai, o editor Charles Wintour. Dizem que um dos interesses que
fizeram Wintour prestar atenção na moda era assistir ao programa de
Cathy McGowan. Acho que agora dá para entender de onde saiu a inspiração
para seu famoso corte de cabelo.
Anna Wintour bem novinha/Cathy McGowan entrevistando Paul McCartney
- Não existia nada na vitrine. O objetivo era não atrair (isso mesmo!) as pessoas a entrarem na loja.
- As peças da Biba são supervalorizadas no mercado vintage.
- Logo após o fechamento da marca, em 1976, a designer e o
marido se mudaram para o Brasil. Eles viveram no Rio e em São Paulo.
Nesse período, abriram na capital paulistana a Barbara Hulanicki,
localizada na Alameda Franca. Além da venda de roupas, seria lançada uma
linha de maquiagem com o mesmo nome. Depois da temporada brasileira,
ainda na década de 80, retornaram a Inglaterra.
Barbara hoje em dia
Atualmente, Barbara mora em Miami e se concentra fazendo
desenhos exclusivos que vão desde projetos de moda a hotéis. Depois de
desenhar para Fiorucci e Cacharel, entre os últimos trabalhos está sua
colaboração para uma coleção TopShop em 2009 e outras mais recentes para
Asda.
Em 2006, Biba foi relançada sob o comando de Bella Freud, filha
do renomado pintor Lucien Freud. A estilista lançaria apenas duas
coleções e deixaria a marca para lançar a sua própria. Em 2009, a House
of Fraser compra a companhia da qual detém os direitos até hoje e
comercializa somente via site.
Mesmo com a revitalização, a nova Biba ainda não conseguiu
alcançar o esplendor igual aos tempos áureos. Barbara critica
severamente a atual dona da empresa por cobrar muito caro, fugindo do
objetivo primário. “Eu adoro ver as pessoas felizes por fazerem
compras sem se sentirem culpados porque elas gastaram dinheiro demais.
Eu quero fazer o que sempre fiz, roupas para jovens que vivem em
conjugados”.
Essa é a verdadeira Biba que deverá ficar marcada para sempre na memória da moda.
* A reprodução de parcial ou integral de trechos do texto só é permitida com prévia autorização.
* A reprodução de parcial ou integral de trechos do texto só é permitida com prévia autorização.