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sábado, 24 de maio de 2014

Analisando Quadro: A Caçada na Corte de Filipe o bom (século XV) - Os Vestidos Disfarçados

Hoje vamos analisar as roupas do quadro "A Caçada na Corte de Filipe o bom" de cerca de 1442.

Observem a pintura, por que todos estão de branco?


A resposta é extremamente simples: porque a cor branca foi um tema imposto para a festa!
Mas não se trata só disso.

Essa obra nos mostra os chamados "Vestidos Disfarçados" ou robes deguisées.

Os robes deguisées eram trajes que destoavam do padrão de moda vigente (por isso "disfarçados"). No quadro, as roupas são anteriores às roupas usadas na década de 1442 [veja como era a moda deste século aqui]. Se repararem, as roupas recebem referências que variam de de pouco mais 20 à 100 anos antes [aqui]. Os homens usam batas curtas com pregas abauladas. Há mantos inspirados na moda italiana. Vários deles usam chopines.

No centro, a duquesa tem um manto acolchoado de arminho. Como outras moças, seu penteado tem enchimentos postiços trabalhados, coberto com uma coifa de rede e miçangas. Várias outras mulheres usam capelo sobre redes. No centro, uma moça usa o capelo clássico fechado com um alfinete logo abaixo do queixo.



Repare numa mulher, no segundo plano, à esquerda. Ela usa luvas vermelhas e gola alta, ambas algo bem raro na época. Outras mulheres também usam um cinto alto, trabalhado.

Aproveito a deixa pra que seja observada outra coisa: repararam que apenas uma mulher à esquerda do quadro, na frente, levanta a cauda do vestido?

As mulheres da classe alta medieval e renascentista usavam vestidos com longas caudas, era uma forma de mostrar riqueza em tecidos ou enfeites suntuosos, o que servia pra as diferenciar das classes inferiores. Pois bem, estas mulheres eram ensinadas a andar desde muito novinhas com saias excessivamente longas e eram capazes de levar coisas, subir escadas e fazer as atividades diárias sem nunca levantar suas saias.
Já as mulheres de classe baixa, normalmente trabalhavam, e longas caudas atrapalhariam suas atividades, por isso as saias das classes mais baixas eram mais curtas e não tinham caudas. 
O fato da moça em questão estar levantando a cauda do vestido, é algo muito incomum (já que não há uma saia de baixo adornada pra ser mostrada) e pode ser uma alusão ao pregnancy look.

Não é interessante encontrar uma festa medieval cujo tema revivia de forma misturada moda de entre 20 e 100 anos antes?

Fonte: História do Vestuário no Ocidente, François Boucher.

sábado, 19 de outubro de 2013

Uma breve história dos corsets, seus mitos e controvérsias.

Neste post, abordarei uma breve história do corset, nos mitos e controvérsias em torno da peça e no que acredita-se ser sua real função na história.
Embora hoje digamos "corset renascentista", "corset rococó", "corset vitoriano", a peça nem sempre foi chamada assim. No texto vou chamá-los como eram chamados em suas épocas pra ficar mais fácil de entender as mudanças ao longo dos tempos.  
Basicamente os nomes eram: bodies/pair of bodies/whalebone bodies até o século XVIII. No século XVIII até começo do século XIX eram denominados "stays" e só a partir de 1850, "corsets".

Controvérsias:
O corset (também chamado em português de espartilho) é a peça mais apaixonante e controversa dos últimos tempos. Quem ama a peça diz que é o ícone feminino da sensualidade; quem odeia, que é uma ferramenta da dominância e opressão masculina e que as mulheres eram "obrigadas" a usá-la. Os debates entre seus fãs e seus haters provocam furor há mais de um século. O corset também é responsável pela versão mega simplificada de que "libertou" as mulheres, como se as mulheres do passado fossem fashion victms sem cérebro e sem poder sobre suas ações. Não era bem assim como vou mostrar a seguir.

Breve história da peça
Peças semelhantes à corsets podem ser vistas em iconografias da grécia antiga, creta e até mesmo no começo da Idade Média, mas não há registros de que tais peças tinham a mesma estrutura e que foram usadas com frequencia pelas mulheres, então, considera-se que os primeiros corsets, na verdade chamados de bodies (whalebones bodies ou pair of bodies), foram desenvolvidos entre 1500–1550, feitos de barbatana de baleia e muito rígidos; davam ao corpo uma forma cônica. Havia tiras nos ombros pra sustentá-los e terminavam logo acima do osso pélvico. 
Existem imagens na internet de corset de ferro do século XVI, estes corsets realmente existiram mas não eram de uso fashion, eram ortopédicos para pessoas com problemas na coluna.

O pair of bodies à esquerda pertenceu à rainha Elizabeth I

A forma cônica dos bodies/stays permaneceu em voga até o século XVIII. O que variava era a altura, algumas vezes mais curta e com ou sem alças.

Stays


A peça enfraquece na revolução francesa e em 1810 reaparece na França num formato que separava os seios. Em 1840, após a invenção dos ilhóses, o formato dos stays vai se aproximando do da ampulheta, mas a peça ainda era longa até os quadris. A partir de 1850, como vão ler no texto mais abaixo, a peça ganha o nome de corset, enfatizando ainda mais a cintura - e perde as alças.


1810 - 1840

Entre 1880 e 1890 a peça ganha novo formato, com cintura mais baixa e busto cheio. Em 1900, surge o modelo de frente reta e curvas na parte de trás dando uma forma de "S" à silhueta feminina. 

Entre 1902 e 1908 a peça desce até os quadris com ligas para meias acopladas. Entre 1908–1914 o corset vai até quase o meio das pernas e já é usado com uma espécie de sutiã. Com a primeira guerra em 1917, a peça desaparece aos poucos. E só é reintroduzido por Christian Dior em fins de 1940, porém, a peça se assemelhava mais a um corselet. Os corsets/stays em sua forma e modelagem historicamente originais só ressurgem na década de 1980.

1900, 1908, 1917


Quem os usava?
Os bodies (whalebones bodies ou pair of bodies) foram primeiro usados nos anos de 1500 por aristocratas e nobres da Espanha e Itália. Rapidamente se espalharam pela França, Inglarerra e pela europa ocidental em geral. Depois passaram a ser usados pela classe alta, a seguir pela classe média e a partir dos anos 1800, com o advento da revolução industrial e a produção em massa de roupas, também pela classe trabalhadora.


Qual a função dos bodies, stays e corsets?
1. Postura:
Quando surgiu o propósito era criar uma silhueta altiva e artificial para a aristocracia, já que auto-apresentação era algo muito importante para os nobres. Especialmente na Renascença, a postura altiva que os rígidos whalebone bodies provocavam era admirada.
Por 400 anos, médicos acreditaram que o corpo era fraco e precisava de um suporte pra crescer forte, daí o motivo de crianças serem vestidas desde os 3 anos com a peça. Os meninos paravam de usar com 6 ou 7 anos e as meninas - consideradas com corpo mais fraco e que não se sustentaria sem apoio - usariam a peça por toda vida.
 
2. Suporte:
Outro grande propósito da peça era o suporte do busto. Vemos essa função de suporte dos seios especialmente nos stays do período império, época em que a cintura subiu para logo abaixo do busto. É aqui que entra o mito de as mulheres terem sido "obrigadas" a usar a peça, na verdade, havia sim uma exigência social, mas precisamos imaginar que os stays/corset funcionavam também como sutiãs.

stay de 1800

Quem vê corsets vitorianos sobreviventes percebe que alguns tinham ganchinhos externos. Essa era mais uma função da peça: juntar ou segurar a parte de cima (corpetes) com a da baixo (saias).


Afinar a cintura?
O fato de a cintura ser levemente afinada era parte do efeito de usá-lo desde muito cedo. Por vários séculos, ter cintura fina não era o destaque na silhueta. Se observarem a silhueta elisabetana, a barroca, a rococó e a império nenhuma delas tem foco na cintura, o foco só começa a partir da era romântica.


Revolução Francesa:
Os stays do século XVIII tinham a forma de cone como ilustrado acima, já naquela época alguns médicos achavam que provocava doenças e as mulheres seriam mais saudáveis se não os usassem. Em 1790, com a Revolução Francesa e início da moda Diretório e Império, muitas mulheres cortavam a parte de baixo dos stays e os usavam como brassiere (uma espécie de ancestral do sutiã, peça que sustentava os seios) com os vestidos Império. Essa foi a primeira vez em 300 anos que as mulheres abandonaram os stays. Na foto abaixo, uma brassiere - ancestral do sutiã - que pertenceu à imperatriz Joséphine.



Qual a relação entre a rejeição da peça na revolução francesa e a aristocracia?
Quando a revolução francesa explodiu, tudo que fosse relacionado à aristocracia devia ser simbolicamente destruído. Os stays eram uma peça que veio da aristocracia. Assim como saltos altos. Na revolução todos queriam e precisavam respirar liberdade.  Assim, stays e saltos altos foram substituídos por corpos livres e sapatilhas.


O retorno como "corset":
Roxey Ann Caplin, escritora e inventora britânica é apontada como a criadora do corset vitoriano. Em 1848 ela apresentou um "corset higiênico" com um busk em metal eletromagnético patenteado por ela (Joseph Cooper já havia inventado o busk de encaixe) que permitia o corset ser retirado sem ser totalmente desamarrado.
Em 1851 ela foi premiada pela invenção de seu novo modelo com fechamento de encaixe por busk de metal. O corset original inventado por Caplin está no Museu de Londres. É uma peça que aparentemente nunca foi usada e é na cor azul. Naquela época não eram usados corset coloridos, apenas em tons de branco, bege, cinza, o corset azul foi feito exclusivamente para ser apresentado ao público como nova invenção. Em 1851, Roxey Ann Caplin era a única fabricante deste tipo de modelo. Até então, as mulheres usavam os modelos estilo stays. Foi a partir daí que o design criado por ela influenciou os designs de corset do século XIX, os chamados "corsets vitorianos", que agora não tinham alças, exibiam o formato de ampulheta e não de cone como nos séculos anteriores.

Corset com busk de metal, barbatanas de baleia e na cor azul, nunca usado, feito pra exibição de 1851 de Roxey Ann Caplin

O corset mantinha o prestigio aristocrático, mas com o advento da produção em massa, eles foram levados à classe trabalhadora. As mulheres da classe trabalhadora vitoriana também usavam corsets, comprados prontos, no que chamaríamos hoje de tamanhos "P/M/G". Devido à esta "popularização" dos corsets, boa parte da fama elitista da peça cai por terra. O motivo de as mulheres vitorianas usavam corset é porque queriam estar (ou parecer) na moda. Mulheres flácidas e de peles caidas não eram consideradas belas, apenas mulheres "firmes" e a peça dava essa firmeza corporal, por isso era respeitável. Todas as classes sociais viam o corset como uma peça de embelezamento que criava uma boa figura. 


Tight Lacing
Há muitos mitos sobre a cintura finíssima dos vitorianos. Muito dos relatos sobre estas cinturas eram marketing de venda de uma beleza idealizada e ficções fetichistas.
Ao contrário do que se pensa, apesar de todo o puritanismo, os vitorianos não eram anti-sexuais. Os corsets eram vistos como belos e erotizantes, MAS davam respeitabilidade às mulheres, uma mulher sem corset não era vista respeitosamente.
Praticantes de tight lacing na era vitoriana eram extremamente raros. Os periódicos para mulheres do final da década de 1860 e 1870 e depois, no final dos anos 1880, traziam artigos fantasiosos de bondage e sadomasoquismo. Havia um fetichismo masculino sobre corsets e tight lacing de garotas e garotos enlaçados ou em crossdressing.
Esse tipo de informação deve ser visto como fantasias sexuais masculinas e não como comportamento habitual das mulheres vitorianas. Fetichismo sempre foi hábito de uma minoria populacional (até hoje) e predominantemente por homens (mulheres fetichistas são raras*) obcecados por tight lacing que fantasiavam ser enlaçados por prostitutas em bordéis. Esse fascínio underground pelo tigh lacing continua até hoje.

Uma boa comparação, pra melhor entendimento do fato é comparar corsets com saltos altos e tight lacing com saltos altíssimos: hoje, muitas mulheres usam saltos altos em seu dia a dia, mas sapatos de saltos altíssimos são menos/raramente usados. Se a mulher for numa festa, óbviamente ela colocará um salto mais alto que o habitual. O mesmo podia acontecer na Era Vitoriana, ao ir numa festa, a mulher apertar um pouco mais o laço, o que não fazia dela uma praticante do tight lacing
Então, imaginar que todas as mulheres vitorianas praticavam tight lacing e tinham cinturas minúsculas é como dizer que nós, atualmente, usamos salto de dominatrix no cotidiano. É  preciso ter cuidado pra não confundir fantasia fetichista com comportamento habitual das mulheres do século XIX.


O corset e as doenças:
Para os médicos da época, uma cintura perigosa era do tamanho de 38cm. Corsets vitorianos remanescentes em museus mostram que muitas cinturas da época equivalem ao tamanho atual de uma cintura P (algo em torno dos 65cm). Não eram dramaticamente pequenas como as ficções fetichistas e os médicos da época diziam que era. Vale lembrar que as mulheres usavam corset desde pelo menos 3 anos de idade então, obviamente, a peça moldava e acinturava o corpo desde então.

Os médicos vitorianos que eram contra a peça, diziam que a mesma provocava escoliose, ataque do coração, câncer de mama e deformação de bebês. A historiadora de moda Valerie Steele entrevistou médicos e enfermeiras pra descobrir quais doenças poderiam ser causadas pelo uso do corset mas não há nenhuma evidencia concreta sobre a peça ser responsável por alguma doença. Há relatos risíveis de médicos que acreditavam que o corset  fazia o sangue esquentar e subir para o cérebro, o que  provocaria efeitos lascivos e até mesmo tornaria mulheres estéreis. A maternidade era algo muito valorizado no século XIX.


Corsets hoje
Assim como lemos no post sobre a exposição La Mécanique des Dessous, o corset hoje se tornou internalizado por plásticas e lipos. Mas a peça em si reapareceu com os punks no fim dos anos 1970 com status subversivo. 
A peça, históricamente uma underwear, era usada pelos punks como peça externa, de estilo. Então, se hoje usamos corsets como uma peça de estilo, exteriorizada, devemos parte à subcultura punk. A peça também foi usada por góticos e reinventada nos anos 1980 por estilistas como Christian Lacroix, Vivienne Westwood, Thierry Mugler, Jean Paul Gaultier. Club Kids, garotas roqueiras e mais recentemente a cena heavy metal feminina e as cenas retrô e burlesca mantém a fama alternativa que a peça ganhou no fim do século XX.

Não podemos deixar de citar a importância de Madonna na percepção popular/mainstream do corset a partir dos anos 1980. Madonna foi a responsável por tirar do corset a fama de peça opressiva da sexualidade feminina (o que já era um mito) e dar à peça uma imagem de sexualidade feminina agressiva. Se hoje as mulheres usam o corset externamente como peça de sensualização, de "poder" feminino, muito se deve à ousadia de Madonna e à nova imagem  - menos underground e mais poderosa - que ela deu ao corset para a cultura de massa nos anos 80.

O corset vive seu momento de revival desde meados da década passada, graças à outra artista mainstream: Dita von Teese. Embora Dita tenha um passado underground alternativo-fetichista, ela mudou seu estilo pessoal quando foi abraçada pela cultura mainstream. Seus corsets mudaram de "sexualidade agressiva" para um status de feminilidade extrema, sensualidade e delicadeza. Essa nova imagem mais suavizada e feminina do corset atrai atualmente muitas mulheres e garotas que se identificam com o ideal feminino clássico de cintura fina, quadris largos, fragilidade e sensualidade.

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O texto é inspirado no conteúdo do livro Corset: A Cultural History da historiadora de moda Valerie Steele. 
*O livro Fetiche - Moda Sexo e Poder da mesma autora fala sobre o fato do fetichismo ser uma característica sexual majoritáriamente masculina, a questão do homem castrado. Uma minoria absoluta da população feminina é fetichista, muitas começaram a praticar tigh lacing por causa dos homens/maridos.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Chopines e os Sapatos sem salto

A moda sempre se reinventa consciente ou inconscientemente. Dois bons exemplos já postados no blog foi sobre o Peplum e o New Look Dior. Décadas atrás, sapatos sem salto "surgiram" na moda underground fetichista, seja nas criações de Kronier ou  de nosso estilista de calçados Fernando Pires. Com a popularização da estética fetichista no mainstream, surgiram calçados sem salto numa versão menos extrema e mais usável.
Mas esse tipo de calçado não é inédito na moda. Dos séculos XV ao XVII, nos mais diversos lugares - da Itália à Turquia e China - foram usados os chopines.  


O Chopine era um tipo de calçado com plataforma que inicialmente funcionava como um tipo de pedestal ou galocha para proteger os sapatos e os vestidos das mulheres ricas  da lama e da sujeira da rua.

As verdadeiras origens deste calçado são desconhecida, altos tamancos já eram usados por atores de palco grego e por mulheres turcas em balneários; assim como eram uma alternativa menos dolorosa usada pelas mulheres manchús (China) para os efeitos do pé deformado no século X.

chopine em madeira
O andar no chopine era instável e deselegante. As mulheres que os usavam eram geralmente acompanhadas pelo marido, empregadas ou funcionários para poder se equilibrarem. Há quem argumente que no Ocidente, o sapato nasceu na Espanha do século XIV, pois há muitos registros, referências pictóricas e exemplos remanescentes daquele país. Os chopines que sobreviveram ao tempo são feitos de madeira ou de cortiça e os ao estilo espanhol podem ter faixas de metal. A peça era tão popular na Espanha que a maior parte da cortiça produzida no país foi para a produção do sapato. Com o comércio do país com a Itália, os chopines ganharam sua maior fama e fascínio em Veneza, por volta da virada do século XVI. 
A mania de chopines na Itália coincidiu com o auge da atração por trajes extravagantes durante o ano de 1500, quando quase todos os artigos de vestuário eram extremamente exagerados. Os chopines venezianos eram artisticamente esculpidos e os chopines espanhóis eram cônicos e simétricos (mas não menos adornados). Há também peças cobertas com couro, brocados, veludo ou jóias bordadas. Muitas vezes, o tecido do chopine combinava com o vestido ou o sapato, o que anunciava a riqueza da família e a posição social.

Chopines adornados com rendas e jóias:

 


Chopine em altura extravagante
Além de seus usos práticos, a altura da chopine tornou-se uma referência simbólica ao nível cultural e social - quanto maior a chopine maior o status da mulher. Eles eram normalmente de 12 a 22 cm de altura mas alguns modelos sobreviventes tem mais de 50 cm.
Na Itália renascentista, os chopines eram usados também como um meio de alongar a silhueta e  permitir mais espaço para a exibição de uma saia com pano suntuoso. Diz-se que as cortesãs venezianas os usavam para se destacar na multidão e atrair mais olhares.
Para alguns estudiosos, o chopine foi uma ferramenta para manter as mulheres em casa, já que o andar exigia tempo e equilíbrio. Na Itália, clérigos adoravam o uso dos chopines, porque segundo eles, impedia as mulheres de se entregar a prazeres moralmente perigosos, como a dança. Mesmo assim, há quem diga que havia mulheres que de tanta prática, conseguiam dançar graciosamente.
Há relativamente poucos chopines que sobreviveram ao tempo e estes estão em coleções de museus. Um dos motivos de eles terem sido salvos, pode ser exatamente devido à sua estética “estranha”.

Mulheres usando chopines:


Uma ilustração mostrando como o chopine era usado como um meio de alongar a silhueta e  permitir mais espaço para a exibição de uma saia com pano suntuoso. 


Não é de se admirar que os calçados ao estilo chopine tenham ressurgido no século XX na subcultura fetichista, onde temos tanto a figura da mulher doninatrix, alta e superior quanto o fetiche por pés. Outro dado curioso é observar que as plataformas da década de 1940, 1970, do final de 1990 e dos tempos atuais (a partir de 2009) mostrem que a demanda por altura e consequentemente status está presente num momento onde a economia (crise econômica de 2008) não anda tão bem. Alguns destes calçados sem saltos atuais são tão adornados quanto os chopines venezianos.

Subcultura fetichista do século XX: mulher alta, inatingível e dominadora.


Sapatos sem salto atuais: estética amenizada, mesmo assim exige um andar cuidadoso, em lugar plano e liso (calçada esburacada nem pensar!)...

 ... e alguns modelos são tão adornados quanto os chopines originais.

 

Como esta postagem é comparativa com os atuais sapatos sem salto, selecionei apenas imagens de chopines semelhantes. Há outros modelos de chopines, formados normalmente plataformas inteiriças e altas.

Fontes consultadas:
- http://en.wikipedia.org/wiki/Chopine
- http://www.metmuseum.org/toah/hd/chop/hd_chop.htm
- http://www.allaboutshoes.ca/en/heights_of_fashion/east_meets_west/
- http://www.batashoemuseum.ca/podcasts/200903/index.shtml
- http://www.fashionencyclopedia.com/fashion_costume_culture/European-Culture-16th-Centur/Chopines.html
- http://aands.org/raisedheels/Pictorial/extant.php
- http://pourlavictoire.blogspot.com.br/2013/05/the-return-of-chopines.html
- http://americanduchess.blogspot.com.br/2013/06/chopines-platforms-of-past.html

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Penteado do século XV

Lá pelos idos de 1400 na Europa do Late Medieval, e até mesmo durante um certo período do começo do Renascimento, era hábito entre algumas mulheres da nobreza e classe alta, raspar testa e sobrancelhas para imitar esculturas clássicas. Era um ideal de beleza. Elas ficavam com uma testa imensa que ia quase até o meio da cabeça, como nas fotos à seguir:

Lingerie Histórica - Parte 1: Farthingale e Guardainfante

Farthingale
Farthingale é a forma como é chamada qualquer uma das várias estruturas usadas sob a roupa das mulheres européias no final do século XV até o século XVI, para dar a forma desejada nas saias. 

O Farthingale teve sua origem na Espanha em1570 e eram aros de formato arredondado, inicialmente feitos de cana e lá por 1580, feitos com barbatanas de baleia. Uma das fontes mais antigas diz que a Princesa Juansholab usou esse tipo de armação para encobrir uma  possível gravidez ilegítima  em meados  de 1460. A corte viu e imitou. 

Nas primeiras imagens do farthingale espanhol é possível ver os aros visíveis na superfície exterior de saias, embora mais tarde eles se tornaram parte de baixo delas - imagem ao lado: farthingale espanhol 1470-1480. 
A princesa espanhola Catarina de Aragão  levou a moda para a Inglaterra em seu casamento com o príncipe Arthur, o filho mais velho de Henrique VII em 1501, e as armações se tornaram essenciais na moda Tudor. 

O Farthingale também foi usado na França, mas existem poucos registros, na verdade só um desenho caricatural. Alguns historiadores afirmam que na verdade, o Farthingale francês era igual ao inglês mas com diferenças na construção.


Guardainfante
O Farthingale inglês, também é chamado de “Great Farthingale” e se tornou moda absoluta em 1590. Também não há peças sobreviventes desse vestuário, mas muitas referências visuais e escritas. O Farthingale tomou sua forma mais gigantesca com a Rainha Elizabeth I,  a peça fazia uma imensa circunferência ao redor do corpo. Ele era baixo na frente e alto atrás, alongando o torso e encurtando as pernas. Essa peça permaneceu na moda enquanto Elizabeth governou, saindo completamente de cena em meados do século XVII.
Na atualidade, os Farthingales são reproduzidos apenas por figurinistas, pessoas que reproduzem trajes históricos e a Era Renascentista é  uma das mais recentes tendências na Moda Gótica.
Veja também: Moda Renascentista

Permaneceu um acessório da corte conservadora espanhola até o início do século XVII, até evoluir para o chamado guardainfante.

Guardainfante era um tipo de armação amarrada na cintura e que também permitia esconder ou disfarçar a gravidez. 
Está muito bem representado nas pinturas do artista  espanhol Velázquez. 
Essa peça desapareceu da Espanha na segunda metade do século XVII, sendo substituído pelo pannier francês, considerado mais confortável para as mulheres. 

Comparando os modelos de formato: farthingale inglês:

Reprodução atual de um raro fartingale Francês:



Mais sobre lingerie histórica:
Lingerie Histórica - Parte 1: Farthingale e Guardainfante
Lingerie Histórica - Parte 7: Corsets (em breve)
O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas

A Moda na Renascença


A chamada Renascença começou perto do ano de 1400 na Itália e se estendeu até os anos de 1500. Durante este tempo a Europa fez a transição do mundo medieval para  o inicio da chamada Era moderna, muito mais próspera. A devastação da peste negra reduziu a população européia drásticamente, os que sobreviveram resolveram buscar uma vida mundana e cheia de luxos. 

A moda renascentista carrega traços da Era gótica medieval (leia: Link 1, Link 2 e Link 3). Comerciantes e navegadoras faziam o comercio em rotas asiáticas e via oceano. Eles trouxeram do oriente para a Europa sedas, brocados, novas técnicas de tingimento, temperos, perfumes e jóias nunca antes vistas. Este merchandise asiático foi inserido na Europa por famílias como os Borgias e os Médici. 
A moda italiana renascentista era simples mas com tecidos luxuosos, joalheiria elegante e cores brilhantes. Lá por 1450, os vestidos femininos passaram a ter a parte de cima separada da saia, dando origem aos primeiros corpetes. As mangas, em homens e mulheres eram bastante elaboradas e bufantes. O comercio levou esta moda italiana para países como a França, Alemanha e Inglaterra. Geralmente a moda renascentista inglesa era menos gracioasa que a moda italiana e menos exagerada que a alemã. Durante os anos de 1500, devido às transações comerciais, a moda de um pais influenciou e até mesmo se misturou com o outro. Em 1550, as cortes inglesa, francesa e espanhola usavam a moda alemã amenizada. Inglaterra e Espanha disputavam o domínio do comericio marítimo e tiraram a liderança italiana da moda. O “estilo espanhol” para as mulheres, com seus corsets de couro e farthingales cônicos (um dos primeiros farthingales espanhóis data de 1470 e foi popular durante toda a era elizabetana)com elaboradas anáguas (petticoats) se tornaram moda em toda europa.

Lembrando que as referências históricas visuais que temos de cada época são representações dos nobres e burgueses. Os populares vestiam-se sempre de forma mais simples que os ricos ou de acordo com suas ocupações.
Houve muitas variações de estilo durante a Era Renascentista. O texto abaixo é um resumo das características principais da moda renascentista na Inglaterra. Mas havia também a moda alemã,  espanhola, italiana, francesa, polonesa etc, futuramente detalharei estas modas.

Características Gerais da Moda da Era Renascentista:
  • Empregava tecidos caros e elegantes (brocado, veludo, seda). 
Renascença Alemã
  • O vestuário de senhora acentuava as formas naturais do corpo, enfatizando discretamente o peito e acentuando o quadril;
  •  A saia caía com pregas largas e generosas e o corpete justo apresentava um decote quadrado ou circular;
  • Um lenço e um leque eram acessórios importantes, o uso dos anéis era de grande importância e representavam a possibilidade de uma dama viver sem precisar trabalhar na lida com as coisas da casa.
  • A roupa de homem era composta por um casaco que ia até ao joelho (ou era mais curto), gibão (uma espécie de colete) com diversos tipos de gola e com ombros almofadados, beca, calções até os joelhos, chapéus achatados e largos, camisas amplas com punhos justos (chemise), sapatos de couro e sola baixa com bico de pato, correntes e capas curtas presas no ombro. 

Sobre o Traje da Era Tudor (Inglaterra):
  • Durante o século XVI, o Nordeste da Europa e as Ilhas Britânicas tiveram um período de frio extremo, fazendo com que as roupas passassem a ter mais camadas de tecidos, inclusive bem pesados. As silhuetas são  amplas, de forma  cônica para as mulheres e larga na parte dos ombros para os homens, obtida através de golas e mangas largas. Usavam uma camisa de linho (chemise), um gibão que expunha as mangas do chemise, meias calças que eram como os leggings de hoje e um vestido tipo capa que era aberto na frente e de mangas curtas, podendo ir até o tornozelo e posteriormente até os joelhos.
  • Sobre os acessórios: os chapéus, tinham borda arrebitada ou arredondadas.  Sapatos, masculinos ou femininos, eram lisos de fôrma  arredondada e mais tarde  em fôrma quadrada. Botas  eram usadas para montar a cavalo.
  • O traje feminino  da Era Tudor era composto por um vestido longo com mangas sobre uma chemise. A  moda feminina na época tinha contrastes, pois cada esposa do Rei era de uma nacionalidade. Ana Bolena usava a moda francesa e Catarina de Aragão, a moda espanhola. Na moda espanhola os vestidos tinham a cintura natural e  corpete de ponta em V, os espartilhos não eram para apertar e deformar o corpo como na Era Vitoriana, mas para  dar postura rígida. As saias eram elaboradas e volumosas. Chapéus, capuzes e redes de cabeça  eram os acessórios.
  • A moda francesa tinha vestidos com decote quadrado que revelava a chemise junto à pele e tinha mangas justas. Esse traje evoluiu para um espartilho e a frente da saia exibindo bordados e enfeites, as mangas se tornaram justas em cima e largas embaixo, ao estilo trompete. Como acessórios de cabeça, muitos véus cobrindo o cabelo e capas.  Os cabelos, separados no meio ou torcidos sob o véu. Havia um adorno chamado capelo, arredondado que mostrava a parte dianteira da cabeça (foto de Ana Bolena ao lado). 
  • As cores das roupas costumavam ser vibrantes, mas a moda espanhola, ajustada e sombria devido ao gosto do Imperador Carlos V pela sobriedade, ficou em voga no fim do reinado de Henrique, assim como no reinados de seus dois filhos que o sucederam: o do rei menino Eduardo VI  e Maria Tudor. Então, entrou em voga uma silhueta ainda mais rígida fazendo as pessoas encorparem suas roupas usando enchimentos de trapos, feno e outros resíduos; essa postura altiva, abriu camino para o aparecimento do rufo
      Imagens da moda Tudor (reinado de Henrique VIII)


Moda da Era Elizabetana (Inglaterra):
  • A Rainha Elizabeth I se inspirava na moda francesa, italiana, espanhola e holandesa. Havia mais opulência nas peças, pulsos e a gola com babados evoluiu para rufos imensos (postagem em breve) houve o aparecimento do farthingale (armação de saia). O estilo espanhol só não era predominante na França e na Itália. Roupas pretas  eram usadas em ocasiões solenes. O corpete usado sobre os espartilhos era em forma de V, as mangas tinham forros contrastantes, as saias eram abertas na frente mostrando anáguas bordadas. 
  • Uma boa imagem do traje elizabetano é a obra "Rubens e sua esposa Isabella Brant" (acima à direita). 
  • Os homens usavam gibão, camisa com colarinho e pulsos com babados, jaqueta sem manga,  usavam uma espécie de meias calças, capa era indispensável,mandilion, sapato arredondado ou botas que começavam a ter saltos e eram justas e até a altura das coxas e  chapéu.

  • Depois da moda do Renascimento, veio a Moda do período Barroco, que  foi determinado  pela cortes católicas da Espanha onde o preto era muito comum (para postagem sobre a cor preta no vestuário, clique aqui) sendo a cor correta a ser usada publicamente como demonstração da índole religiosa de qualquer pessoa. O preto era aceito como adequado também para os vestidos de noiva, embora tenha sido neste momento que surgiu o vestido de noiva branco como novo padrão de elegância.
Postagem complementar à Era Renascentista: O Rufo

O texto foi escrito pela autora do blog de acordo com pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar o texto na íntegra para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.

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