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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Chopines e os Sapatos sem salto

A moda sempre se reinventa consciente ou inconscientemente. Dois bons exemplos já postados no blog foi sobre o Peplum e o New Look Dior. Décadas atrás, sapatos sem salto "surgiram" na moda underground fetichista, seja nas criações de Kronier ou  de nosso estilista de calçados Fernando Pires. Com a popularização da estética fetichista no mainstream, surgiram calçados sem salto numa versão menos extrema e mais usável.
Mas esse tipo de calçado não é inédito na moda. Dos séculos XV ao XVII, nos mais diversos lugares - da Itália à Turquia e China - foram usados os chopines.  


O Chopine era um tipo de calçado com plataforma que inicialmente funcionava como um tipo de pedestal ou galocha para proteger os sapatos e os vestidos das mulheres ricas  da lama e da sujeira da rua.

As verdadeiras origens deste calçado são desconhecida, altos tamancos já eram usados por atores de palco grego e por mulheres turcas em balneários; assim como eram uma alternativa menos dolorosa usada pelas mulheres manchús (China) para os efeitos do pé deformado no século X.

chopine em madeira
O andar no chopine era instável e deselegante. As mulheres que os usavam eram geralmente acompanhadas pelo marido, empregadas ou funcionários para poder se equilibrarem. Há quem argumente que no Ocidente, o sapato nasceu na Espanha do século XIV, pois há muitos registros, referências pictóricas e exemplos remanescentes daquele país. Os chopines que sobreviveram ao tempo são feitos de madeira ou de cortiça e os ao estilo espanhol podem ter faixas de metal. A peça era tão popular na Espanha que a maior parte da cortiça produzida no país foi para a produção do sapato. Com o comércio do país com a Itália, os chopines ganharam sua maior fama e fascínio em Veneza, por volta da virada do século XVI. 
A mania de chopines na Itália coincidiu com o auge da atração por trajes extravagantes durante o ano de 1500, quando quase todos os artigos de vestuário eram extremamente exagerados. Os chopines venezianos eram artisticamente esculpidos e os chopines espanhóis eram cônicos e simétricos (mas não menos adornados). Há também peças cobertas com couro, brocados, veludo ou jóias bordadas. Muitas vezes, o tecido do chopine combinava com o vestido ou o sapato, o que anunciava a riqueza da família e a posição social.

Chopines adornados com rendas e jóias:

 


Chopine em altura extravagante
Além de seus usos práticos, a altura da chopine tornou-se uma referência simbólica ao nível cultural e social - quanto maior a chopine maior o status da mulher. Eles eram normalmente de 12 a 22 cm de altura mas alguns modelos sobreviventes tem mais de 50 cm.
Na Itália renascentista, os chopines eram usados também como um meio de alongar a silhueta e  permitir mais espaço para a exibição de uma saia com pano suntuoso. Diz-se que as cortesãs venezianas os usavam para se destacar na multidão e atrair mais olhares.
Para alguns estudiosos, o chopine foi uma ferramenta para manter as mulheres em casa, já que o andar exigia tempo e equilíbrio. Na Itália, clérigos adoravam o uso dos chopines, porque segundo eles, impedia as mulheres de se entregar a prazeres moralmente perigosos, como a dança. Mesmo assim, há quem diga que havia mulheres que de tanta prática, conseguiam dançar graciosamente.
Há relativamente poucos chopines que sobreviveram ao tempo e estes estão em coleções de museus. Um dos motivos de eles terem sido salvos, pode ser exatamente devido à sua estética “estranha”.

Mulheres usando chopines:


Uma ilustração mostrando como o chopine era usado como um meio de alongar a silhueta e  permitir mais espaço para a exibição de uma saia com pano suntuoso. 


Não é de se admirar que os calçados ao estilo chopine tenham ressurgido no século XX na subcultura fetichista, onde temos tanto a figura da mulher doninatrix, alta e superior quanto o fetiche por pés. Outro dado curioso é observar que as plataformas da década de 1940, 1970, do final de 1990 e dos tempos atuais (a partir de 2009) mostrem que a demanda por altura e consequentemente status está presente num momento onde a economia (crise econômica de 2008) não anda tão bem. Alguns destes calçados sem saltos atuais são tão adornados quanto os chopines venezianos.

Subcultura fetichista do século XX: mulher alta, inatingível e dominadora.


Sapatos sem salto atuais: estética amenizada, mesmo assim exige um andar cuidadoso, em lugar plano e liso (calçada esburacada nem pensar!)...

 ... e alguns modelos são tão adornados quanto os chopines originais.

 

Como esta postagem é comparativa com os atuais sapatos sem salto, selecionei apenas imagens de chopines semelhantes. Há outros modelos de chopines, formados normalmente plataformas inteiriças e altas.

Fontes consultadas:
- http://en.wikipedia.org/wiki/Chopine
- http://www.metmuseum.org/toah/hd/chop/hd_chop.htm
- http://www.allaboutshoes.ca/en/heights_of_fashion/east_meets_west/
- http://www.batashoemuseum.ca/podcasts/200903/index.shtml
- http://www.fashionencyclopedia.com/fashion_costume_culture/European-Culture-16th-Centur/Chopines.html
- http://aands.org/raisedheels/Pictorial/extant.php
- http://pourlavictoire.blogspot.com.br/2013/05/the-return-of-chopines.html
- http://americanduchess.blogspot.com.br/2013/06/chopines-platforms-of-past.html

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Lingerie Histórica - Parte 3: Petticoat (Anágua)

O Petticoat nada mais é do que uma anágua, ou seja, uma saia de baixo. Uma peça de roupa para ser usado sob outra saia ou um vestido.

Essa prática  começou a ser estabelecida em 1585, onde as anáguas eram usadas por mulheres que queriam modificar o formato do seu corpo através das roupas. A anágua,  volumosa ou dura, dava à saia de cima um formato de abóbada, dando a impressão de ter-se uma cintura menor do que realmente a mulher tinha. Anáguas elaboradamente decoradas eram usadas à vista sob vestidos com fendas abertas na frente em meados do século XVI e posteriormente no século XIX. Já as anáguas do século XVIII eram de lá ou seda e acolchoadas para esquentarem o corpo e eram usadas com vestidos curtos ou jaquetas.

No século XIX, anáguas elaboradas eram algumas vezes suportadas por ossos de baleia. E então, em 1820, a valsa tornou-se popular e as saias com anágua foram revividas na Europa e Estados Unidos, e elas passaram a ter mais voltas e múltiplas camadas volumosas.
O peso das roupas, assim como o peso e o aperto dos espartilhos, faziam as mulheres desmaiarem. Nas décadas da Era Vitoriana, onde um corpo “encorpado”, era associado à saúde, riqueza e pertencimento a uma classe mais elevada, as anáguas tinham papel essencial para dar volume no corpo, já que, ser magra era ser associada à pobreza, doença e pertencimento à classe baixa. Até 1870, as anáguas estavam muito em voga, até que entrou na moda o Bustle. Mas ainda houve um pequeno revival de vestidos cheios de anágua entre 1890 e começo do século XX, mas poucas mulheres usaram.

As anáguas foram revividas pelo estilista Christian Dior em 1947, quando ele criou o New Look (postagem específica em breve), um look com saias de muitas camadas, babados e anáguas engomadas, que ficaram muito populares na década e 50 especialmente entre as adolescentes.

Há poucos anos, as anáguas voltaram à moda através subculturas, primeiro pela moda Lolita japonesa e há seis ou sete anos atrás na moda a gótica, assim como na subcultura do Vintage Rock n Roll e pessoas que gostam de se vestir com trajes de época. A finalidade atual das anáguas nas subculturas, nem sempre é ser roupa de baixo, há anáguas feitas para serem usadas por cima das roupas e nas mais diversas cores. A cantora Amy Lee ajudou a popularizar as petticoats entre as adolescente nos Estados Unidos há poucos anos atrás.

As anáguas como armação/proteção de saias:



Sobre saia aberta/curta exibindo anáguas elaboradas:




Reproduções: 



Petticoats ao estilo tradicional americano:



A Moda Alternativa cria anáguas dos mais variados tecidos e modelos, não apenas  com a finalidade de ser lingerie, muitas peças são para se usar de modo aparente:



Mais sobre lingerie histórica:
Lingerie Histórica - Parte 1: Farthingale e Guardainfante
Lingerie Histórica - Parte 7: Corsets (em breve)

O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.

Lingerie Histórica - Parte 1: Farthingale e Guardainfante

Farthingale
Farthingale é a forma como é chamada qualquer uma das várias estruturas usadas sob a roupa das mulheres européias no final do século XV até o século XVI, para dar a forma desejada nas saias. 

O Farthingale teve sua origem na Espanha em1570 e eram aros de formato arredondado, inicialmente feitos de cana e lá por 1580, feitos com barbatanas de baleia. Uma das fontes mais antigas diz que a Princesa Juansholab usou esse tipo de armação para encobrir uma  possível gravidez ilegítima  em meados  de 1460. A corte viu e imitou. 

Nas primeiras imagens do farthingale espanhol é possível ver os aros visíveis na superfície exterior de saias, embora mais tarde eles se tornaram parte de baixo delas - imagem ao lado: farthingale espanhol 1470-1480. 
A princesa espanhola Catarina de Aragão  levou a moda para a Inglaterra em seu casamento com o príncipe Arthur, o filho mais velho de Henrique VII em 1501, e as armações se tornaram essenciais na moda Tudor. 

O Farthingale também foi usado na França, mas existem poucos registros, na verdade só um desenho caricatural. Alguns historiadores afirmam que na verdade, o Farthingale francês era igual ao inglês mas com diferenças na construção.


Guardainfante
O Farthingale inglês, também é chamado de “Great Farthingale” e se tornou moda absoluta em 1590. Também não há peças sobreviventes desse vestuário, mas muitas referências visuais e escritas. O Farthingale tomou sua forma mais gigantesca com a Rainha Elizabeth I,  a peça fazia uma imensa circunferência ao redor do corpo. Ele era baixo na frente e alto atrás, alongando o torso e encurtando as pernas. Essa peça permaneceu na moda enquanto Elizabeth governou, saindo completamente de cena em meados do século XVII.
Na atualidade, os Farthingales são reproduzidos apenas por figurinistas, pessoas que reproduzem trajes históricos e a Era Renascentista é  uma das mais recentes tendências na Moda Gótica.
Veja também: Moda Renascentista

Permaneceu um acessório da corte conservadora espanhola até o início do século XVII, até evoluir para o chamado guardainfante.

Guardainfante era um tipo de armação amarrada na cintura e que também permitia esconder ou disfarçar a gravidez. 
Está muito bem representado nas pinturas do artista  espanhol Velázquez. 
Essa peça desapareceu da Espanha na segunda metade do século XVII, sendo substituído pelo pannier francês, considerado mais confortável para as mulheres. 

Comparando os modelos de formato: farthingale inglês:

Reprodução atual de um raro fartingale Francês:



Mais sobre lingerie histórica:
Lingerie Histórica - Parte 1: Farthingale e Guardainfante
Lingerie Histórica - Parte 7: Corsets (em breve)
O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas

O Rufo

Origens do Rufo:
No século XVI, uma peça chamada chemise era usada sob as roupas. Muito utilizada na Espanha, Inglaterra e França, esta peça indicava limpeza corporal e eram trocadas constantemente (já que naquelas épocas as pessoas ficavam muito tempo sem banho). A gola destas chemises, possuía um cordão que, puxado, amarrava a gola; essa gola, franzida pelo cordão, era visível por baixo das roupas masculinas e femininas. Posteriormente as golas das chemises foram engomadas e plissadas até darem origem ao chamado rufo, que foi uma forte tendência de moda começada entre  1530 e 1540. "E como sempre ocorre na moda, as pessoas começaram a competir entre si para mostrar quem tinha a versão mais absurda dos tais rufos", diz a autora do livro  “Breve História da Moda”, Denise Pollini.

Nas foto abaixo, da série The Tudors, o personagem exibe uma chemise. A gola branca da chemise pode ser vista por baixo das roupas na segunda foto, já tomando a forma de um mini-rufo.
No traje feminino, a chemise era discretamente vista por baixo dos vestidos, algumas vezes a chemise poderia ter a borda colorida ou bordada.


Os rufos, de gola, passaram a ser uma peça separada, engomada, plissada e colocada em torno do pescoço. A função do rufo era proteger o resto da roupa de restos de comida, e com a competição de quem tinha um rufo mais absurdo, a peça virou sinônimo de status social, afinal, usar um rufo impedia quem o usava de trabalhar ou realizar tarefas que exigissem esforço, já que poderia chegar a ter 45cm de altura. O visual adquirido por quem usava a peça era austero, impedindo a pessoa de ter uma postura mais relaxada. E austeridade, naquele período, era fundamental, vide os enchimentos que se usavam nas roupas masculinas e os corsets forrados nas roupas femininas (postagem sobre a Moda Renascentista Inglesa). O rufo era sinal de aristocracia, uma demonstração hierárquica.

Um pouco da evolução do rufo:
Em 1550 o rufo começou a aumentar gradativamente até ficar gigantesco em torno de 1590. 
Em 1570 eles tornaram-se fashionáveis (fashionáveis=criações diferenciadas). Eles eram usados fechados, mas como vemos em algumas pinturas, também foram feitos rufos em formato de gola aberta para serem anexados aos vestidos. 
Na Europa, a arte de engomar os rufos era muito valorizada e esses rufos eram exportados para a Inglaterra direto das  "casas de engomar" onde os rufos eram lavados, engomados e ganhavam forma com ferros de forma cônica aquecidos na brasa.
Em 1580, os rufos se expandiram para fora e para cima, ficando maior no diâmeto e com forma achatada algumas vezes sendo usados não cobrindo o espaço do ombro ao pescoço (imagem ao lado da Rainha Elizabeth I), deixando o colo exposto e se elevando em asas de gaze atrás da cabeça.
Nesta década também aumentou o uso de renda nos rufos, antes apenas usada nas bordas do linho para aumentar alguns centímetros, agora os rufos eram até mesmo feitos todo de renda com bordas adornadas de lantejoulas e bordados.


Como a moda da década de 1590 exigia decotes mais baixos para as mulheres, os rufos além de usados fechados, ainda eram usados na forma aberta maiores e mais decorados ainda, algumas vezes com as bordas voltadas para a frente do vestido. Mas é bom lembrar que nem todas as pessoas seguiam essa moda, alguns preferiam o rufo justo e fechado bem junto ao pescoço (imagem ao lado). 


A Rainha Elizabeth I usou e abusou dos rufos no seu reinado. Abaixo imagens dos mais variados tipos e tamanho de rufos usado no século XVI.


Um pouco do rufo na vestimenta masculina:


A Rainha Elizabeth faleceu em 1603, após seu reinado, lá por 1630, os rufos foram desaparecendo gradativamente e evoluíram para uma espécie de gola  ampla e caída.




Como não havia a moda específica para crianças, elas eram vestidas com trajes iguais aos de adultos, usando os rufos, inclusive.



Com o desaparecimento dos rufos, começaram a surgir os modelos de gola mais próximos do que conhecemos hoje, mas ainda eram altas e rígidas. Até 1800, seu acabamento engomado tornava-as afiadas ao ponto de cortar as orelhas dos homens. Isso explica porque as golas das camisas masculinas até hoje são mais rígidas, entreteladas. Antigamente essas golas eram para serem usadas levantadas, a própria gola da camisa pólo, modelo criado em 1929 por René Lacoste, era para ser usada originalmente com o colarinho levantado.

Herança do rufo: golas de camisas masculinas engomadas e rígidas no período Vitoriano (séc XIX) e Eduardiano (século XX).



Uma curiosidade é que, com rufos maiores, era quase impossível levar os talheres à boca, pode ser por esse motivo que os cabos foram aumentados. Isso mostra como a moda, é responsável por mudanças de objetos e hábitos culturais através dos tempos. 
Quem ainda vê a moda ainda apenas como roupa, futilidade e algo sem importância, passageiro, não consegue perceber o quanto ela é importante para explicar porque e o quê somos e temos hoje. Essa é a famosa luta dos profissionais de moda: a luta pela importância da cultura de moda aqui no Brasil.

Veja também: A Moda na Renascença

O texto foi escrito pela autora do blog de acordo com pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar o texto na íntegra para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas. 

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