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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A Moda Feminina de 1750 a 1780

A moda feminina se multiplicou rapidamente a partir de meados do século XVIII. Os estilos ingleses eram populares e tiveram impacto considerável nos trajes franceses assim como as influências vindas do oriente.

Vestido de Corte (robe de cour)
Recebeu esse nome por ser associado à corte de Versailles. Na corte de Louis XVI (1774-1792), os trajes eram extravagantes, reflexo do excesso da vida aristocrática que culminou com a  a Revolução Francesa em 1789.
Populares a partir de 1750, os vestidos de corte perduraram como traje formal feminino até a Revolução. Também chamado de grand habit, é um robe à la française feito de tecidos luxuosos, ricamente ornamentado, com corpete rígido de decote levemente oval, amarrado atrás e terminando numa ponta bastante acentuada na cintura. A saia, ricamente ornamentada é usada sobre um grande panier, terminando num barrado e com uma possível cauda. O corpete e a saia são sempre do mesmo tecido (isso caracteriza o robe à la française) e um bordado simula o stomacher. No vestido de corte, os paniers alcançaram amplitudes extremas, chegando à 3,60 metros lateralmente. Com variantes em cada país, essa traje é usado em toda Europa.



Os Estilos Ingleses (estilos à l'anglaise)

O entusiasmo pelos estilos ingleses na França começou nos últimos anos do reinado de Louis XIV (1643 - 1715) e pegou mesmo em 1755. Devido à moda do esporte e da equitação, as pessoas vão se entusiasmando com os trajes ingleses simples, confortáveis e práticos. 

Como era na Inglaterra?
Na  Inglaterra estava havendo um interesse por comodidade, esportes e um gosto pelo campo. Embora a França ditasse moda, as inglesas elegantes tinham uma interpretação diferente da moda francesa. As inglesas preferiam vestidos mais justos, um exemplo é o sack dress cujas pregas nas costas, na Inglaterra, foram logo modeladas.
As inglesas também gostavam de usar as saias em tecido acolchoado (matelassê) e mantilhas de renda preta sobre os ombros ou fichus enfeitados com laço de fita e presos com jóia. Os cabelos das inglesas não eram empoados e em cima da touca eram usados chapéus de palha conhecidos como champignons ou bergère, moda desconhecida na França. Os trajes ingleses são em tecidos simples, com pouco enfeite, em algodão ou musselina e suas versões na França, costumam ser em sedas.

 
O vestido inglês (robe à l'anglaise)
O que caracteriza um robe à l'anglaise é especialmente o recorte das costas do corpete. O corpete era justo, com barbatanas nas costuras, mas bem mais leve que o super estruturado estilo francês. A frente do corpete tinha um decote profundo normalmente coberto com um fichu de linho (um triângulo de tecido envolto nos ombros e pescoço preso no decote) e formava uma ponta no centro das costas, encontrando uma saia costurada junto à ele que tinha uma fileira de pequeninas pregas nos quadris terminando numa pequena cauda atrás. A saia era suportada não por um panier mas por simples rolls/hips/bumpads  e se abria amplamente na frente sobre uma anágua ou saia de baixo que podia ou não ser do mesmo tecido do vestido (lembram que o robe à la française, a saia de cima é sempre igual à saia de baixo?).
Por volta de 1765, os stays cônicos se flexibilizaram e em 1768, os robes à l'anglaise são recomendados até mesmo para bailes e o robe à la française ficaria reservado para cerimônias. Sendo assim, o vestido inglês se torna uma peça do cotidiano. 
Eu confeccionei um robe à l'anglaise seguindo o molde original da época, vocês podem ver o resultado aqui: robe à l'anglaise: referências e finalização



Vestido redondo (round gown)
É uma variação do robe à l'anglaise, mas a saia e a anágua são uma só, sendo uma saia fechada.



O redingote (riding coat)
Outro estilo inglês era o redingote, desenvolvido do hábito de cavalgada e popularizado na Europa continental depois das primeiras corridas de cavalo em Paris. A peça tinha um corpete ajustado, com grandes botões, lapela, gola dupla e às vezes com a frente cruzada como um sobretudo masculino. A saia podia ser fechada ou aberta pra revelar a anágua. Havia diversas variantes da peça. Era normalmente usado com um imenso chapéu com pena, também de origem inglês. 


Curiosidade: O chapéu não era um acessório corriqueiro na moda francesa e é aí que entra outra influência da moda inglesa, que gerou na França o surgimento dos coiffeurs e dos marchands de moda, criadores de barretes e chapéus imensos que logo entrariam em voga.

Peliças
Durante todo o século, as roupas de pele estiveram em voga, caracterizadas por nesgas com bordas de pele pra passar o braço.



As influências do leste europeu

A partir de 1775 surge uma sucessão de modas ininterruptas, como: à circassiana, à levita, à levantina, à turca, à sultana... originadas por causas diversas, desde políticas, pelo sucesso de retratos turcos, pelas viagens de mulheres dos embaixadores exibindo toaletes orientais ao retornar à França e especialmente pelos figurinos de teatro. Por exemplo, a primeira ideia do vestido à levita (explicado abaixo) veio dos trajes criados para a apresentação Athalie no Théatre Français, que eram inspirados no traje sacerdotal judaico. Listarei alguns exemplos destas modas:


Vestido à Polonesa (robe à polonaise)
Um dos estilos particularmente populares na corte francesa, era um estilo chamado "à la polonaise" - significa "no estilo polaco" (mesmo que esse estilo nunca tenha sido usado na Polônia). Digamos que a característica principal era o corpete ser "afivelado" em cima do busto e ser justo nas costas. A saia de cima era franzida na altura dos quadris e era repuxada atrás por cordões em três painéis de tecido arredondados, curtos nos lados (asas) e longo atrás (cauda).  O vestido era bem curto, algumas vezes chegando até os tornozelos. Tinha mangas lisas que costumavam terminar acima do cotovelo, numa forma conhecida como en sabot, com punho de gaze ou de tecido.


Vestido à circassiana (robe à circassienne)
É uma variedade do à polonesa, do qual difere por suas mangas curtas que deixam passar a manga longa da sobreveste de baixo.



Vestido à levita (robe à lévite)
É um vestido reto segurado na cintura por uma grande echarpe cujas pontas caem sobre a saia de cima. 



Vestido à levantina (robe à levantine)
Vestido tão confortável que exige poucos preparativos pra vestir ou tirar. É um vestido de mangas curtas vestido sobre uma veste de mangas longas, preso no peito e a saia, aberta na frente, podia ter pregas atrás. 



Vestido à turca (robe à la turque)
Apareceu pela primeira vez no Palácio Real em 1779. É como um vestido-casaco, o corpete de cima é bem justo, costurado ao corpete de baixo, assim como as mangas curta e comprida são juntas. É sem muitos enfeites, com uma gola que cai dobrada, e com uma grande faixa atada na cintura. A saia é aberta e cortada reta (como a do robe a l'anglaise). A parte de trás poderia ter pregas ou um bufante semelhante ao do polonaise. 



Vestido à sultana (robe à sultane)
Inteiro aberto na frente, de mangas curtas ou compridas, caracterizava-se basicamente pelo contraste de cores entre as partes das roupas.




Vestidos Simples
Entre 1778-1779, os vestidos en chemise entram na moda.

Vestido chemise, gaule, à la creole ou chemise à la reine
Um vestido en chemise é uma peça enfiada no corpo pela cabeça ou pelos pés. É usado com um corpete leve ou sem corpete, de mangas curtas ou compridas, com cintura normalmente alta, decote livre em torno do pescoço "ao estilo de uma chemise", cintado por uma echarpe e feito de gaze de seda sob um fundo de tafetá ou musselina. Pode abrir-se sobre uma saia leve. O retrato de Marie Antoinete pintado por Mme. Vigée-Lebrun usando um vestido chemise junto com um chapéu de palha foi um escândalo como podem ler no post: Visuais que chocaram épocas



Forreau ou falso vestido
Este vestido foi uma reação contra os stays com barbatanas. É um vestido de uma só peça com o corpete  amarrado atrás e a saia franzida e fechada na frente. Um cinto de fita em cor viva é amarrado na cintura. 
Essa peça era usada pelas crianças inglesas desde meados do século e foi adaptada para mulheres adultas consolidando-se em 1781, no inicio do período revolucionário em razão de sua simplicidade, pois é usado sem os stays e sem panier. É chamado de "falso vestido" por ser uma novidade, ser um vestido "fechado", ou seja, "vestido" são peças abertas sobre uma saia ou anágua.
É confundido com o chemise, mas o chemise tem cintura alta e pode ter saia aberta; já o forreau tem sempre a saia fechada, cintura "normal" e corpete de ponta.


* Existem alguns outros estilos de vestidos não citados nesta postagem. Embora haja alguma iconografia sobre eles na web, não encontrei nos livros e fashion plates definições seguras sobre o que os caracterizava, então, é possível que os aborde futuramente, quando eu estiver mais segura quanto às características principais deles.


Négligées

A partir da regência surgem roupas simples com a forma do vestido em uso no momento.
 Négligé é um traje informal, são pequenas vestes caindo sobre os quadris, mais ou menos ajustadas na frente e folgadas nas costas. Entre 1775-1780, a peça ganha alguns nomes de acordo com o estilo em que é cortado. As nomenclaturas são:

- corte ao estilo do robe à volante: casaquin 

- corte ao estilo do robe à la française/polonaise: caraco. Este tem basques nas costas (pierrot/juste).

- corte ao estilo do redingote: veste


A Moda Espanhola e Italiana no século XVIII
 Vale a pena abrir um espaço pra falar das peculiaridades das modas destes dois países.

Espanha
Enquanto a maioria das classes altas européias copiavam as modas francesas, a moda espanhola variou ligeiramente a partir de meados do século. As espanholas usavam seus vestidos de uma forma mais curta, com pés à mostra, sem paniers e com caracos. Ou seja, trajes bem mais leves que na França, muito comumente vistos nas obras do pintor Goya. Elas adicionavam xales em cores brilhantes e vestiam a tradicional mantilha espanhola, uma especie de véu de renda preta ou branca suportado por um pente tartaruga (tortoiseshell comb) nos cabelos.



Itália
Na Itália, sobretudo nas cidades de Veneza, Milão, Florença, Roma e Nápoles, o robe à la française é o mais usado, mas lá ele é chamado de andrienne. Em Veneza, para sair, veste-se uma capa curta, a tabarrino e a bauta, uma semi máscara branca enfeitada com um babado de renda preta. A mascara preta redonda é a moreta. As damas de da nobreza de Veneza e Gênova usavam muito a cor preta.


Leia mais sobre o século XVIII:
A Moda Masculina de 1700 a 1770
A Moda Feminina de 1700 a 1750

A Moda Masculina de 1770 a 1789
Existe diferença entre a Moda Georgiana e a Moda Rococó?
Robe a L'Anglaise, Parte 2: Referências e Finalização
Cabelos em tom pastel no século XVIII

Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Moda Masculina de 1770 a 1789

As roupas masculinas mudaram muito lentamente no século XVIII. França e Inglaterra lideravam tanto na moda masculina quanto na feminina.
Leia também: 
A Moda Masculina de 1700 a 1770
A Moda Feminina de 1700 a 1750
Existe diferença entre a Moda Georgiana e a Moda Rococó?

O perfil masculino afinou durante as últimas décadas. Os brocados extravagantes do começo do século deram lugar a tecidos mais finos em cores lisas ou em listras e os adornos lentamente desapareceram até o fim do século. A casaca ficou mais justa e as pontas da frente se abrem ainda mais. O colarinho é reto, as mangas são abotoadas. 


 A influência da moda campestre inglesa simplificou os trajes masculinos do fim do século XVIII (década de 1770):


O colete terminava em duas pontas de cada lado do abotoamento frontal e aos poucos essa ponta foi encurtando, até que se tornaram retas na cintura. A peça passou a não mais ser abotoada da gola à bainha.

O colete ganha pontas retas na cintura e não mais é abotoado até o pescoço
Podemos ver dois modelos de colete em voga, o antigo, com pontas bem bicudas e o novo modelo com pontas cada vez menores.

Os "exageros" permanecem apenas no traje de corte, composto de casaca, colete e calça em tecidos luxuosos e frequentemente realçados por babados misturados a fios de ouro ou prata, paêtes metálicos e vidros coloridos.
O chapéu à Androsmane cuja terceira ponta é fechada por uma dobra da aba anterior prefigura com sua forma alta e alongada.

chapéu à Androsmane

O Frock Coat.
Com as laterais se afastando da cintura, o casaco se manteve longo nas costas caindo em três partes com duas aberturas. Baseado nas roupas inglesas de montaria este design foi chamado de frock coat ou redingote e influenciou também a moda feminina.
Curiosidade: Nos primeiros anos do século XIX, as aberturas das costas se fecharam e a saia caiu em cauda. Essa foi a origem do fraque, usado até hoje formalmente para casamentos e bailes.

As costas com duas aberturas, futuramente originariam o fraque.

Macaronis
Enquanto os homens abandonavam lentamente os adornos desnecessários influenciados pela moda inglesa, havia um grupo de jovens que, ao contrário, queriam o exagero absoluto. Eles são referidos como Macaronis e apareceram entre as décadas de 1770 e 1780. Eram jovens ingleses que adotaram a alta moda da França e Itália. O estilo deles era espalhafatoso, exagerado, super ornamentado e frívolo. Usavam altíssimas perucas empoadas, pequeninos chapéus tricórnio e ramalhetes de flores. Eram vítimas de muitas piadas e caricaturados de forma agressiva. Escandalizavam pelo fato de serem obcecados pela moda em primeiro lugar. O século XVIII foi o período em que a moda se tornou de gênero e eles estavam destruindo esta regra. Por uma variedade de razões, naquela época, a palavra "Moda" se tornou um assunto de mulher. Ao se envolver com  a alta moda, eles estavam usando a moda como as mulheres usavam, o que foi muito escandaloso.
Leia mais sobre os Macaronis no post: Visuais que chocaram épocas.

Macaroni: Caricarura

De perucas à cabelos reais
No fim do século XVIII, as perucas foram descartadas por muitos homens em favor de um cabelo "selvagem", despenteado. O chapéu tricórnio, que se tornou menor e menos ornamentado desde meados do século, foi abandonado na Europa; no lugar dele foram usadas as primeiras cartolas.

Casaco, colete de barra reta, culotes, meias listradas e um chapéu de copa alta, que originaria as cartolas:


Culotes (breeches) 
Os culotes se tornaram mais ajustados no fim século XVIII.

Nestas fotos da década de 1780, é possível ver como as roupas se simplificaram e a silhueta afinou, inclusive com os culotes ficando bem justos.
 

O traje escocês
Vale a pena abrir um espaço pra falar do "kilt", surgido no século XVIII. 
Documentos antigos mostram que os escoceses usavam uma peça retangular vestida por cima da roupa. Esta peça, com listras entrecruzadas, foi enrolada na cintura e a ponta jogada por cima do ombro, sendo combinada com túnicas, coletes e calças curtas. Era uma roupa aristocrática e a disposição das listras entrecruzadas se tornou o xadrez dos clãs escoceses (uma espécie de brasão). 
Em 1720, o kilt foi registrado pela primeira vez. A peça retangular citada acima (conhecida hoje como great kilt) foi cortada, a parte de baixo enrolada em torno da cintura e presa com um broche e a parte superior se tornou uma echarpe independente. Posteriormente os highlanders adotaram este traje como uniforme militar.

Os primórdios do Kilt, em 1734.

Curiosidade: um alfaiate chamado Dartigalongue anunciava em 1770 que era possível comprar em sua loja roupas todas prontas, de todos os tamanhos. Era a primeira idéia da moderna confecção pret à porter.

Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Moda Feminina de 1700 a 1750

O século XVIII viu o nascimento da indústria moderna da moda na Europa. As revistas de moda surgiram, assim como as fashion plates (lâminas de moda). Pela primeira vez, os estilos podiam ser desenhados e copiados amplamente. A moda começou a mudar mais rapidamente liderada por Paris e Londres. As modas eram ditadas não por motivos práticos, mas por tendências de arte, cultura, política, novos descobrimentos, inovações tecnológicas e avanços científicos. Algumas modas européias eram, de fato, tão impraticáveis que renderam à seus usuários uma incapacidade de fazer as atividades diárias.
Fora de Paris e Londres, a moda mudou lentamente. Nas terras de clima quente, roupas eram básicas e até mesmo inexistentes. O conceito de mudança de modas (tendências) era algo inimaginável em outros países. Em alguns lugares, roupas estruturadas de forma simples eram belamente adornadas seguindo estilos e moldes que não mudavam há gerações.

A Roupa Feminina de 1700 - 1750
As roupas usadas pelas classes altas da França e da Inglaterra definiram os estilos usados na Europa Continental e na América. Apesar de haver variações regionais nas roupas das pessoas das classes trabalhadoras, a classe alta num geral usava roupas muito parecidas.
No século XVIII as mulheres pararam de usar os corpetes pontudos com um vestido aberto sobre uma saia. Este estilo continuou apenas na primeira década do século XVIII mas logo foi substituído pelo sack ou sack back dress.

O Robe à volante (Sack Dress)
Surgiu em torno de 1705 e tornou-se rapidamente popular permanecendo em voga até a década de 1780, embora houvessem outros estilos de vestido a partir de 1720. O robe à volante era um vestido largo e sem uma forma muito definida, tinha um pedaço de tecido preso ou pregueado dos ombros à bainha na parte de trás. Algumas vezes a amplidão da saia de cima era presa na saia de baixo o que fazia com formasse puffs, era comum prendê-la para alcançar os bolsos que eram colocados sob o panier. A frente da saia poderia ser aberta para mostrar a saia de baixo, ou  fechada. Na frente há pregas largas enviesadas no decote. Uma característica muito peculiar do robe à volante são as mangas partindo do ombro, planas no topo e mais largas nos cotovelos, terminando com um punho rígido e plissado. São combinados com um penteado leve, muitas vezes sem touca.




Panier (pannier)
O que dava forma ao "sem forma" robe à volante eram os paniers. Era uma estrutura larga feita de tecido,fitas, cana, barbatana de baleia ou de metal. O panier era inicialmente circular, mas a forma mudou entre 1725 e 1730 se tornando oval e maior, depois se estreitaram expandindo lateralmente. Havia paniers de todo tipo. A circunferência chegou a 3.60 metros em seu momento mais extremo. O vestido se tornou tão largo que as mulheres tinham que atravessar portas virando o corpo lateralmente. Mais tarde, os paniers foram feitos em duas partes, uma pra cada lado (pocket hoops). Ficaram na moda até a década de 1760 e continuaram parte do traje formal de corte mesmo após esta data.


panier inicial, arredondado.


panier num de seus tamanhos extremos


Roba à la Française
O robe à volante perde um pouco de seu volume e em torno de 1720 aparece o robe à la française. Ele tinha duas séries de pregas caindo soltas na parte de trás, do pescoço à bainha, cuja saia terminava em cauda. A frente era moldada num corpete justo com um stomacher triangular ricamente decorado preso nas laterais do corpete. Algumas vezes o stomacher era substituído por diversos laços em tamanhos decrescentes. O vestido de cima caía amplamente aberto sobre uma anágua (petticoat) de mesmo tecido bastante decorada. A decoração também contornava o pescoço com babados. As mangas eram médias, lisas e mostravam um punho cheio de rendas. Permaneceu como vestido de gala até a revolução francesa. O corte do robe à la française não varia. 

duas séries de pregas caindo soltas na parte de trás do pescoço
É comum em alguns sites estrangeiros, as pregas nas costas do robe à la française serem chamadas de "pregas Watteau". Porém as pregas não tinham esse nome na época e o pintor não participou de sua criação. 

Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Moda Masculina de 1700 a 1770

Na Europa e EUA a roupa masculina mudou lentamente durante o século XVIII. França e Inglaterra eram as líderes do segmento.

Três Peças Essenciais
O traje masculino formal tem a partir de 1720, três elementos principais: a sobreveste/casaco (justaucorps), a veste e o culote (breeches). Estas peças constituem o habit usado por todas as classes sociais, com diferenças no tecido ou ornamentação.

O habit é composto por 3 peças essenciais

A sobreveste/casaco (justaucorps) tinha a frente reta com botões do pescoço à bainha e ia até os joelhos, quase cobrindo os culotes; bolsos grandes, largas mangas com punhos extravagantes virados para fora e nenhuma gola. Tinha uma saia de fendas e pregas nas costas e do lado, sustentadas por crina. Era comum colocar arame na bainha para que ela ficasse erguida para fora. Na segunda metade do século, as pregas da saia diminuem e a frente se abre amplamente depois do último botão, com as abas indo para trás.

Sobreveste (justaucorps)

A veste tem tecido ordinário nas costas e tecido rico na frente e na ponta das mangas, era tão longa quanto o casaco e abotoada por toda a frente. Embaixo da veste, o homem vestia uma camisa branca com babados de renda no punho e na frente. Um cravat de renda era usado no lugar da gola até 1735. Depois, um stock (uma tira de tecido rígida) era usado, às vezes com uma tira preta chamada solitaire. A veste podia ser usada aberta pra mostrar a renda da camisa.

O culote  (breeches) ia até os joelhos, fechado por botões ou laços. À medida que a veste encurta, o cós do culote sobe, sendo necessário o uso de suspensórios. Meias de seda brancas ou coloridas eram enroladas no topo dos culotes e presas com uma liga.
Para roupa informal e entre os homens da classe trabalhadora um casaco chamado frock (frock coat) era usado, menos rígido e com uma gola pequena e virada.

Sobreveste e veste em destaque, 1745.

Mudança de Formas
No decorrer do século, tanto a saias do casaco quanto a veste se tornaram mais estreitas. A veste ficou mais curta, perdeu as mangas e ganhou o nome de colete (gilet) com pontas triangulares.
O casaco (justaucorps) se tornou mais justo. A partir de 1730, a frente se curvava para trás pra mostrar os culotes e podia ser abotoado somente até a cintura. Era incomum vê-lo todo abotoado.
Os culotes eram cortados justo às pernas, formando uma silhueta mais magra. 


O redingote, peça originária da Inglaterra (riding coat) é uma nova peça de roupa, inicialmente usada pra vigem ou esporte, aos poucos se torna peça de uso diário.



Chapéus e Perucas
As perucas diminuem de tamanho comparadas ao século anterior. Podiam ser estufadas com crina. Alguns homens usavam-nas mais pra trás cobertas por seus próprios cabelos na frente. O talco disfarçava a união do cabelo falso com o verdadeiro. Lá por 1715, as perucas eram empoadas, longas e com cachos de diferentes disposições na frente e nas laterais, com os cabelos caindo dos dois lados do rosto. Como isto era inconveniente, adotaram-se perucas mais curtas com o cabelo amarrado em tranças atrás. Em casa ou nos locais de trabalho os homens tiravam as perucas e vestiam pequenos toucados bordados. 
Neste período, o tricórnio era o chapéu adotado. Grande, com abas ondulantes e pala revirada a partir de 1730. Depois, diminuiu de tamanho e variou nos formatos, sendo decorado primeiro com penas e depois com um debrum. Era sempre levado sob o braço para evitar que o empoamento da peruca saisse. Chegou-se a fabricar tricórnios próprios para serem carregados e nunca usados.


Em casa
Dentro de casa, especialmente durante a manhã, os homens usavam um vestido solto chamado banyan sobre os culotes e a camisa. Eram feitos de seda e às vezes ricamente bordados. No inverno, eram acolchoados. Escritores e artistas são comumente mostrados em retratos usando um banyan e um toucado, um estilo que se tornou associado à atividade intelectual. 

banyan, 1760.


Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

terça-feira, 28 de maio de 2013

A Moda e o Tempo: A Revolução Romântica na Moda

Vocês já devem ter lido o post "A Lei de Laver - A Moda e o Tempo" que falava como fatores econômicos e sociais influenciam o gosto e as escolhas de moda dos indivíduos. Nesta postagem volto a abordar a relação entre Moda e Tempo, mas sob outro ângulo.
Embora os indivíduos tenham sido censurados por se vestirem como jovens ou velhos demais, às vezes a própria moda cometeu o mesmo crime. Em determinados períodos da historia, toda uma geração de carneiros - sem mencionar alguns lobos - usou roupas de cordeiro. Em algumas épocas, os estilos que prevaleceram para homens e mulheres sugeriam maturidade avançada, dando aos jovens uma aparência de meia-idade. 
Essas mudanças na moda não são arbitrárias e extravagantes e sim, o sinal externo e visível de profundas alterações sociais e culturais. A adoção de estilos juvenis nunca envolve a roupa isolada. Invenção, experimentação, novidade e acima de tudo juventude, entram na moda e a própria moda começa a imitar as roupas de crianças. Às vezes os estilos copiados são contemporâneos, com frequência são aqueles que a última geração de adultos usou quando era jovem. Ao vestir estes estilos, os indivíduos comunicam graficamente que se recusam a se colocar no lugar de seus pais ou a se parecer com eles de alguma maneira.

Veja as outras partes desta sequência:
A Moda e o Tempo Parte 1: A Revolução Romântica na Moda
A Moda e o Tempo Parte 2: Os Primeiros Vitorianos
A Moda e o Tempo Parte 3: O Homem Vitoriano e sua Barba
A Moda e o Tempo Parte 4: Mulheres Vitorianas

 
A Revolução Romântica na Moda 

No século XVIII as roupas eram - e foram durante muito tempo - extremamente formais, rígidas e elaboradas. As pessoas ricas dos dois sexos vestiam trajes com enchimentos, barbatanas, fitas, enfeites e bordados. Os pés eram apertados em sapatos de salto e bico fino. As cabeças dos homens recebiam o peso das perucas e cacheadas; as das mulheres, construções complicadas de cabelo verdadeiro e falso que podiam levar horas para serem realizadas e às vezes atingiam alturas surpreendentes (são vistas nos retratos de Maria Antônieta e das mulheres de sua corte). 

A moda extravagante feminina tinha trajes com armação lateral nas saias, enfeites e penteados elaborados. Os homens, igualmente enfeitados com babados, bordados e grandes perucas.



Alguns homens foram longe, com o estilo "macaroni", originado por volta de 1770 por jovens ingleses que viajavam para a Italia. Em suas cabeças um penteado pompadour extravagante.





1880: traje feminino mais simples

A mudança para estilos mais infantis e simples ocorreu na época das revoluções francesa e americana, e foi uma manifestação da mudança politica, social e cultural. Mesmo antes de 1776, o movimento romântico, com ênfase no simples e natural, começou a se refletir no modo de se vestir.

Foi especialmente evidente na Inglaterra, onde franzidos e rendados para homens e enormes armações laterais de saias para as mulheres começaram a desaparecer na década de 1770. A moda americana obedeceu a inglesa embora à certa distância como acontece nas províncias. 

Na França, a extravagância e o excesso de adornos continuaram até a véspera da Revolução quando o Terceiro Estado aboliu a distinção de classes na maneira de vestir* e aristocratas aterrorizados abandonaram suas armações e jóias. Em uma crise, as pessoas tem menos tempo de comprar ou desenhar novas roupas. Uma vez passada a crise, foram introduzidos estilos mais simples, primeiro imitando os já existentes na Inglaterra, depois levados ao extremo.

Por volta de 1800, mulheres e homens usavam o tipo de roupa que deviam ter vestido em crianças: vestidos de musselina branca, decotados, de cintura alta para as mulheres; casacos simples, sem adornos, calças brancas e marrom claras para os homens. As perucas e penteados elaborados cederam lugar a um cabelo mais curto, de aparência mais natural. As saias ergueram-se do chão, revelando tornozelos cobertos por meias brancas infantis e sapatilhas sem salto para os dois sexos. Os poemas de Blake Wordsworth proclamavam a virtude e a nobreza naturais da infância. Estes trajes tinham a energia, espontaneidade e sensibilidade romântica infantil daqueles que os vestiam (continua...).

De fins do século XVIII a começo do século XIX, os homens abandoram os adornos por um estilo mais simples, inclusive nos cabelos: 



As mulheres passaram a usar roupas com aparência infantil: longos vestidos de musselina com a cintura alta e sem os corsets que delimitavam a cintura (meninas crianças ainda não tem cintura), o que dava à elas uma aparência juvenil, pareciam ser mais jovens que suas idades verdadeiras.



* Diferente de hoje que temos uma moda mais democrática e acessível, antigamente as roupas diferenciavam claramente as classes sociais.


O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
Fonte: livro A Linguagem das Roupas
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.

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