A
moda do final do século XVIII e começo do século XIX na França, se divide em
três períodos: o primeiro, de 1789 a 1799, chamado de Diretório, foi um período de mudança brusca nas vestimentas. O segundo
período, de 1800 a 1815, é a época da chamada “moda Império”, baseada na silhueta neoclássica. De 1815 a 1825, ocorre o
período final do Neoclássico, chamado de Regência,
cuja moda muda gradualmente para o estilo romântico.
Mesmo
antes da Revolução Francesa, havia um interesse por tudo que fosse inglês. Na
época, os ingleses gostavam de passar o tempo em suas propriedades rurais e
para isso adotaram uma forma simples de se vestir. Essa liberdade inglesa fez
surgir na França uma onda de anglomania. A busca pela simplicidade significou
o abandono das roupas “da corte”, havendo a adoção das roupas de campo inglesas.
Após a Revolução Francesa, todos os trajes que lembrassem o luxo, excesso,
riqueza e ostentação visual, tão características da nobreza na Era Rococó, eram
agora indesejáveis. Como resultado, a moda sofreu uma transformação radical,
com as roupas se simplificando ao extremo e a França, que ditava moda, passando
a se inspirar na moda rural inglesa, na
chamada “Volta à Natureza”.
1795 – 1799: Diretório
No
início da década de 1790, o traje dos homens – que era bem mais enfeitado do
que o das mulheres, começou a perder a decoração superficial como as rendas e
cores vivas. Esta mudança foi lenta, mas alterou completamente a roupa
masculina que se tornou a partir de então, mais escura. Outras alterações
importantes incluem a adoção das calças dos marinheiros e do proletariado
urbano da Revolução Francesa, o desaparecimento gradual do uso de perucas e do pó
de cabelo.
Durante
os anos de Diretório, o ideal de beleza era neoclássico, ou seja, as mulheres procuravam
se assemelhar às estátuas gregas da antiguidade clássica.
Houve
uma simplificação do traje usado por meninas pré-adolescentes desde a década de
1780, que já não eram obrigados a usar versões em miniatura de trajes de adulto
como os panniers.
Na
moda feminina, além do abandono dos tecidos pesados, das ancas, dos panniers e dos corsets, a cintura se
tornou mais elevada, indo parar logo abaixo do busto. Os vestidos eram
longilíneos e fluídos e viriam a ser conhecidos como “vestido império”. Eram
finos e transparentes em musselina, cambraia ou morim e iam até os pés, sendo
necessário o uso de malhas brancas ou cor de rosa por baixo para disfarçar a
transparência.
 |
reticula |
Havia pouca diferença da
roupa para noite e da roupa para o dia, exceto pela qualidade dos tecidos. Nos
pés as moças usavam sapatilhas sem salto ao estilo bailarina.
Por
conta do tecido dos vestidos serem finos, impossibilitou-se a presença dos
bolsos, surgem então, as primeiras bolsas, chamadas de “retícula” (imagem à direita).
Os
penteados eram simples, repartidos ao meio, presos e com pequenos cachos. Era
considerado elegante enfeitá-los com plumas de avestruz.
No
tempo frio, usava-se o spencer, um
casaquinho curto até acima da cintura, cortado em cores idênticas às do vestido;
o redingote (outro tipo de casaco) também era usado e enfeitado com pele e era
em tecidos pesados.
Na
moda masculina, com o abandono das roupas “da corte” e a aceitação das roupas
de campo inglesas, os bordados desapareceram e as peças passaram a ser em
tecido liso. Agora, o corte e a costura eram indicadores de qualidade e não mais
a quantidade de enfeites e bordados. O casaco se tornou comprido, botas
de formatos diferenciados substituíram os sapatos rococó, os coletes ficaram
curtos, os colarinhos eram altos até a nuca, e eram usado com lenços ao redor
do pescoço.
Nas pernas, calções com bolso faca e botas. Os calções até o joelho,
fraque em tecido liso, scarpin e a meia de seda branca eram usados apenas à
noite. Usavam uma forma primitiva de cartola e cabelos curtos com costeletas.
Era um visual novo e extravagante para a época, os primeiros jovens que adotaram esse look eram chamados de Incroyables
e esta era considerada uma moda de subcultura. Já as moças que adotaram
o visual feminino inspirado nas estátuas gregas eram chamadas de Merveilleuses.
A
moda masculina extravagante do Diretório teve fim quando Napoleão chegou
ao poder, mas a moda feminina se manteve por mais alguns anos.
1804 – 1815: Império
A
Moda Império ou Neoclássica foi inspirada na Grécia antiga e teve seu ápice na
coroação do Imperador Napoleão em 1804. Exceto nos tempos primitivos, na década
de 20 e nos tempos atuais, nunca as mulheres haviam usado tão pouca roupa. Os
trajes pareciam ter sido criados para um clima tropical e de fato, a Europa
estava passando por uma época de temperaturas mais altas que o normal.
Napoleão
Bonaparte foi coroado Imperador em 1804 e fez questão de fazer da
França um país líder de moda. Bonaparte estava seguindo uma longa
tradição de promover a economia francesa através da moda. Sua esposa, a
Imperatriz Josephine era um ícone de estilo e o que usava era copiado
pelas mulheres.
Na moda feminina,
era usado uma espécie de camisola leve,
decotada que ia até os tornozelos com uma saia de formato em “A”, tinha
cintura
alta (logo abaixo do busto), e pequenas mangas bufantes. As roupas
diurnas
poderiam ter golas, mangas e nenhum enfeite. Havia também gradações de
vestidos como: vestido da tarde, vestido de caminhar, vestido de viajar,
etc.
Vestidos brancos eram sinal de status
social, já que o branco suja
facilmente, eles eram usados à noite com enfeites em renda, decotes, um
volume
extra na parte de trás que podia ser carregado nas mãos e eram usados
com
luvas longas. As moças usavam cores suaves como rosa, azul ou lilás. Já
as senhoras cores mais sérias como roxo, preto, vermelho, azul ou
amarelo.
 |
Rufo |
O corset era usado, sem apertar, por uma minoria de mulheres que desejam parecer mais magras, nessa
época haviam lingeries que disfarçavam a transparência dos vestidos, como um
tipo de pantalona em tom nude que ia até o tornozelo e uma peça que evoluiria
para se tornar o sutiã moderno, chamado "divórcio", que servia para separar os seios da mulher.
Os rufos voltaram à moda em tamanhos discretos; o xale era uma peça
essencial no guarda roupas feminino. Saber usar um xale com graça era
característica da mulher elegante. Como
acessórios: luvas,sombrinhas,
leques e retícula. Os sapatos eram sem salto ao estilo sapatilha ou bailarina.
Os
cabelos eram presos, repartidos ao meio, com cachos. As mulheres casadas e
mulheres elegantes deveriam sair às ruas usando bonnets (imagem acima, à direita) com abas largas nas laterais, cobrindo as orelhas.
Na
moda
masculina, os franceses adotaram a moda inglesa como lei. A casimira –
tecido preferido dos alfaiates ingleses, foi introduzida
na França. A casimira é um tecido que pode ser bem esticado e bem
moldado, ao
contrário da seda francesa. Assim, a casimira e as roupas ajustadas ao
corpo se
tornam a essência da elegância e nascem os primeiros Dândis , que surgiram ao mesmo tempo em Londres e Paris.
O dandismo prega a simplicidade na roupa masculina,
peças sem bordados, tecidos lisos, cores primárias, uma elegância refinada,
sóbria. Era um repúdio à extravagância e ostentação da geração anterior.
George
Bryan Brummel, foi o homem que definiu o estilo dandi. Ele se orgulhava de suas
roupas não terem rugas e de suas calças se ajustarem à perna como se fosse sua
própria pele.
Os
trajes dandis eram muitas vezes, sendo as peças: casaca, colete,
calções, casacos, um de cada cor. Os coletes eram curtos e de corte quadrado.
Os botões ficavam abertos pra mostrar o babado da camisa. Durante o dia
usavam-se calções justos por dentro das botas de montaria. À noite, meias de
seda com scarpins. Também podiam usar
calças largas que não mostravam o contorno das pernas.
O colarinho da camisa
era virado pra cima, com as duas pontas projetadas sobre o rosto, firmadas por
um lenço chamado de plastrom, que
eram quadrados de gaze, musselina ou seda dobrados em forma de tira e enrolados
em volta do pescoço. Essa tira, de tão dura, tornava quase impossível virar ou
abaixar a cabeça, o que contribuía para a fama arrogante do dandi.
Os
dandis usavam cartolas ou chapéu bicorne. Os
cabelos eram curtos, ocasionalmente usavam costeletas ou bigodes.
Iniciou-se
o uso da bengala, o novo símbolo da elegância. Após 1819, as roupas dos dandis
ficaram ainda mais extravagantes: as cartolas ficaram com a copa mais larga que
a aba, as extremidades dos colarinhos chegavam quase até os olhos, as calças
terminavam logo acima das botas, o plastrom
ficou mais apertado e mais alto e a cintura passou a ser afinada com
corsets. O corset masculino era chamado de "cinta" ou "vestes", já que a
palavra "corset" soava muito feminina.
1811 – 1820: Regência ou Era Georgiana:
Transição do Neoclássico
para o Romântico
Em
1814, a moda francesa e a moda inglesa divergiam notavelmente. As francesas
ainda usavam muito branco e a saia dos vestido ao invés de cair reta até o
tornozelo, agora abria-se na barra.
Já as roupas inglesas, estavam começando a adquirir
um ar romântico, com elementos elizabetanos que gradativamente viriam a se
tornar a moda Romântica. As
mangas passaram a ter um enchimento nos ombros revivendo a estética Tudor/Renascentista.
Dentre
essas mudanças, houve a volta definitiva e gradativa dos corsets em formato
“pontudo”, mesmo para as meninas. As saias adquiriram formato de cone, se
tornaram mais pesadas e a tinha babados ou adornos perto da barra. Diversas anáguas
voltaram a ser usados para sustentar o formato e volume das saias.
Chapéus e penteados tornam-se mais
elaborados para equilibrar o alargamento saias. Sobretudos e capotes tornaram-se
moda, muitas vezes contrastando com golas de pele ou de veludo.
Na moda masculina o estilo dandi se manteve e a silhueta masculina passa a se inspirar em heróis
medievais, mantendo a cintura fina através de corsets, com os ombros largos e
os quadris curvilíneos. Em 1820, o estilo gótico medieval estava firmemente
instalado na moda e dá-se o fim da moda ao estilo Império.
Curiosidade:
Durante a primeira metade da época Vitoriana, havia uma visão negativa
da moda Império
(1795-1820). Muitas mulheres da Era Romântica e Vitoriana se sentiam
desconfortáveis ao lembrar que suas mães e avós tinham usado este estilo
de vestimenta que poderia ser considerado extremamente indecente de acordo com as
normas morais da Rainha Victoria.
A maioria das mulheres achava um difícil
simpatizar com as lutas de heroínas da arte ou de literatura se
estivessem usando essas roupas. Por isso algumas pinturas das guerras
napoleônicas e ilustrações de literatura foram deliberadamente
alteradas, as moças passaram a usar roupas equivalentes aos anos de 1840 ou eram
anacronicamente transferidos para uma geração anterior (como para a
estética Rococó, por exemplo).
Mais tarde, no fim período Vitoriano e começo da Era Eduardiana o
estilo Império passou a ser considerado uma relíquia de épocas passadas e
já não era tão mal visto. A silhueta foi revivida no final dos anos
1960 e início de 1970 e atualmente é bem comum em vestidos de noivas
"modernas", que não querem casar com um vestido tradicional com aparência Romântica.
O texto foi escrito
pela autora do blog de acordo com pesquisas em livros de Moda lançados
no Brasil e no exterior. Se forem usar o texto na íntegra para trabalhos
ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais
informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.