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terça-feira, 5 de maio de 2015

Breve História do Parc Royal: um Magazine na Belle Époque Carioca

A Belle Époque carioca foi o período em que a cidade do Rio de Janeiro passou por grandes transformações urbanísticas que buscavam transformá-la na "Paris dos Trópicos". 

Foto de Augusto Malta

Entre os anos de 1873 e 1943 existiu no Rio de Janeiro uma loja de departamentos chamada Parc Royal, fundada pelo português José Vasco Ramalho Ortigão. Era localizada na  rua do Ouvidor, no Largo São Francisco. Tinha roupa masculina, feminina, infantil além de tecidos e artigos para a casa, tudo dividido em 32 seções de venda e diversas dependências para uso dos fregueses, com preços competitivos, era  um  local  onde  se  poderia  encontrar o que  havia  de  melhor, acompanhando a evolução da moda e dos hábitos da elite.

Foto de Augusto Malta
 

Au  Parc Royal  foi  inaugurado  em  1873  no  Largo  de  São  Francisco, começando como um pequeno armarinho no prédio nº 122 e logo expandiu-se para  os  prédios  adjacentes, com o sucesso, em 1911, a loja se transferiu  sua  sede  para  a Rua do Ouvidor, passando a ocupar um quarteirão inteiro.

Inauguração da nova loja

A Rua do Ouvidor foi o grande polo de moda do Rio de Janeiro daquela época e o sucesso da Parc Royal se dava em parte por eles importarem as novidades direto de Paris (mas também vendia vestidos de anquinha costurados por escravas). Seu auge foi entre as décadas de 1910 e 1920 - essa é a época foco do livro lançado em 2013 "Parc Royal: um magazine na belle époque carioca".

A autora faz paralelos entre o magazine e outras questões, como a transformação de uma cidade colonial para um Rio moderno e afrancesado que adotava padrões europeus de civilidade. Além do papel da mulher na sociedade carioca e as transformações na indumentária que aconteceram com o tempo, a cultura das aparências e do uso de campanhas publicitárias com lições de etiqueta e onde a beleza e a elegância da mulher era retratada como uma força soberana diante do homem.

 
 

Antes dos grandes magazines, a moda chegava ao Brasil pela revista francesa “La Mode Illustrée”, a loja de departamentos pioneira no RJ, foi a Notre Dame de Paris, inaugurada em 1848, mas não teve tanta expressão quanto o Parc Royal. Este tipo de comércio transformavam roupas e acessórios em objetos de desejo e o vestir em símbolo de transgressão feminina.

O magazine acompanhou o desenvolvimento e o progresso da cidade do Rio. Foi o primeiro estabelecimento carioca a ter uma escada rolante instalada, haviam ventiladores no teto para maior comodidade dos clientes, tecnologias modernas para uma população estava ávida por novidades. Parc Royal  foi precursora também do sistema de preços fixos. A cliente via o preço na vitrine e sabia que ao entrar na loja o mesmo não seria modificado, além de distribuir catálogos onde se podia se fazer encomendas que seriam enviadas direto de sua filial em Paris.

 

Comprar no Parc Royal era um passaporte para a demonstração de uma posição social superior. Elegância, distinção, beleza e novidade eram palavras repetidas à exaustão. Os anúncios tinham um caráter didático: mostravam o que era certo ou errado ao vestir, sempre baseados em normas estritas.  Algumas publicidades eram verdadeiros manuais de etiqueta e civilidade.

"Por meio das fotos e dos anúncios, percebe-se que o magazine era bem elitista. Por outro lado, como uma loja de departamentos, o Parc Royal fazia questão de se apresentar como democratizador de elegância, como se fosse capaz de levar um estilo de vida a uma parcela maior da população, que poderia ascender socialmente justamente através do consumo."  Marissa Gorberg

 
 

"Enormes chapéus cheios de plumas, vestidos de baile, casacos e estolas de pele, luvas, leques e sombrinhas estavam entre os produtos trazidos diretamente de Paris para as mulheres. Para os homens, os ternos “Palm Beach”, sucesso do verão na época, ceroulas francesas de pura lã, gravatas de seda, binóculos de madrepérola da marca francesa Lemaire, “casacos para automóvel”. A moda também exigia elegância nos banhos de mar: o rol de peças incluía costumes de tafetá de seda e cetim impermeáveis, capas de felpo, alpaca e cetim, além de, vejam só, sapatos de banho." Marissa Gorberg

 
 

Além das lojas do Largo de São Francisco e da Avenida Central (hoje Rio Branco), o Parc Royal tinha filiais em Juiz de Fora e Belo Horizonte e um escritório em Paris, que fazia a remessa das mercadorias importadas.
A loja funcionou por 70 anos até que em 9 de julho de 1943, pegou fogo, em um dos maiores incêndios da história do centro do Rio. As chamas foram tão fortes que o prédio desabou. Triste fim para uma incrível história de um dos magazines mais importantes da história da moda nacional.

 


Entrevistas com Marissa Gorberg:

Marissa Gorberg e a história do Parc Royal - Menorah na TV 

e Programa Todo Seu - Entrevista: Parc Royal, um Magazine na Belle Époque Carioca (29/04/14)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Cabelos e perucas coloridas na primeira metade do século XX

Na postagem anterior falei sobre cabelos em tom pastel no século XVIII. Esta idéia de pesquisar a origem dos cabelos coloridos e/ou em tons pastel começou quando uma amiga me perguntou quando havia começado tudo isto. Minhas pesquisas foram me levando séculos e séculos para trás mas também me levaram ao começo do século XX, antes da explosão do surgimento de subculturas como a punk, a glam rock e a gótica. Vou finalizar esse tema momentaneamente falando sobre a tendência de cabelos e perucas coloridas na primeira metade do século XX. 

O texto a seguir foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em fontes estrangeiras. É um artigo que, até o momento de sua publicação, não havia semelhante em outros sites em português. Se usarem trechos desta postagem como referência em trabalhos ou sites, por favor, citem este link como fonte. 
Entre um breve período de 1913 e 1914, cabeleireiros parisienses criaram uma tendência que as líderes de moda mais ousadas da sociedade da época, chocaram os cronistas. Perucas coloridas apareciam em bailes e salas de música e eram, naturalmente, muito caras. Eram de cabelo chinês natural e as fashionistas usavam uma cor de peruca que combinasse com o seu vestido.
A tendência logo foi de Paris à Londres em um jantar oferecido pela Sra. George Keppel para sua filha Violet, o que foi considerado um ultraje pelos membros mais conservadores da sociedade: "cerca de vinte e cinco mulheres convidadas usavam perucas coloridas principalmente em tons de roxo, azul, verde, verde-azul, e muitas variedades da nova tonalidade chamada de "vasco rose" em tons claros, médios e escuros."

O jornal The Omaha Sunday Bee Magazine com um artigo chamado "The Morals of Pink and Blue Hair" foi publicado dia 08 de março de 1914 sob a introdução: "Lady Duff-Gordon discute suas novas perucas coloridas para mulheres, explicando que o cabelo se tornou simplesmente um ornamento". "Lady Duff-Gordon, a famosa "Lucile" de Londres e principal criadora de moda do mundo, escreve a cada semana um artigo de moda para este jornal, apresentando tudo o que é novo e o melhor em estilos para mulheres bem vestidas."
Trechos do artigo:
"Bastante recentemente eu estive em Paris, mostrando alguns de meus mais belos modelos com cabelos em tons charmosos de rosa, azul, violeta e verde. Desde então minhas idéias foram tomadas por muitas fashionable ladies (a autora ainda diz que ao menos um couturiére imitou a idéia ddela clamando ser o autor da "tendência" mas que ela não se importa porque gosta de ver suas idéias dando frutos).
"Ainda ontem à noite uma senhora inglesa me perguntou se era moral usar cabelos rosa ou azuis. Era um baile maravilhoso onde trezentas senhoras usavam perucas azuis ou malva. Eu mesma usava um peruca azul. Eu respondi à ela que "era moral usar roupas então era igualmente moral usar cabelos da cor que você desejar". Hoje, não há nenhuma desculpa para justificar o sentimento de que é "imoral" fazer qualquer coisa que gostemos com os cabelos. Nosso cabelo é agora, um ornamento. Se alguém, por algum momento decidir que quer ter seus cabelos raspados, isso seria considerado imoral? Decididamente não. Absurdo talvez, mas não imoral. Porque então deve ser considerado imoral colocar mais cabelos ou mudar a cor que já existe? Mas porque mudar a cor dos cabelos pode ser feita por alguma outra razão que não seja se tornar mais atraente? Eu acho que é imoral não se fazer mais bonito do que se pode. As coisas são tão sagradas que devemos sempre melhorá-las. Se a humanidade  não pensasse assim, nunca teria progredido."
Em outro trecho mais  ao fim: "Eu fiz um vestido, era um lindo vestido. A garota o vestiu e ficou encantada, mas eu não. Ele era mais belo fora do que no corpo dela. Qual era o problema? Ele era harmônico, vibrante, vivo, mas nela parecia entediante. De repente, eu soube o que era o problema. O cabelo dela era particularmente preto profundo. Eu o retoquei com pó azul aqui e ali e io! O vestido parecia mais vivo, mais vibrante! E então, eu testei outros vestidos e outras cores de cabelos em minhas modelos, eu as mostrei a Paris e Paris ficou entusiasmada. Não porque era algo novo, mas porque era algo verdadeiro. Os vestidos traziam à tona suas belezas completas em cabelos que eram rosados, outros em azul profundo ou em delicados tons de verde. 
É por isso que o cabelo é colorido. Nossas avós empoavam seus cabelos e ninguém considerava isto imoral e elas vestiam perucas também. Pra quem pensa que o pó é prejudicial até mesmo para a pele, uma peruca é muito melhor e elas estão sendo feitas agora nas mais diferentes cores.
O cabelo é apenas um ornamento. É um parte do traje como as rendas de um vestido. Não há nada de moral ou imoral sobre ele ou o que fazemos com ele. É apenas cabelo e isto é tudo."

O texto na lateral  da grande foto de uma modelo de Lucile à esquerda, diz que o vestido de jantar de charmeuse azul é melhorado, segundo Lady Duff-Gordon, quando a portadora polvilha seus cabelos com pó azul. "Uma peruca azul é usada depois com o mesmo vestido para um efeito ainda melhor."

E que tal este artigo de 1935 mencionando cabelos em tons pastel? A imagem é de baixa qualidade mas a partir da metade é possível ler sobre um novo procedimento da marca L'Oreal que tinge a cor dos cabelos por uma hora e que é lavável. E no paragrafo a seguir eles citam um nome: "Coloral", que não entendi se é o nome do produto da L'Oreal ou se é outro produto. Se alguém entende francês e principalmente letras miúdas e quiser tentar traduzir o texto, segue a imagem:



E ainda há este anúncio da década de 1950. Há quem diga que algumas mulheres da década modificavam as cores de seus cabelos para tons pasteís para combinar com o vestido usado para dançar naquela noite.




O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em fontes estrangeiras. É um artigo que, até o momento de sua publicação, não havia semelhante em outros sites em português. Se forem usar trechos deste texto como referência para trabalhos ou sites, citem este link como fonte. 

Fontes consultadas na web:
http://hprints.com/print.php?id=8331&u=3,10\
http://lettersfromhomefront.blogspot.com.br/2012/04/cheveux-de-couleur.html 
http://bobbypinblog.blogspot.com.br/2012/09

domingo, 23 de junho de 2013

Fashion Plates brasileiras da década de 1910

A professora de Moda Jackie Alcântara me autorizou a publicar estas lâminas (fashion plates) que circularam no Brasil na década de 1910! 
As fashion plates foram escaneadas por uma aluna de Jackie cuja família tinha as ilustrações guardadas em casa. Os desenhos foram publicadas no Jornal Illustado de 1911 que eram vendidos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Achei muito legal ter estas referências da moda que se usava no Brasil durante a Belle Époque, muito leio sobre a beleza das mulheres desta época nas ruas do Rio de Janeiro, e ver estas fashion plates são de encher os olhos de pesquisadores de moda!!
Por favor, se forem reproduzir as imagens, citem o blog da Jackie como fonte, pois foi ela quem foi quem primeiro publicou este material. ;)



terça-feira, 28 de maio de 2013

Pin-ups

Engana-se quem pensa que as Pin-ups se resumem às décadas de 1940 e 1950. As garotas de cartazes existem pelo menos desde o fim da Era Vitoriana e ilustraram pôsteres da Belle Époque e Era Eduardiana.

*Atenção: o texto a seguir é resultado de uma pesquisa autoral inédita em português até o momento de sua publicação. Se forem falar sobre as pin-ups dos século XIX e começo do XX nossa recomendação é linkar este artigo do blog como fonte consultada para evitar problemas com os direitos autorais. Este aviso é devido às recorrentes reproduções da pesquisa sem os créditos.

O termo "Pin-up" foi documentado pela primeira vez em 1941, mas já era usado, ao que se sabe, pelo menos desde 1890. O termo se refere a desenhos, pinturas, ilustrações e fotos de moças sexualmente atraentes em poses sensuais. Estas imagens eram reproduzidas em revistas, jornais, cartões postais, calendários, publicidades diversas etc, e visavam ser “penduradas” (em inglês, “pin-up”) em paredes. Elas também podem ser chamadas de cheesecake, termo deriva de uma determinada escola de arte usada nos últimos 100 anos onde o foco é a garota atraente e o fundo da foto pouco importa. O equivalente masculino é "beefcake".

No último trimestre do século XIX, a moralidade vitoriana começou a enfraquecer e pôsteres e cartazes com moças atraentes se tornaram bastante populares. O homem que pode ter inventado esse tipo de cartaz foi o artista parisiense Jules Chéret.
 

É difícil definir a origem das revistas Pin-up. As "Gibson Girl", de Charles Dana Gibson , embora não sejam consideradas de fato pin-ups, prenunciam as características do gênero, pois eram a personificação da ideal beleza americana, além de terem suas próprias histórias satíricas, foram tão populares que ilustravam temperos, cinzeiros, toalha de mesa, sombrinhas e etc do final do século XIX.
 


Outro possível criador das revistas pin-up é o francês Raphael Kirchner, seu trabalho trazia mulheres nuas ou em poses provocativas. 

Lá por 1890 a maioria dos artistas parisienses estavam fazendo cartazes, talvez o mais famoso de todos seja Toulouse-Lautrec, que inclusive fez o primeiro poster do Moulin Rouge.
 

Em 1894, a art noveau também tinha seus pôsteres sensuais.



Uma das mais famosas imagens Pin-up do começo do século XX, é a September Morning de 1912.



A grande "era das pin ups" foi entre os anos 30 e 50, época de artistas como George Petty, Alberto Vargas, Zoë Mozert, Earl Moran e Gil Elvgren.
 

Earl MacPherson fazia fotografia de modelos como referência ao seu trabalho de arte, algumas dessas fotos foram publicadas e durante os anos 40 e 50, as fotografias ao estilo pin up estiveram no auge. As modelos eram as típicas "vizinhas perfeitas" ou artistas de cinema, entre elas Marilyn Monroe cuja sessão fotográfica dela nua em um fundo de veludo vermelho estampou os primórdios da revista Playboy. Mas a modelo pin-up mais fotogafada dos anos 50 foi Bettie Page.

Atualmente, a idéia primordial de pin-ups como ilustração sensual está principalmente nos gibis. Citando apenas três  super heroínas bem populares: Vampirella, Ghost e  Lady Death, são sensuais, flertam com o observador e se vestem com roupas de apelo erótico. 

O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.

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