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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A Moda Feminina de 1750 a 1780

A moda feminina se multiplicou rapidamente a partir de meados do século XVIII. Os estilos ingleses eram populares e tiveram impacto considerável nos trajes franceses assim como as influências vindas do oriente.

Vestido de Corte (robe de cour)
Recebeu esse nome por ser associado à corte de Versailles. Na corte de Louis XVI (1774-1792), os trajes eram extravagantes, reflexo do excesso da vida aristocrática que culminou com a  a Revolução Francesa em 1789.
Populares a partir de 1750, os vestidos de corte perduraram como traje formal feminino até a Revolução. Também chamado de grand habit, é um robe à la française feito de tecidos luxuosos, ricamente ornamentado, com corpete rígido de decote levemente oval, amarrado atrás e terminando numa ponta bastante acentuada na cintura. A saia, ricamente ornamentada é usada sobre um grande panier, terminando num barrado e com uma possível cauda. O corpete e a saia são sempre do mesmo tecido (isso caracteriza o robe à la française) e um bordado simula o stomacher. No vestido de corte, os paniers alcançaram amplitudes extremas, chegando à 3,60 metros lateralmente. Com variantes em cada país, essa traje é usado em toda Europa.



Os Estilos Ingleses (estilos à l'anglaise)

O entusiasmo pelos estilos ingleses na França começou nos últimos anos do reinado de Louis XIV (1643 - 1715) e pegou mesmo em 1755. Devido à moda do esporte e da equitação, as pessoas vão se entusiasmando com os trajes ingleses simples, confortáveis e práticos. 

Como era na Inglaterra?
Na  Inglaterra estava havendo um interesse por comodidade, esportes e um gosto pelo campo. Embora a França ditasse moda, as inglesas elegantes tinham uma interpretação diferente da moda francesa. As inglesas preferiam vestidos mais justos, um exemplo é o sack dress cujas pregas nas costas, na Inglaterra, foram logo modeladas.
As inglesas também gostavam de usar as saias em tecido acolchoado (matelassê) e mantilhas de renda preta sobre os ombros ou fichus enfeitados com laço de fita e presos com jóia. Os cabelos das inglesas não eram empoados e em cima da touca eram usados chapéus de palha conhecidos como champignons ou bergère, moda desconhecida na França. Os trajes ingleses são em tecidos simples, com pouco enfeite, em algodão ou musselina e suas versões na França, costumam ser em sedas.

 
O vestido inglês (robe à l'anglaise)
O que caracteriza um robe à l'anglaise é especialmente o recorte das costas do corpete. O corpete era justo, com barbatanas nas costuras, mas bem mais leve que o super estruturado estilo francês. A frente do corpete tinha um decote profundo normalmente coberto com um fichu de linho (um triângulo de tecido envolto nos ombros e pescoço preso no decote) e formava uma ponta no centro das costas, encontrando uma saia costurada junto à ele que tinha uma fileira de pequeninas pregas nos quadris terminando numa pequena cauda atrás. A saia era suportada não por um panier mas por simples rolls/hips/bumpads  e se abria amplamente na frente sobre uma anágua ou saia de baixo que podia ou não ser do mesmo tecido do vestido (lembram que o robe à la française, a saia de cima é sempre igual à saia de baixo?).
Por volta de 1765, os stays cônicos se flexibilizaram e em 1768, os robes à l'anglaise são recomendados até mesmo para bailes e o robe à la française ficaria reservado para cerimônias. Sendo assim, o vestido inglês se torna uma peça do cotidiano. 
Eu confeccionei um robe à l'anglaise seguindo o molde original da época, vocês podem ver o resultado aqui: robe à l'anglaise: referências e finalização



Vestido redondo (round gown)
É uma variação do robe à l'anglaise, mas a saia e a anágua são uma só, sendo uma saia fechada.



O redingote (riding coat)
Outro estilo inglês era o redingote, desenvolvido do hábito de cavalgada e popularizado na Europa continental depois das primeiras corridas de cavalo em Paris. A peça tinha um corpete ajustado, com grandes botões, lapela, gola dupla e às vezes com a frente cruzada como um sobretudo masculino. A saia podia ser fechada ou aberta pra revelar a anágua. Havia diversas variantes da peça. Era normalmente usado com um imenso chapéu com pena, também de origem inglês. 


Curiosidade: O chapéu não era um acessório corriqueiro na moda francesa e é aí que entra outra influência da moda inglesa, que gerou na França o surgimento dos coiffeurs e dos marchands de moda, criadores de barretes e chapéus imensos que logo entrariam em voga.

Peliças
Durante todo o século, as roupas de pele estiveram em voga, caracterizadas por nesgas com bordas de pele pra passar o braço.



As influências do leste europeu

A partir de 1775 surge uma sucessão de modas ininterruptas, como: à circassiana, à levita, à levantina, à turca, à sultana... originadas por causas diversas, desde políticas, pelo sucesso de retratos turcos, pelas viagens de mulheres dos embaixadores exibindo toaletes orientais ao retornar à França e especialmente pelos figurinos de teatro. Por exemplo, a primeira ideia do vestido à levita (explicado abaixo) veio dos trajes criados para a apresentação Athalie no Théatre Français, que eram inspirados no traje sacerdotal judaico. Listarei alguns exemplos destas modas:


Vestido à Polonesa (robe à polonaise)
Um dos estilos particularmente populares na corte francesa, era um estilo chamado "à la polonaise" - significa "no estilo polaco" (mesmo que esse estilo nunca tenha sido usado na Polônia). Digamos que a característica principal era o corpete ser "afivelado" em cima do busto e ser justo nas costas. A saia de cima era franzida na altura dos quadris e era repuxada atrás por cordões em três painéis de tecido arredondados, curtos nos lados (asas) e longo atrás (cauda).  O vestido era bem curto, algumas vezes chegando até os tornozelos. Tinha mangas lisas que costumavam terminar acima do cotovelo, numa forma conhecida como en sabot, com punho de gaze ou de tecido.


Vestido à circassiana (robe à circassienne)
É uma variedade do à polonesa, do qual difere por suas mangas curtas que deixam passar a manga longa da sobreveste de baixo.



Vestido à levita (robe à lévite)
É um vestido reto segurado na cintura por uma grande echarpe cujas pontas caem sobre a saia de cima. 



Vestido à levantina (robe à levantine)
Vestido tão confortável que exige poucos preparativos pra vestir ou tirar. É um vestido de mangas curtas vestido sobre uma veste de mangas longas, preso no peito e a saia, aberta na frente, podia ter pregas atrás. 



Vestido à turca (robe à la turque)
Apareceu pela primeira vez no Palácio Real em 1779. É como um vestido-casaco, o corpete de cima é bem justo, costurado ao corpete de baixo, assim como as mangas curta e comprida são juntas. É sem muitos enfeites, com uma gola que cai dobrada, e com uma grande faixa atada na cintura. A saia é aberta e cortada reta (como a do robe a l'anglaise). A parte de trás poderia ter pregas ou um bufante semelhante ao do polonaise. 



Vestido à sultana (robe à sultane)
Inteiro aberto na frente, de mangas curtas ou compridas, caracterizava-se basicamente pelo contraste de cores entre as partes das roupas.




Vestidos Simples
Entre 1778-1779, os vestidos en chemise entram na moda.

Vestido chemise, gaule, à la creole ou chemise à la reine
Um vestido en chemise é uma peça enfiada no corpo pela cabeça ou pelos pés. É usado com um corpete leve ou sem corpete, de mangas curtas ou compridas, com cintura normalmente alta, decote livre em torno do pescoço "ao estilo de uma chemise", cintado por uma echarpe e feito de gaze de seda sob um fundo de tafetá ou musselina. Pode abrir-se sobre uma saia leve. O retrato de Marie Antoinete pintado por Mme. Vigée-Lebrun usando um vestido chemise junto com um chapéu de palha foi um escândalo como podem ler no post: Visuais que chocaram épocas



Forreau ou falso vestido
Este vestido foi uma reação contra os stays com barbatanas. É um vestido de uma só peça com o corpete  amarrado atrás e a saia franzida e fechada na frente. Um cinto de fita em cor viva é amarrado na cintura. 
Essa peça era usada pelas crianças inglesas desde meados do século e foi adaptada para mulheres adultas consolidando-se em 1781, no inicio do período revolucionário em razão de sua simplicidade, pois é usado sem os stays e sem panier. É chamado de "falso vestido" por ser uma novidade, ser um vestido "fechado", ou seja, "vestido" são peças abertas sobre uma saia ou anágua.
É confundido com o chemise, mas o chemise tem cintura alta e pode ter saia aberta; já o forreau tem sempre a saia fechada, cintura "normal" e corpete de ponta.


* Existem alguns outros estilos de vestidos não citados nesta postagem. Embora haja alguma iconografia sobre eles na web, não encontrei nos livros e fashion plates definições seguras sobre o que os caracterizava, então, é possível que os aborde futuramente, quando eu estiver mais segura quanto às características principais deles.


Négligées

A partir da regência surgem roupas simples com a forma do vestido em uso no momento.
 Négligé é um traje informal, são pequenas vestes caindo sobre os quadris, mais ou menos ajustadas na frente e folgadas nas costas. Entre 1775-1780, a peça ganha alguns nomes de acordo com o estilo em que é cortado. As nomenclaturas são:

- corte ao estilo do robe à volante: casaquin 

- corte ao estilo do robe à la française/polonaise: caraco. Este tem basques nas costas (pierrot/juste).

- corte ao estilo do redingote: veste


A Moda Espanhola e Italiana no século XVIII
 Vale a pena abrir um espaço pra falar das peculiaridades das modas destes dois países.

Espanha
Enquanto a maioria das classes altas européias copiavam as modas francesas, a moda espanhola variou ligeiramente a partir de meados do século. As espanholas usavam seus vestidos de uma forma mais curta, com pés à mostra, sem paniers e com caracos. Ou seja, trajes bem mais leves que na França, muito comumente vistos nas obras do pintor Goya. Elas adicionavam xales em cores brilhantes e vestiam a tradicional mantilha espanhola, uma especie de véu de renda preta ou branca suportado por um pente tartaruga (tortoiseshell comb) nos cabelos.



Itália
Na Itália, sobretudo nas cidades de Veneza, Milão, Florença, Roma e Nápoles, o robe à la française é o mais usado, mas lá ele é chamado de andrienne. Em Veneza, para sair, veste-se uma capa curta, a tabarrino e a bauta, uma semi máscara branca enfeitada com um babado de renda preta. A mascara preta redonda é a moreta. As damas de da nobreza de Veneza e Gênova usavam muito a cor preta.


Leia mais sobre o século XVIII:
A Moda Masculina de 1700 a 1770
A Moda Feminina de 1700 a 1750

A Moda Masculina de 1770 a 1789
Existe diferença entre a Moda Georgiana e a Moda Rococó?
Robe a L'Anglaise, Parte 2: Referências e Finalização
Cabelos em tom pastel no século XVIII

Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Moda Masculina de 1770 a 1789

As roupas masculinas mudaram muito lentamente no século XVIII. França e Inglaterra lideravam tanto na moda masculina quanto na feminina.
Leia também: 
A Moda Masculina de 1700 a 1770
A Moda Feminina de 1700 a 1750
Existe diferença entre a Moda Georgiana e a Moda Rococó?

O perfil masculino afinou durante as últimas décadas. Os brocados extravagantes do começo do século deram lugar a tecidos mais finos em cores lisas ou em listras e os adornos lentamente desapareceram até o fim do século. A casaca ficou mais justa e as pontas da frente se abrem ainda mais. O colarinho é reto, as mangas são abotoadas. 


 A influência da moda campestre inglesa simplificou os trajes masculinos do fim do século XVIII (década de 1770):


O colete terminava em duas pontas de cada lado do abotoamento frontal e aos poucos essa ponta foi encurtando, até que se tornaram retas na cintura. A peça passou a não mais ser abotoada da gola à bainha.

O colete ganha pontas retas na cintura e não mais é abotoado até o pescoço
Podemos ver dois modelos de colete em voga, o antigo, com pontas bem bicudas e o novo modelo com pontas cada vez menores.

Os "exageros" permanecem apenas no traje de corte, composto de casaca, colete e calça em tecidos luxuosos e frequentemente realçados por babados misturados a fios de ouro ou prata, paêtes metálicos e vidros coloridos.
O chapéu à Androsmane cuja terceira ponta é fechada por uma dobra da aba anterior prefigura com sua forma alta e alongada.

chapéu à Androsmane

O Frock Coat.
Com as laterais se afastando da cintura, o casaco se manteve longo nas costas caindo em três partes com duas aberturas. Baseado nas roupas inglesas de montaria este design foi chamado de frock coat ou redingote e influenciou também a moda feminina.
Curiosidade: Nos primeiros anos do século XIX, as aberturas das costas se fecharam e a saia caiu em cauda. Essa foi a origem do fraque, usado até hoje formalmente para casamentos e bailes.

As costas com duas aberturas, futuramente originariam o fraque.

Macaronis
Enquanto os homens abandonavam lentamente os adornos desnecessários influenciados pela moda inglesa, havia um grupo de jovens que, ao contrário, queriam o exagero absoluto. Eles são referidos como Macaronis e apareceram entre as décadas de 1770 e 1780. Eram jovens ingleses que adotaram a alta moda da França e Itália. O estilo deles era espalhafatoso, exagerado, super ornamentado e frívolo. Usavam altíssimas perucas empoadas, pequeninos chapéus tricórnio e ramalhetes de flores. Eram vítimas de muitas piadas e caricaturados de forma agressiva. Escandalizavam pelo fato de serem obcecados pela moda em primeiro lugar. O século XVIII foi o período em que a moda se tornou de gênero e eles estavam destruindo esta regra. Por uma variedade de razões, naquela época, a palavra "Moda" se tornou um assunto de mulher. Ao se envolver com  a alta moda, eles estavam usando a moda como as mulheres usavam, o que foi muito escandaloso.
Leia mais sobre os Macaronis no post: Visuais que chocaram épocas.

Macaroni: Caricarura

De perucas à cabelos reais
No fim do século XVIII, as perucas foram descartadas por muitos homens em favor de um cabelo "selvagem", despenteado. O chapéu tricórnio, que se tornou menor e menos ornamentado desde meados do século, foi abandonado na Europa; no lugar dele foram usadas as primeiras cartolas.

Casaco, colete de barra reta, culotes, meias listradas e um chapéu de copa alta, que originaria as cartolas:


Culotes (breeches) 
Os culotes se tornaram mais ajustados no fim século XVIII.

Nestas fotos da década de 1780, é possível ver como as roupas se simplificaram e a silhueta afinou, inclusive com os culotes ficando bem justos.
 

O traje escocês
Vale a pena abrir um espaço pra falar do "kilt", surgido no século XVIII. 
Documentos antigos mostram que os escoceses usavam uma peça retangular vestida por cima da roupa. Esta peça, com listras entrecruzadas, foi enrolada na cintura e a ponta jogada por cima do ombro, sendo combinada com túnicas, coletes e calças curtas. Era uma roupa aristocrática e a disposição das listras entrecruzadas se tornou o xadrez dos clãs escoceses (uma espécie de brasão). 
Em 1720, o kilt foi registrado pela primeira vez. A peça retangular citada acima (conhecida hoje como great kilt) foi cortada, a parte de baixo enrolada em torno da cintura e presa com um broche e a parte superior se tornou uma echarpe independente. Posteriormente os highlanders adotaram este traje como uniforme militar.

Os primórdios do Kilt, em 1734.

Curiosidade: um alfaiate chamado Dartigalongue anunciava em 1770 que era possível comprar em sua loja roupas todas prontas, de todos os tamanhos. Era a primeira idéia da moderna confecção pret à porter.

Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Moda Feminina de 1700 a 1750

O século XVIII viu o nascimento da indústria moderna da moda na Europa. As revistas de moda surgiram, assim como as fashion plates (lâminas de moda). Pela primeira vez, os estilos podiam ser desenhados e copiados amplamente. A moda começou a mudar mais rapidamente liderada por Paris e Londres. As modas eram ditadas não por motivos práticos, mas por tendências de arte, cultura, política, novos descobrimentos, inovações tecnológicas e avanços científicos. Algumas modas européias eram, de fato, tão impraticáveis que renderam à seus usuários uma incapacidade de fazer as atividades diárias.
Fora de Paris e Londres, a moda mudou lentamente. Nas terras de clima quente, roupas eram básicas e até mesmo inexistentes. O conceito de mudança de modas (tendências) era algo inimaginável em outros países. Em alguns lugares, roupas estruturadas de forma simples eram belamente adornadas seguindo estilos e moldes que não mudavam há gerações.

A Roupa Feminina de 1700 - 1750
As roupas usadas pelas classes altas da França e da Inglaterra definiram os estilos usados na Europa Continental e na América. Apesar de haver variações regionais nas roupas das pessoas das classes trabalhadoras, a classe alta num geral usava roupas muito parecidas.
No século XVIII as mulheres pararam de usar os corpetes pontudos com um vestido aberto sobre uma saia. Este estilo continuou apenas na primeira década do século XVIII mas logo foi substituído pelo sack ou sack back dress.

O Robe à volante (Sack Dress)
Surgiu em torno de 1705 e tornou-se rapidamente popular permanecendo em voga até a década de 1780, embora houvessem outros estilos de vestido a partir de 1720. O robe à volante era um vestido largo e sem uma forma muito definida, tinha um pedaço de tecido preso ou pregueado dos ombros à bainha na parte de trás. Algumas vezes a amplidão da saia de cima era presa na saia de baixo o que fazia com formasse puffs, era comum prendê-la para alcançar os bolsos que eram colocados sob o panier. A frente da saia poderia ser aberta para mostrar a saia de baixo, ou  fechada. Na frente há pregas largas enviesadas no decote. Uma característica muito peculiar do robe à volante são as mangas partindo do ombro, planas no topo e mais largas nos cotovelos, terminando com um punho rígido e plissado. São combinados com um penteado leve, muitas vezes sem touca.




Panier (pannier)
O que dava forma ao "sem forma" robe à volante eram os paniers. Era uma estrutura larga feita de tecido,fitas, cana, barbatana de baleia ou de metal. O panier era inicialmente circular, mas a forma mudou entre 1725 e 1730 se tornando oval e maior, depois se estreitaram expandindo lateralmente. Havia paniers de todo tipo. A circunferência chegou a 3.60 metros em seu momento mais extremo. O vestido se tornou tão largo que as mulheres tinham que atravessar portas virando o corpo lateralmente. Mais tarde, os paniers foram feitos em duas partes, uma pra cada lado (pocket hoops). Ficaram na moda até a década de 1760 e continuaram parte do traje formal de corte mesmo após esta data.


panier inicial, arredondado.


panier num de seus tamanhos extremos


Roba à la Française
O robe à volante perde um pouco de seu volume e em torno de 1720 aparece o robe à la française. Ele tinha duas séries de pregas caindo soltas na parte de trás, do pescoço à bainha, cuja saia terminava em cauda. A frente era moldada num corpete justo com um stomacher triangular ricamente decorado preso nas laterais do corpete. Algumas vezes o stomacher era substituído por diversos laços em tamanhos decrescentes. O vestido de cima caía amplamente aberto sobre uma anágua (petticoat) de mesmo tecido bastante decorada. A decoração também contornava o pescoço com babados. As mangas eram médias, lisas e mostravam um punho cheio de rendas. Permaneceu como vestido de gala até a revolução francesa. O corte do robe à la française não varia. 

duas séries de pregas caindo soltas na parte de trás do pescoço
É comum em alguns sites estrangeiros, as pregas nas costas do robe à la française serem chamadas de "pregas Watteau". Porém as pregas não tinham esse nome na época e o pintor não participou de sua criação. 

Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Moda Masculina de 1700 a 1770

Na Europa e EUA a roupa masculina mudou lentamente durante o século XVIII. França e Inglaterra eram as líderes do segmento.

Três Peças Essenciais
O traje masculino formal tem a partir de 1720, três elementos principais: a sobreveste/casaco (justaucorps), a veste e o culote (breeches). Estas peças constituem o habit usado por todas as classes sociais, com diferenças no tecido ou ornamentação.

O habit é composto por 3 peças essenciais

A sobreveste/casaco (justaucorps) tinha a frente reta com botões do pescoço à bainha e ia até os joelhos, quase cobrindo os culotes; bolsos grandes, largas mangas com punhos extravagantes virados para fora e nenhuma gola. Tinha uma saia de fendas e pregas nas costas e do lado, sustentadas por crina. Era comum colocar arame na bainha para que ela ficasse erguida para fora. Na segunda metade do século, as pregas da saia diminuem e a frente se abre amplamente depois do último botão, com as abas indo para trás.

Sobreveste (justaucorps)

A veste tem tecido ordinário nas costas e tecido rico na frente e na ponta das mangas, era tão longa quanto o casaco e abotoada por toda a frente. Embaixo da veste, o homem vestia uma camisa branca com babados de renda no punho e na frente. Um cravat de renda era usado no lugar da gola até 1735. Depois, um stock (uma tira de tecido rígida) era usado, às vezes com uma tira preta chamada solitaire. A veste podia ser usada aberta pra mostrar a renda da camisa.

O culote  (breeches) ia até os joelhos, fechado por botões ou laços. À medida que a veste encurta, o cós do culote sobe, sendo necessário o uso de suspensórios. Meias de seda brancas ou coloridas eram enroladas no topo dos culotes e presas com uma liga.
Para roupa informal e entre os homens da classe trabalhadora um casaco chamado frock (frock coat) era usado, menos rígido e com uma gola pequena e virada.

Sobreveste e veste em destaque, 1745.

Mudança de Formas
No decorrer do século, tanto a saias do casaco quanto a veste se tornaram mais estreitas. A veste ficou mais curta, perdeu as mangas e ganhou o nome de colete (gilet) com pontas triangulares.
O casaco (justaucorps) se tornou mais justo. A partir de 1730, a frente se curvava para trás pra mostrar os culotes e podia ser abotoado somente até a cintura. Era incomum vê-lo todo abotoado.
Os culotes eram cortados justo às pernas, formando uma silhueta mais magra. 


O redingote, peça originária da Inglaterra (riding coat) é uma nova peça de roupa, inicialmente usada pra vigem ou esporte, aos poucos se torna peça de uso diário.



Chapéus e Perucas
As perucas diminuem de tamanho comparadas ao século anterior. Podiam ser estufadas com crina. Alguns homens usavam-nas mais pra trás cobertas por seus próprios cabelos na frente. O talco disfarçava a união do cabelo falso com o verdadeiro. Lá por 1715, as perucas eram empoadas, longas e com cachos de diferentes disposições na frente e nas laterais, com os cabelos caindo dos dois lados do rosto. Como isto era inconveniente, adotaram-se perucas mais curtas com o cabelo amarrado em tranças atrás. Em casa ou nos locais de trabalho os homens tiravam as perucas e vestiam pequenos toucados bordados. 
Neste período, o tricórnio era o chapéu adotado. Grande, com abas ondulantes e pala revirada a partir de 1730. Depois, diminuiu de tamanho e variou nos formatos, sendo decorado primeiro com penas e depois com um debrum. Era sempre levado sob o braço para evitar que o empoamento da peruca saisse. Chegou-se a fabricar tricórnios próprios para serem carregados e nunca usados.


Em casa
Dentro de casa, especialmente durante a manhã, os homens usavam um vestido solto chamado banyan sobre os culotes e a camisa. Eram feitos de seda e às vezes ricamente bordados. No inverno, eram acolchoados. Escritores e artistas são comumente mostrados em retratos usando um banyan e um toucado, um estilo que se tornou associado à atividade intelectual. 

banyan, 1760.


Fonte de Pesquisa da autora:
História do Vestuário no Ocidente
The Eighteenth Century
A Roupa e a Moda

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Banhistas da Era Diretório


A imagem acima é um cartoon publicado entre 1810-1815 que ilustra jovens banhistas da era diretório. Os homens usam calção curto e abotoado. A mulher está usando um traje específico para o banho na altura dos joelhos.
Se esta ilustração foi inspirada numa cena real, mostra um lado pouco visto e comentado desta época e porque não, revolucionário. Os elegantes calções masculinos; a presença feminina num momento tão "pouca roupa em público junto aos homens" juntamente com o fato de o elemento água e mulheres sempre terem sido cercados de superstições.

 Me veio à mente as seguintes questões:
- já havia um traje de banho masculino nesta época? Se sim, ela era bem ousada quando comparamos com os trajes de banho do século XIX.
- a imagem é fantasiosa?
- seriam estes trajes pertencentes à famosa juventude rebelde da época, os Incroyables et merveilleuses?
- seria um traje experimental?

Acredito - baseado em muita coisa que li - que imagens não devem ser consideradas verdades supremas em história da moda e da arte. A elite e suas roupas sempre eram melhoradas nas obras (assim como hoje nos photoshopamos); há cartoons irônicos e satíricos que são divulgados em sites e blogs como se fossem fatos reais; há diversas roupas históricas em museus que se revelam bem mais "simples" do que pareciam ser nas obras de arte e imagens (desenhadas) de época...

Vocês tem mais informações sobre a existência deste tipo de trajes de banho nesta época?  


Fonte: https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Le_Supreme_Bon_Ton_15_Les_Nageurs.jpg 
também publicado em La Revolution Française Images et récit. 1789-1799 de Michel Vovelle, 1986.

sábado, 19 de outubro de 2013

Uma breve história dos corsets, seus mitos e controvérsias.

Neste post, abordarei uma breve história do corset, nos mitos e controvérsias em torno da peça e no que acredita-se ser sua real função na história.
Embora hoje digamos "corset renascentista", "corset rococó", "corset vitoriano", a peça nem sempre foi chamada assim. No texto vou chamá-los como eram chamados em suas épocas pra ficar mais fácil de entender as mudanças ao longo dos tempos.  
Basicamente os nomes eram: bodies/pair of bodies/whalebone bodies até o século XVIII. No século XVIII até começo do século XIX eram denominados "stays" e só a partir de 1850, "corsets".

Controvérsias:
O corset (também chamado em português de espartilho) é a peça mais apaixonante e controversa dos últimos tempos. Quem ama a peça diz que é o ícone feminino da sensualidade; quem odeia, que é uma ferramenta da dominância e opressão masculina e que as mulheres eram "obrigadas" a usá-la. Os debates entre seus fãs e seus haters provocam furor há mais de um século. O corset também é responsável pela versão mega simplificada de que "libertou" as mulheres, como se as mulheres do passado fossem fashion victms sem cérebro e sem poder sobre suas ações. Não era bem assim como vou mostrar a seguir.

Breve história da peça
Peças semelhantes à corsets podem ser vistas em iconografias da grécia antiga, creta e até mesmo no começo da Idade Média, mas não há registros de que tais peças tinham a mesma estrutura e que foram usadas com frequencia pelas mulheres, então, considera-se que os primeiros corsets, na verdade chamados de bodies (whalebones bodies ou pair of bodies), foram desenvolvidos entre 1500–1550, feitos de barbatana de baleia e muito rígidos; davam ao corpo uma forma cônica. Havia tiras nos ombros pra sustentá-los e terminavam logo acima do osso pélvico. 
Existem imagens na internet de corset de ferro do século XVI, estes corsets realmente existiram mas não eram de uso fashion, eram ortopédicos para pessoas com problemas na coluna.

O pair of bodies à esquerda pertenceu à rainha Elizabeth I

A forma cônica dos bodies/stays permaneceu em voga até o século XVIII. O que variava era a altura, algumas vezes mais curta e com ou sem alças.

Stays


A peça enfraquece na revolução francesa e em 1810 reaparece na França num formato que separava os seios. Em 1840, após a invenção dos ilhóses, o formato dos stays vai se aproximando do da ampulheta, mas a peça ainda era longa até os quadris. A partir de 1850, como vão ler no texto mais abaixo, a peça ganha o nome de corset, enfatizando ainda mais a cintura - e perde as alças.


1810 - 1840

Entre 1880 e 1890 a peça ganha novo formato, com cintura mais baixa e busto cheio. Em 1900, surge o modelo de frente reta e curvas na parte de trás dando uma forma de "S" à silhueta feminina. 

Entre 1902 e 1908 a peça desce até os quadris com ligas para meias acopladas. Entre 1908–1914 o corset vai até quase o meio das pernas e já é usado com uma espécie de sutiã. Com a primeira guerra em 1917, a peça desaparece aos poucos. E só é reintroduzido por Christian Dior em fins de 1940, porém, a peça se assemelhava mais a um corselet. Os corsets/stays em sua forma e modelagem historicamente originais só ressurgem na década de 1980.

1900, 1908, 1917


Quem os usava?
Os bodies (whalebones bodies ou pair of bodies) foram primeiro usados nos anos de 1500 por aristocratas e nobres da Espanha e Itália. Rapidamente se espalharam pela França, Inglarerra e pela europa ocidental em geral. Depois passaram a ser usados pela classe alta, a seguir pela classe média e a partir dos anos 1800, com o advento da revolução industrial e a produção em massa de roupas, também pela classe trabalhadora.


Qual a função dos bodies, stays e corsets?
1. Postura:
Quando surgiu o propósito era criar uma silhueta altiva e artificial para a aristocracia, já que auto-apresentação era algo muito importante para os nobres. Especialmente na Renascença, a postura altiva que os rígidos whalebone bodies provocavam era admirada.
Por 400 anos, médicos acreditaram que o corpo era fraco e precisava de um suporte pra crescer forte, daí o motivo de crianças serem vestidas desde os 3 anos com a peça. Os meninos paravam de usar com 6 ou 7 anos e as meninas - consideradas com corpo mais fraco e que não se sustentaria sem apoio - usariam a peça por toda vida.
 
2. Suporte:
Outro grande propósito da peça era o suporte do busto. Vemos essa função de suporte dos seios especialmente nos stays do período império, época em que a cintura subiu para logo abaixo do busto. É aqui que entra o mito de as mulheres terem sido "obrigadas" a usar a peça, na verdade, havia sim uma exigência social, mas precisamos imaginar que os stays/corset funcionavam também como sutiãs.

stay de 1800

Quem vê corsets vitorianos sobreviventes percebe que alguns tinham ganchinhos externos. Essa era mais uma função da peça: juntar ou segurar a parte de cima (corpetes) com a da baixo (saias).


Afinar a cintura?
O fato de a cintura ser levemente afinada era parte do efeito de usá-lo desde muito cedo. Por vários séculos, ter cintura fina não era o destaque na silhueta. Se observarem a silhueta elisabetana, a barroca, a rococó e a império nenhuma delas tem foco na cintura, o foco só começa a partir da era romântica.


Revolução Francesa:
Os stays do século XVIII tinham a forma de cone como ilustrado acima, já naquela época alguns médicos achavam que provocava doenças e as mulheres seriam mais saudáveis se não os usassem. Em 1790, com a Revolução Francesa e início da moda Diretório e Império, muitas mulheres cortavam a parte de baixo dos stays e os usavam como brassiere (uma espécie de ancestral do sutiã, peça que sustentava os seios) com os vestidos Império. Essa foi a primeira vez em 300 anos que as mulheres abandonaram os stays. Na foto abaixo, uma brassiere - ancestral do sutiã - que pertenceu à imperatriz Joséphine.



Qual a relação entre a rejeição da peça na revolução francesa e a aristocracia?
Quando a revolução francesa explodiu, tudo que fosse relacionado à aristocracia devia ser simbolicamente destruído. Os stays eram uma peça que veio da aristocracia. Assim como saltos altos. Na revolução todos queriam e precisavam respirar liberdade.  Assim, stays e saltos altos foram substituídos por corpos livres e sapatilhas.


O retorno como "corset":
Roxey Ann Caplin, escritora e inventora britânica é apontada como a criadora do corset vitoriano. Em 1848 ela apresentou um "corset higiênico" com um busk em metal eletromagnético patenteado por ela (Joseph Cooper já havia inventado o busk de encaixe) que permitia o corset ser retirado sem ser totalmente desamarrado.
Em 1851 ela foi premiada pela invenção de seu novo modelo com fechamento de encaixe por busk de metal. O corset original inventado por Caplin está no Museu de Londres. É uma peça que aparentemente nunca foi usada e é na cor azul. Naquela época não eram usados corset coloridos, apenas em tons de branco, bege, cinza, o corset azul foi feito exclusivamente para ser apresentado ao público como nova invenção. Em 1851, Roxey Ann Caplin era a única fabricante deste tipo de modelo. Até então, as mulheres usavam os modelos estilo stays. Foi a partir daí que o design criado por ela influenciou os designs de corset do século XIX, os chamados "corsets vitorianos", que agora não tinham alças, exibiam o formato de ampulheta e não de cone como nos séculos anteriores.

Corset com busk de metal, barbatanas de baleia e na cor azul, nunca usado, feito pra exibição de 1851 de Roxey Ann Caplin

O corset mantinha o prestigio aristocrático, mas com o advento da produção em massa, eles foram levados à classe trabalhadora. As mulheres da classe trabalhadora vitoriana também usavam corsets, comprados prontos, no que chamaríamos hoje de tamanhos "P/M/G". Devido à esta "popularização" dos corsets, boa parte da fama elitista da peça cai por terra. O motivo de as mulheres vitorianas usavam corset é porque queriam estar (ou parecer) na moda. Mulheres flácidas e de peles caidas não eram consideradas belas, apenas mulheres "firmes" e a peça dava essa firmeza corporal, por isso era respeitável. Todas as classes sociais viam o corset como uma peça de embelezamento que criava uma boa figura. 


Tight Lacing
Há muitos mitos sobre a cintura finíssima dos vitorianos. Muito dos relatos sobre estas cinturas eram marketing de venda de uma beleza idealizada e ficções fetichistas.
Ao contrário do que se pensa, apesar de todo o puritanismo, os vitorianos não eram anti-sexuais. Os corsets eram vistos como belos e erotizantes, MAS davam respeitabilidade às mulheres, uma mulher sem corset não era vista respeitosamente.
Praticantes de tight lacing na era vitoriana eram extremamente raros. Os periódicos para mulheres do final da década de 1860 e 1870 e depois, no final dos anos 1880, traziam artigos fantasiosos de bondage e sadomasoquismo. Havia um fetichismo masculino sobre corsets e tight lacing de garotas e garotos enlaçados ou em crossdressing.
Esse tipo de informação deve ser visto como fantasias sexuais masculinas e não como comportamento habitual das mulheres vitorianas. Fetichismo sempre foi hábito de uma minoria populacional (até hoje) e predominantemente por homens (mulheres fetichistas são raras*) obcecados por tight lacing que fantasiavam ser enlaçados por prostitutas em bordéis. Esse fascínio underground pelo tigh lacing continua até hoje.

Uma boa comparação, pra melhor entendimento do fato é comparar corsets com saltos altos e tight lacing com saltos altíssimos: hoje, muitas mulheres usam saltos altos em seu dia a dia, mas sapatos de saltos altíssimos são menos/raramente usados. Se a mulher for numa festa, óbviamente ela colocará um salto mais alto que o habitual. O mesmo podia acontecer na Era Vitoriana, ao ir numa festa, a mulher apertar um pouco mais o laço, o que não fazia dela uma praticante do tight lacing
Então, imaginar que todas as mulheres vitorianas praticavam tight lacing e tinham cinturas minúsculas é como dizer que nós, atualmente, usamos salto de dominatrix no cotidiano. É  preciso ter cuidado pra não confundir fantasia fetichista com comportamento habitual das mulheres do século XIX.


O corset e as doenças:
Para os médicos da época, uma cintura perigosa era do tamanho de 38cm. Corsets vitorianos remanescentes em museus mostram que muitas cinturas da época equivalem ao tamanho atual de uma cintura P (algo em torno dos 65cm). Não eram dramaticamente pequenas como as ficções fetichistas e os médicos da época diziam que era. Vale lembrar que as mulheres usavam corset desde pelo menos 3 anos de idade então, obviamente, a peça moldava e acinturava o corpo desde então.

Os médicos vitorianos que eram contra a peça, diziam que a mesma provocava escoliose, ataque do coração, câncer de mama e deformação de bebês. A historiadora de moda Valerie Steele entrevistou médicos e enfermeiras pra descobrir quais doenças poderiam ser causadas pelo uso do corset mas não há nenhuma evidencia concreta sobre a peça ser responsável por alguma doença. Há relatos risíveis de médicos que acreditavam que o corset  fazia o sangue esquentar e subir para o cérebro, o que  provocaria efeitos lascivos e até mesmo tornaria mulheres estéreis. A maternidade era algo muito valorizado no século XIX.


Corsets hoje
Assim como lemos no post sobre a exposição La Mécanique des Dessous, o corset hoje se tornou internalizado por plásticas e lipos. Mas a peça em si reapareceu com os punks no fim dos anos 1970 com status subversivo. 
A peça, históricamente uma underwear, era usada pelos punks como peça externa, de estilo. Então, se hoje usamos corsets como uma peça de estilo, exteriorizada, devemos parte à subcultura punk. A peça também foi usada por góticos e reinventada nos anos 1980 por estilistas como Christian Lacroix, Vivienne Westwood, Thierry Mugler, Jean Paul Gaultier. Club Kids, garotas roqueiras e mais recentemente a cena heavy metal feminina e as cenas retrô e burlesca mantém a fama alternativa que a peça ganhou no fim do século XX.

Não podemos deixar de citar a importância de Madonna na percepção popular/mainstream do corset a partir dos anos 1980. Madonna foi a responsável por tirar do corset a fama de peça opressiva da sexualidade feminina (o que já era um mito) e dar à peça uma imagem de sexualidade feminina agressiva. Se hoje as mulheres usam o corset externamente como peça de sensualização, de "poder" feminino, muito se deve à ousadia de Madonna e à nova imagem  - menos underground e mais poderosa - que ela deu ao corset para a cultura de massa nos anos 80.

O corset vive seu momento de revival desde meados da década passada, graças à outra artista mainstream: Dita von Teese. Embora Dita tenha um passado underground alternativo-fetichista, ela mudou seu estilo pessoal quando foi abraçada pela cultura mainstream. Seus corsets mudaram de "sexualidade agressiva" para um status de feminilidade extrema, sensualidade e delicadeza. Essa nova imagem mais suavizada e feminina do corset atrai atualmente muitas mulheres e garotas que se identificam com o ideal feminino clássico de cintura fina, quadris largos, fragilidade e sensualidade.

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O texto é inspirado no conteúdo do livro Corset: A Cultural History da historiadora de moda Valerie Steele. 
*O livro Fetiche - Moda Sexo e Poder da mesma autora fala sobre o fato do fetichismo ser uma característica sexual majoritáriamente masculina, a questão do homem castrado. Uma minoria absoluta da população feminina é fetichista, muitas começaram a praticar tigh lacing por causa dos homens/maridos.

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