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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Décadas de 1920 e 1930: Cinema, Musas e Vamps


As três primeiras décadas do século XX. Foram décadas de mudanças radicais: a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Comunista, o Fascismo, o nascimento da Arte Moderna e o Jazz que se tornara a trilha sonora de uma geração ávida por novidades. Toda essa agitação era vista nas ruas, nas atitudes do dia a dia. Essa década é considerada uma das mais radicais na história inteira da Moda.
Na década de 1920 na América e Europa, havia uma mania por Egiptologia, ampliada pelas descobertas arqueológicas do Vale dos Reis, no Egito. Uma aura de mistérios sinistros envolviam as descobertas. E isso se manifestou nas roupas - como a adoção de peças árabes e orientais, assim como nas jóias com serpentes. Nesta década, o ocultismo também deu as caras com o mago Aleister Crowley e sua nova doutrina, a Thelema. Antigos símbolos egípcios como a cruz Ankh e o Olho de Hórus eram populares na época.


As pessoas queriam roupas práticas para andar de automóvel e dançar o Charleston. Nas mulheres, a barra das roupas subiu escandalosamente para os joelhos,os cabelos eram cortados curtos no estilo bob, podendo ser ondulados, criando um visual infantil e assexual. A atração sexual estava toda nos tornozelos. Pela primeira vez em séculos, o corset foi abandonado dando lugar à corselets ou corpetes usados por baixo da roupa, desenhados de forma a achatar os seios, mas sem restringir os movimentos, totalmente contrário à antiga moda do corset que enfatizava os seios e os quadris e era um símbolo da opressão feminina. O look ideal da década de 20 era uma mulher despeitada, magérrima e sem curvas, estas, escondidas por vestidos soltos e fluídos. Uma mudança radical na moda em tão pouco tempo. Porém, o desuso do corset não eliminou a opressão das mulheres, tornou-se comum desordens alimentares como anorexia e dietas emagrecedoras.


A leveza e suavidade da moda da década de 20 contrasta radicalmente com a da década anterior, a Eduardiana.


Outra grande diferença da década de 20 para o século XIX foi o uso de cosméticos. Na era Vitoriana, a maquiagem era destinada apenas às prostitutas. Na década de 1920 as mulheres se empoavam em público e a invenção do batom em tubo em 1915, fazia com que as elas pudessem aplicá-lo em qualquer hora e lugar. O cinema começou a influênciar a moda, e então os estúdios começaram a contratar estilistas pra produzirem o figurino dos filmes, tornando as atrizes ícones de estilo e com isso provocar desejo de consumo nas mulheres.


Uma das primeiras sex-simbols do cinema era um tipo de protótipo da garota gótica atual: Theda Bara. Ela é a responsável por alguns dos itens de maquiagem mais importantes de qualquer gótica do século XX. Em 1917, foi aconselhada por Helena Rubinstein, a maquiadora russa que maquiava as glamurosas bailarinas e a aristocracia russa. Helena sugeriu à Theda, explorar seus imensos olhos com rímel preto. O rímel ainda era praticamente desconhecido na América e Theda chocou a audiência do cimena com seus olhos pintados de preto (como os de egípcias como Cleópatra) e com a primeira aparição na tela de unhas dos pés pintadas. Os olhos de "panda" se tornaram sua marca registrada. Sua boca era pintada de vermelho vivo como se todo o sangue do rosto estivesse lá. Contrastando com a moda vigente, Theda tinha cabelos longos, era curvilínea e isso não a impediu de ser considerada a mulher mais bela de Hollywood. 
Sua primeira aparição no cinema foi no filme "A Fool There Was", onde ela era creditada sob o nome de "The Vampire". Theda apostou nessa imagem e vendeu à imprensa uma história de vida cheia de mistérios, dizendo entre outras coisas ser a reencarnação de Lucrecia Bórgia, Cleópatra e de Elizabeth Báthory. E foi quando ela interpretou Cleópatra no cinema que a nomenclatura "Vamp" foi adicionada ao vocábulário da moda.
Vamp significa algo vampiesco, uma femme fatalle, uma mulher mortal que usa seus encantos sexuais como arma.
Porém em 1920, com 35 anos e 5 anos de carreira e cansada do esterótipo Vamp, ela se aposenta, já que os estúdios recusavam dar à ela papeis mais variados.


Theda Bara, a primeira vamp de Hollywood:

A década de 1920 também foi o auge do Cinema Expresionista Alemão, e o cinema mudo americano já tinha um ícone do horror, o ator Lon Chaney, que atuou nos filmes "O Fantasma da Ópera" (1925) e no "London After Midnight" (1927), assombrando a platéia.


 Lon Chaney, assustava a platéia com seus personagens perturbados.


O cinema expressionista alemão era sobre capturar humores e temas altamente estilizados em figurinos feitos para aparentar deliberadamente irreais ou surreais, explorando temas obscuros. E é lá que estão algumas obras de arte do cinema de horror como "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920) e "Nosferatu" (1922). Esses filmes não inspiraram apenas o cinema nos anos 30, mas também muito da estética do início da subcultura gótica.
O Cinema Expressionista Alemão tem clássicos como O Gabinete do Dr.Caligari e Nosferatu.

Nos EUA, o trono de "Queen of the Vamps" de Theda também foi da polonesa Pola Negri, que era tão escandalosa quanto suas personagens, sendo chamada de "viúva negra", pois muitos homens com que se envolvia, morriam. Em 1926, com a morte de seu namorado, o ator Rudolph Valentino, houve uma histeria das fãs e ela apareceu no funeral com uma roupa ultrajante, com um buquê nas mãos, desmaiando repetidamente em frente as câmeras pronunciando o nome do amante.

Mulheres que eram sensação no começo do século XX: a atriz polonesa Pola Negri e a excêntrica Marquesa Luisa Casati.



Outra mulher que se destacou nessa época foi Luisa Casati, uma moça bem nascida que se casou com um Marquês italiano em 1900. Theda Bara dizia "Eu acho que a maioria dos vampiros são mulheres obscuras...com cabelos vermelhos e olhos verdes como o das cobras". Essa era a perfeita descrição de Marchesa Casati, que usava gotas de veneno de beladona nos olhos para dilatar as pupilas. Anos antes de Theda aparecer com seu estilo vamp, Luisa já usava base branca pesada no rosto e olhos pretos carregados, além de ser magra e cadavérica. 
Luisa também tinha hábitos excêntricos como sentar à mesa com manequins de cera que continham as cinzas de seus amantes falecidos e usar colares que eram cobras vivas ou bebês guepardos. Sempre teatral e constantemente vestida de preto, de vez em quando recebia os convidados nua deitada em tapete de pele de urso ou mesmo dizia sentir calor e tirava as roupas quando via uma rival por perto. Sua notoriedade aumentou quando comprou o Palazzo Venier dei Leoni em Veneza e por lá caminhava acompanhada de suas onças vestida apenas de casaco de pele na escuridão da noite, sendo seguida por um empregado carregando uma tocha. Seu amor por animais criou a lenda de que eles eram seus amantes enfeitiçados, lenda alimentada pelos seus interesses pelo ocultismo que a fazia visitar Aleister Crowley com frequência. Patrona das artes, Luisa pagava artistas para a imortalizarem em fotos, pinturas e esculturas e contratava estilistas e joalheiros exclusivos para a adornarem. Seu amante Gabriele D´Annunzio, o último dos grandes escritores decadentes, a homenageou em suas personagens femme-fatalles, como na personagem do filme "The Devil´s Daughter" de 1915, no papel estrelado por Theda Bara. 
Em 1930 Marchesa Casati declara falência e nesse mesmo ano, um vampiro é revivido: Drácula, e torna o ator húngaro Bela Lugosi uma estrela. E em 1931, é a vez de Frankenstein, interpretado por Boris Karloff provar o gosto do sucesso. Ambos os filmes, fizeram o "Terror" se tornar um gênero cinematográfico pela primeira vez. Frankenstein fez tanto sucesso que foi feito uma sequencia "A noiva de Frankenstein". A atriz Elsa Lanchester, a noiva, de maquiagem glamurosa, sobrancelhas levantadas na ponta e cabelos de duas cores - inpirados na Rainha egípcia Nefertiti -, teve o look copiado no musical gótico "The Rock Horror Picture Show" de 1975 e até hoje inspira garotas góticas.
Drácula, de Bela Lugosi, foi o filme que teve um impacto mais óbvio na subcultura gótica. Tanto que, em 1979, a banda Bauhaus lança a música "Bela Lugosi is Dead". Com seu sotaque do leste Europeu, Bela Lugosi estabeleceu o cliché do uniforme vampiresco: terno preto e camisa branca, cabelos para trás e capa de ópera. Visual que ainda é evidente em fantasias de Halloween ou em góticos que tentam capturar a elegância de um velho mundo sinistro-chic.
A companheira de Bela Lugosi em Drácula, foi a atriz adolescente Carol Borland. O figurino de Carol, um vestido que se assemelhava a uma mortalha, maquiagem nos olhos e batom, cabelos escuros muito longos repartidos no meio, é descrito como "a primeira pin-up necrófila do cinema de horror".
Bela Lugosi e seu Drácula são até hoje ícones de estilo. Frankenstein interpretado por Boris Karloff é considerado o melhor filme da época.




Elsa Lanchester e seu visual Noiva de Frankenstein inspirado na Rainha egípcia Nefertiti.  Carol Borland, a adolescente cuja estética pode ser vista em góticas atuais. Gloria Swanson, a última vamp clássica de Hollywood.



Outro ícone gótico de 1930 foram os cartoons publicados pelo humorista Charles Addams em 1932: a matriarcal Família Addams. A femme fatalle Mortícia Addams apareceu pela primeira vez em 1938, curiosamente as duas ex-esposas de Charles Addams eram muito parecidas fisicamente com Mortícia, Charles disse: "Essa é a minha idéia de uma mulher linda". "Há um pouco de Gloria Swanson nela". Gloria Swanson foi uma das últimas atrizes  vamps clássicas de Hollywood.
Em 1942, uma coleção dos cartoons de Addams foi publicada. O humorista morreu em 1988 e A Família Addams virou filme na década de 90. Mas a herança televisiva mais forte da Família Addams aconteceu nos anos 50.

Família Addams, criada em 1932, inspira góticos ainda hoje.



Curiosidade: duas outras ícones de estilo da década de 20: Coco Chanel e Louise Brooks.


O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.

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4 comentários:

  1. Muito bom!!!! Amei saber um pouco sobre a Luisa Casati.

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  2. Então pelo que eu entendi as melindrosa não eram prostitutas e sim queriam independência do tradicionalismo?

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    1. Flappers não eram prostitutas, o local que você pegou esta informação está equivocado. Eram jovens mulheres que queriam e agiam de formas mais livres dos padrões pré-estabelecidos para a época. Era um comportamento similar aos das mulheres de hoje: dirigir, aplicar maquiagem, beber, dançar, usar roupas mais curtas - lembre-se que as roupas eram nos tornozelos.

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